Prof. Júlio César Medeiros

PROFESSOR DE HISTÓRIA

juliocesarpereira@id.uff.br

SOBRE

Júlio César Medeiros é Dr. em História da Ciência e da Saúde pela Fiocruz.  É professor de História Contemporânea com enfase em África, da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos e Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisa SANKOFA-UFF.

 

Aula 2: Homens e mulheres no tráfico atlântico – Dois pesos, duas medidas

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 24 Maio 2023

Na segunda aula do curso de extensão “A saga dos pretos novos”, mergulharemos profundamente na análise do tráfico atlântico de escravos, focando especificamente nas experiências e nas condições enfrentadas por homens e mulheres nesse contexto histórico. Abordaremos a temática sob a ótica da desigualdade de gênero, destacando as distintas realidades vivenciadas por cada um dos sexos durante essa terrível época.

O tráfico atlântico de escravos foi um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade, no qual milhões de indivíduos foram capturados em terras africanas e submetidos a um destino de exploração, violência e sofrimento. No entanto, é importante compreender que homens e mulheres enfrentaram diferentes experiências dentro desse terrível sistema.

Durante a aula, exploraremos como os homens escravizados eram frequentemente selecionados e tratados de maneira distinta das mulheres. Enquanto os homens eram vistos como força de trabalho braçal, destinados principalmente a trabalhos pesados nas plantações, as mulheres eram frequentemente exploradas também para o trabalho doméstico e sexual. Examinaremos as condições vivenciadas por ambos os sexos, destacando as formas de violência, as doenças, a falta de higiene e os impactos psicológicos decorrentes desse sistema desumano.

Além disso, discutiremos as estratégias de resistência adotadas por homens e mulheres escravizados. Veremos como, apesar das adversidades, esses indivíduos encontraram maneiras de preservar suas culturas, recriar formas de sociabilidade e resistir às opressões impostas. Abordaremos também as diferentes percepções de masculinidade e feminilidade dentro desse contexto, e como essas noções influenciaram a experiência de homens e mulheres escravizados.

Nesta aula, convidamos você a refletir sobre as diferenças de gênero no tráfico atlântico de escravos, reconhecendo a necessidade de uma análise mais aprofundada das experiências vividas por homens e mulheres. Ao compreendermos as nuances dessas realidades, poderemos construir uma visão mais completa e sensível do passado, contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária no presente.

Esperamos que você se junte a nós nessa jornada de conhecimento e reflexão, na qual iremos desvendar as complexidades da saga dos pretos novos e promover o resgate histórico de vozes silenciadas por tanto tempo. Prepare-se para uma aula enriquecedora e provocativa, que certamente ampliará sua compreensão sobre o tráfico atlântico de escravos e suas repercussões.

O mistério da estrela de Belém

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 24 dez 2022

Desde criança sempre fiquei intrigado com o céu e as suas estrelas.  Ficava horas por noite a olhar o brilho dos seres celestes refletindo no escuro céu azul. Pontos brancos refletindo ao longe.  Saber que estão a milhares de anos luz daqui, mais tarde, me deixou ainda mais confuso. Talvez tão intrigado quanto os cientistas hoje ao terem que explicar, a cada dezembro, o que foi que os magos virão no céu, no nascimento de Jesus. A famosa estrela da Belém.

O problema é que, cientificamente falando, não há prova de nenhuma de que tenha havido alguma  estrela cadente nesta época.

Também podemos descartar supernovas, pois  para serem vistas a olho nu, teriam que estar muito próximos, e além disto, elas deixa um vestígio que podemos detectar – mas os astrônomos não encontraram nada que datasse dessa época. Também não há outros relatos sobre isso, o que é estranho, já que muitas pessoas ficariam impressionadas com algo tão grande e brilhante no céu.

maior estrela ou planeta. Outras hipóteses referem-se às estrelas mais proeminentes em nosso céu noturno, como Vênus, Júpiter e Marte, ou Sirius (a estrela mais brilhante, na constelação do Cão Maior).

Alguns pesquisadores calcularam onde os Três Reis Magos iriam parar se os seguissem e nenhuma apontou para Israel. Por exemplo, Sirius levaria ao Polo Sul. Na verdade, se seguissem qualquer estrela, viva ou morta, provavelmente permaneceriam onde estavam. As estrelas nascem e se põem em nossos céus todos os dias, elas não param.

A resposta a este mistério, talvez seja que, o “magos” não seguiam um estrela, mas um conjunto de fenômenos no céu. Os “magos” provavelmente eram em parte astrônomos/astrólogos (os dois campos estavam intimamente relacionados há mais de 2.000 anos) e estavam interpretando o céu. Não por acaso eles eram babilônicos, a Babilônia possuía um avançado conhecimento avançadíssimo sobre as orbitas celestes e produziam mapas, calendários e representações celestes avançadíssimas. O fato de terem solicitado informações sobre os recém-nascidos quando chegaram à área sugere que talvez eles não tenham sido guiados ao destino final por um único corpo celeste.

Eles podem ter encontrado significado em certos arranjos de planetas e estrelas do qual Júpiter faria parte, pois  além de ser muito brilhante, também estava associado à realeza.

 A possibilidade mais astronomicamente plausível é que a Estrela de Belém seja resultado de uma conjunção – quando dois ou mais corpos celestes, como a Lua e um planeta, aparecem muito próximos em nosso céu, ou mesmo “se tocam” (do nosso ponto de vista). Linha de visão, uma vez que estão a milhares de quilômetros de distância no espaço). Esse tipo de evento pode durar dias ou semanas com pouca mudança de local. Se os Três Reis Magos seguirem uma conjunção, eles podem de fato terem sido guiados em uma direção particular. A Bíblia diz que eles viram o sinal do céu enquanto estavam em seu próprio país (Babilônia); quando eles deixaram Jerusalém para Belém, eles a viram novamente. Depois que encontraram Jesus, a estrela desapareceu.

O alinhamento com maior probabilidade de ter acontecido é a chamada conjunção tripla (quando aparece no céu três vezes em um curto período de tempo) entre Júpiter e Saturno – os dois maiores planetas do sistema solar. Isso é resultado de seu alinhamento com o Sol e a Terra – que em um ponto os ultrapassou, criando um movimento retrógrado pronunciado. Foi um evento raro (ou seja, impressionou os curiosos) e sabemos que aconteceu em dezembro do ano  6 d.C., segundo a matéria publicada na Tilt, de hoje, de onde retiro estes dados.

Seja como for, algumas coisas podemos trazer de lições sobre o evento.

1° Há indícios científicos de que este fenômeno tenha ocorrido;

2° Este fato atesta a avançada ciência babilônica;

3° Havia uma expectativa mundial (Pelo menos no mundo conhecido) pelo nascimento do Messias;

4° O próprio Israel não o estava aguardando, apesar de todos os sinais.

E hoje, depois de crescido, ainda fico olhando para o céu em dezembro e intrigado, passo o meu tempo escrevendo sobre isto … Vá entender.

Fonte:  Mistério de Natal: o que era a Estrela de Belém? Ciência tenta explicar… 24/12/2002. Marcelo Duarte – Tiltastrofalls

Foto de capa: @astrofalls

A 3ª é o fenômeno visto aqui no Brasil, registrado por  @alexsandromota805,

Conceição do Coité – BA

Cidadãos apáticos ou apenas excluídos do poder?

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 30 jun 2022

RESENHA

Por: Pollyana Feitosa – Aluna do 5° Período de História, Universidde Federal Fluminense.

CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. São Paulo: Companhia das Letras. [3ª ed., 2001.]

         O historiador e cientista político José Murilo de Carvalho nasceu em Andrelândia, Minas Gerais, no dia 8 de setembro de 1939. Graduou-se em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1965. Obteve seu mestrado e doutorado em ciências políticas na universidade de Stanford, com tese sobre  o Império brasileiro. Foi eleito para a Academia Brasileira de Ciências em 2003 e para a Academia Brasileira de Letras em 2004, tendo organizado e publicado 19 livros e mais de 100 artigos científicos. Suas pesquisas se concentram no Brasil Império e Primeira República, com destaque nos assuntos sobre a construção da cidadania brasileira e republicanismo ressaltando as suas especificidades. Suas principais obras são: A Construção da Ordem: A Elite Política Imperial publicado em 1980; Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi (1987); Teatro de sombras: A Política Imperial (1988); A formação das almas: O Imaginário da República no Brasil (1990). Em sua trajetória acadêmica ele recebeu cerca de 12 prêmios e medalhas, dentre eles o prêmio Jabuti de ciências sociais.

Capa do livro

Os bestializados e a república que não foi, livro objeto desta resenha, se tornou um clássico da historiografia brasileira, no qual o autor analisa o quadro de instauração do novo regime, a República. Vale a pena ressaltar, que o livro é dividido em cinco capítulos, 196 páginas e um interessante caderno de fotos ao final mostrando a visão da época. A escolha do autor de trazer estas ilustrações enriquecem a leitura e proporciona ao leitor uma experiência de imersão naquela realidade. Desse modo, o objetivo desta resenha é fazer um panorama dos capítulos e ressaltar a importância desta obra para a historiografia, seus engajamentos e metodologia.

Na introdução,  o autor deixa evidente que vai debruçar-se sob a cidade do Rio de Janeiro, delimitando o seu recorte temporal que vai da transição do Império para a República, chegando  até o governo de Rodrigues Alves. Ao discorrer da leitura, percebe-se que o autor dialoga com diversos intelectuais, isto por sua vez, também compõe a sua narrativa onde o autor evidencia a percepção que essas atores sociais tinham acerca do povo.

Logo no início do texto, Carvalho destaca uma frase dita pelo médico residente do Brasil, Loius Couty, que ao analisar a situação sociopolítica da população brasileira,  concluiu: “o Brasil não tem povo”. Carvalho ressalta que essa frase pode ser consequência de uma distorção elitista e de um etnocentrismo francês, pois a partir da Visão de Couty, fica subentendido que o povo brasileiro não tinha qualquer consciência política e alheio às transformações sociais que ocorriam naquele tempo. Portanto, o objetivo do autor é tentar o de tecer uma reflexão sobre a prática da cidadania no Brasil República.  

No primeiro capítulo, O Rio de Janeiro e a República, o autor explica que o objetivo dele é tentar descrever sumariamente a natureza das mudanças de transformações econômicas, sociais, política e cultural, e examinar as suas consequências para a vida dos fluminenses, enfatizando o impacto do novo regime, que de certa forma, estava ancorado na opinião pública. Carvalho analisa, portanto, dados de crescimento populacional, aumento do número de imigrantes, sobretudo portugueses, e as condições nas quais estes  trabalhadores tiveram que conviver e se adaptarem às novas condições de vida, baixos salários, falta de moradia, escassez de empregos, saneamento básico etc. Outro ponto importante levantado neste capítulo e que a historiadora Cidinha Brito ressalta em sua análise, é a questão da “Febre especulativa”

(…) após a abolição surgiram muitos problemas econômicos que, contribuíram para uma “febre especulativa”. Desde o império, vinha sendo emitido dinheiro para pagamento de salários, que agora os cafeicultores tinham que dispor. […] “por dois anos, o novo regime pareceu uma autêntica república de banqueiros, onde a lei era enriquecer a todo custo com dinheiro de especulação” (pág. 20). A inflação, a queda do câmbio, o aumento da imigração fez aumentar o custo de vida, além dos preços altos, os moradores da cidade do rio tinham de lidar com a constante disputa por trabalho, o que foi a causa do surgimento do movimento jacobino em 1898. (Cidinha Brito, 2016.)

No capítulo seguinte, República e Cidadania, o autor ressalta que o fim do Império e o início da República foi uma época caracterizada por uma grande movimentação no campo das ideias, que em geral foram importadas da Europa, gerando, portanto, uma grande confusão ideológica, tendo em vista que essas ideias na maioria das vezes eram mal absorvidas ou de certo modo incorporadas de forma seletiva. Carvalho aponta neste capítulo para o conceito de povo, sua existência, e o fato de ter sido útil na instrumentalização da atuação política em alguns setores que lutavam pela ampliação da cidadania. Nele, o autor analisa, ainda, os conservadores e os anarquistas.

No capítulo  Cidadãos inativos: a abstenção eleitoral,  Carvalho inicia o texto com abordando um ponto chave para o entendimento do contexto da época, ele destaca que a efervescência ideológica nos períodos iniciais da República e as conflitantes propostas de cidadania apontavam tanto para a insatisfação com o passado, quanto para uma incerteza em relação ao futuro. Não há dúvidas de que o comportamento político brasileiro era visto como apático, porém o autor chama a atenção da necessidade de se ter cuidado, evitando uma análise apressada que, sem uma visão crítica, tome a fala da elite como verdade.  O fato é que os estrangeiros buscavam no Brasil um cidadão ao estilo europeu, e se frustraram ao ver que o povo fluminense não se encaixava nos moldes eurocêntricos.   

Bonde virado por manifestantes durante a Revolta, em 1910.

No capítulo Cidadãos ativos: a Revolta da vacina, talvez o mais conhecido e citado dentre todo o livro, o objetivo do autor é tentar capturar o que seria a concepção dos direitos e deveres nas relações entre indivíduo e Estado, analisando a maior participação popular, a Revolta da Vacina, esclarecendo a composição popular insurgente e as suas motivações. Carvalho apresenta então o contexto social do Rio de Janeiro; as reformas urbanas; as obras públicas; a questão do saneamento básico e a polêmica da implementação da vacina obrigatória contra a varíola cunhado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, que, por ser obrigatórias gerou grande  agitação popular. Neste momento, com maestria, Carvalho, descreve ao leitor o que aconteceu durante a Revolta, dia após dia,  com riquezas de detalhes que reconstroem um cenário social caoticamente conturbado, e ressalta: “O mais importante era mostrar ao governo que ele não põe o pé no pescoço do povo”. (Carvalho, 2001:193).

No último capítulo, Bestializados ou bilontras? Carvalho ressalta que, evidentemente, havia algo no comportamento popular que ia de forma contrária ao modelo e expectativa dos reformistas tanto da elite quanto da classe operária, a ideia de cidadão ativo consciente de seus direitos e deveres capaz de organizar-se entre si. O autor salienta que o espírito associativo se manifestava nas sociedades religiosas e de auxílio mútuo, nas grandes festas onde a população entendia-se como uma comunidade. Em contrapartida, no âmbito da política a cidade não se reconhecia, segundo ele o citadino não era cidadão, portanto era inexistente a comunidade política o que explica a apatia do povo perante o Estado.

“No entanto, o povo não se envia politicamente, o poder não lhes fazia sentido nenhum, não levavam a república a sério. para eles, ‘o bestializado era quem levasse a política a sério, era o que se prestasse a manipulação’. Ao contrário do “quadro pintado” por Aristides Lobo ‘quem apenas assistia, como fazia o povo do rio por ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava longe de ser bestializado era bilontra’.”

(Cidinha Brito, 2016.)

Desse modo, Carvalho conclui retomando a discussão iniciada no início, em torno dos seguintes temas e suas interrelações:  o regime político; a  cidade; e a cidadania. Explica também que, a relação da república com a cidade só serviu para agravar o “divorcio” entre as duas e a cidadania. Para a maioria dos cidadãos o poder permanecia fora do alcance, e por isto o povo parecia um mero figurante nestas questões. Neste sentido, a partir do impedimento de ser ou fazer parte desta República, o povo formou várias repúblicas através das associações, instituições e manifestações sociais construído assim a sua própria identidade coletiva. 

À guisa de conclusão, podemos dizer que as fontes utilizadas pelo historiador são claras e o seu uso consistente, demonstra o seu vasto repertório. Seus argumentos e as suas análises são construídas de forma muito bem estruturada e os capítulos sempre se complementam. O autor faz uso de uma vasta fonte bibliográfica, além do uso de um vasto acervo documental. 

De modo geral, apesar de ter seu trabalho reconhecido no meio acadêmico e um constar entre os clássicos da Historiografia, ele pode e deve ser lido  pelo grande público, que encontrará uma linguagem clara e inteligente se tornando uma leitura obrigatória para todos os que quiserem entender o que foi a República que não foi.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. São Paulo: Companhia das Letras. [3ª ed., 2001.]

E. P. Thompson, “Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional”, Companhia das Letras, 1998.

E. P. Thompson, “A história vista de baixo”, Editora da Unicamp, 2001

Sites

BRITO, Cidinha. Livro de José Murilo de Carvalho destaca o fato da instauração do novo regime ter passado despercebido pela sociedade da época. Biblioo cultura informacional, 2016. Disponível em: https://biblioo.info/os-bestializados-rio-de-janeiro-e-a-republica-que-nao-foi . Acesso em 30 ago. 2021.

CARVALHO, José Murilo de. A nova historiografia e o imaginário da República. Revista do programa de Pós-Graduação em história, 1993. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/anos90/issue/view/599 . Acesso em 30 ago. 2021.

(mais…)

O desenvolvimento do Estudo da Arte Africana e os seus impactos sobre a arte europeia

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 21 out 2021
Sem Comentários

“Se a humanidade teve origem em África, é possível que também ali tenha surgido a arte.”

Frank Willet, Arte Africana, 2017.

Frank Willett (1925 – 2006), estudioso da considerado pela crítica especializada mundial autor da melhor introdução geral à arte africana.  Desde que lançou a sua obra: Arte Africana, em 1971, seu trabalho tem contribuído de forma singular para com estudo da arte deste continente antes tão mal compreendido.   Nela, Willett utiliza uma linguagem acessível, desconstruindo velhos estereótipos e estimulando-nos na busca pelo aprofundamento do conhecimento de África através da produção artística.

Neste breve artigo, farei um breve resumo da obra, para aqueles que quiserem conhecer mais o trabalho deixando minhas impressões e comentários, que poderão ser uteis aqueles de alguma forma, como algum tipo de apontamento. Fica claro que, nossa contribuição é ainda muito modesta perto do tamanho da obra e não se propõe a esgotar o tema, muito menos se coloca como uma análise exaustiva de um livro tão profundo quanto denso, um feito que demandaria uma pesquisa mais aprofundada e devidamente apresentada em círculos acadêmicos voltados para esta discussão.

Pelo contrário, este texto se coloca apenas como breve introdução, deixada aos meus alunos e colegas que, como eu, amam o continente africano e tudo o que ele produz. Espero que seja de algum proveito. Sendo assim, vamos as minhas observações.

Artefato africano, sem identificação do autor, em exposição no Museu Afro Brasil, em São Paulo

Neste texto, iremos analisar apenas o capítulo 2, por entender que seria aquele que melhor sintetizaria a forma como educadores e professores de História da África poderiam aproveitar suas contribuições acrescentando as suas aulas, uma visão inovadora e crucial para quebrar os preconceitos ainda existente em sala de aula em torno da arte produzida pelos africanos e as suas contribuições para o mundo.

Para produzir estas impressões, não apenas estudei o trabalho de Willet, quanto busquei me aprofundar no assunto, pesquisando e buscando informações com especialistas como o professor …. cuja agradável conversa, nos rendeu um podcast, que também está disponível nas plataformas digitais bem como neste meu site.

 O trabalho de Willett não apenas esclarece os contextos ecológicos e sociais da criação estética africana como também faz leituras altamente precisas de sua linguagem, suas estruturas seus estilos. De uma parte, mostra-nos, por exemplo, a relação entre floresta, tipos de madeira, sociedade sedentária e produção escultórica.

Capa da obra

No capítulo 2, intitulado “O desenvolvimento do estudo da arte africana”, aqui analisado, Willett apresenta uma crítica aos diversos estudos que abordavam a arte africana de acordo com a perspectiva eurocêntrica que reproduzia, ainda, uma noção de arte “primitiva”, se contrapondo a diversas descobertas no campo da arqueologia. Nesta seção, o autor demonstra, brilhantemente, que a sofisticação presente na arte africana não se trata-se de um esmero acidental, nem se encontra desconectada das ideias e práticas das populações africanas contemporâneas como sugeriram diversos pesquisadores europeus.

Na página 40, por exemplo,  o autor discute o termo primitivo, o qual segundo ele,  o termo “arte primitiva” tal como ficou conhecido é um legado dos antropólogos do século 19 que viam a Europa da época como ápice da evolução social, por isto, o mais correto seria dizer correto seria dizer arte africana tradicional ou arte tradicional africana segundo ele o termo primitivo refere-se a uma definição etnocêntrica que, não cabe em nossos dias tendo em vista que já carrega em si, uma hierarquia que coloca a produção africana em escala de inferiorização e preconceito.

Segundo ele, a forma mais antiga de arte que conhecemos é a rupestre não plástica ou seja pinturas entalhadas em superfícies de pedras lisas, as quais ainda, no início do século 20, tenham parecido menos  importantes que a escultura, embora os avanços mais estimulantes na arte africana contemporânea ainda encontram-se na pintura e nas artes gráficas, e não na escultura.

A partir da página 40 ele começa a traçar o desenvolvimento da história da Arte Africana. Ele ressalta que a primeira descoberta das pinturas rupestres da idade da pedra, na Europa, foi feita em Altamira no ano de 1878, mas não foi senão na primeira década do século 20 que sua antiguidade foi amplamente reconhecida. Um dos primeiros autores foi Gottfried Semper, que escreveu o livro o Estilo nas artes técnicas e tectônicas, ou estética prática que surgiu no início dos anos 1860.  Arquiteto, Semper estava interessado principalmente nas formas arquitetônicas sua premissa era de que uma vez que a primeira necessidade do ser humano era proteção para si e para a sua fogueira ele passou a trançar gramíneas para protegê-las do vento.  

Semper passou a desenvolver a ideia de que o homem teria desenvolvido a técnica do entrelaçamento produzido um padrão que o levou ao desenvolvimento das técnicas e dá de tecelagem. Essa linha de raciocínio que se baseava na ideia da busca deliberada de padrões foi convertida pelos discípulos de Semper em um sistema determinista e materialista usado para explicar todas as formas artísticas não ocidentais.

Willett acredita, e eu concordo, que este pensamento seja frágil demais, pois, segundo o que ele mesmo diz, Semper e seus seguidores não possuíam dados que sustentassem a esta hipótese. Seguindo neste desenvolvimento da Arte Africana construída por Willet, ele nos apresenta em seguida Max Schmidt, etnólogo que publicou seus estudos indígenas no Brasil central em 1905 nos quais demonstrou como os motivos desenvolvidos nas técnicas de entrelaçamento foram aplicados na decoração das cerâmicas. No entanto, segundo Willett, Schmidt, claramente, montou os dados para adaptá-los à hipótese de Semper, ao invés de construir hipóteses que se adequassem aos dados.  Smith ignorou por exemplo os motivos espirais e as linhas ondulantes que, embora geométricos, dificilmente teriam sido produzidos através do entrelaçamento em linha reta.  Esse teria sido que podemos chamar de uma fase marxista da história da arte africana.

Segundo Willett, esses primeiros estudos estavam preocupados exclusivamente nos ofícios. Willhen Worringer, historiador e teórico da arte alemã, publicou um estudo teórico filosófico em 1908 em que rejeitou essa base tecnológica de origem da arte.  Para Worringer toda a arte era basicamente uma expressão da volição, embora, muitas vezes, esta pudesse modificada pelo seu propósito. Ele era um evolucionista e estava convicto de que as primeiras formas artísticas de formas geométricas que conduziram de modo lógico inevitável ao naturalismo, portanto ele rejeitava que as pinturas figurativas rupestres do sul da França fossem obras de arte, e  repudiava “os feitos artísticos” dos africanos nativos “e da maioria dos povos primitivos”, excetuando-se apenas aqueles que exerciam dons ornamentais

O estudo do ornamento tomou uma nova direção com os trabalhos do antropólogo Franz Boas que publicou a obra “um estudo sobre a arte decorativa dos índios da Costa Norte do pacífico da América do Norte”, publicado em 1897 e mais tarde incluído em seu livro “arte primitiva” de 1927. Nunca é de mais lembrar, embora o autor não cite, Franz Boas vai alterar não apenas o curso da História da Arte Africana, como vida de um outro jovem sociólogo em visita aos Estados Unidos, Gilberto Freyre.

Nessa obra,  Boas demoliu a teoria da degeneração; sua obra se referia mais ao ornamento do que às culturas.  Boas acreditava que a arte não poderia existir antes que o artista desenvolvesse perícia suficiente para dominar o seu material e assinalava também que, embora a forma, assimetria e o ritmo, no conjunto, tenham um efeito estético em si mesmo, a forma também poderia transmitir sentidos, o quê acrescentaria um valor emocional acentuando-se o efeito.

Sensacional, e inovador para época, pois o africano poderia ser visto agora como uma pessoa, pois apenas pessoas são capazes de transmitir a emoção, possuem alma, algo impensado dentro da lógica determinista e evolucionista vigente no século anterior.

Boas dividia a arte em duas categorias: arte representativa, hoje conhecida como representacional; e simbolismo, anteriormente conhecida como geométrica. Para ele, na arte representativa: forma e conteúdo são igualmente importantes, enquanto na arte simbólica o conteúdo é muito mais importante que a forma.

Tais estudos levaram à conclusão importantíssima, a de que a mesma forma pode transmitir distintos significados em diferentes sociedades,

ou seja, forma e conteúdo não podem ser considerados separadamente em estudos de desenvolvimento ao longo do tempo.

Mas um outro clássico, de maior alcance do que os já citados, por situar os problemas da arte e da decoração no contexto mais amplo da cultura material, foi o trabalho do antropólogo R. U. Sayce. Em seu livro Artes e ofícios primitivos ele, de maneira ampla e critica, baseado em estudos anteriores, fez menções cautelosas sobretudo à convergência de desenhos para os clientes de fontes totalmente distintas.

Como característica geral desse primeiro momento, além de podemos citar o forte apelo marxista é o de concordarmos com o fato de que as técnicas de tecelagem, seja em esteiras ou cestos, tendem a produzir motivos de caráter geométricos, o que podemos chamar de “tecnomorfos”, ou seja, a forma que derivada da técnica. Portanto é provável que qualquer sociedade tenha desenvolvido seus próprios “tecnomorfos”, ou seja, as diversas manifestações de tecnologia em uma dada sociedade.

“como existe uma forte possibilidade que tais motivos tenham uma origem independente dentro da sociedade, são inadequados como indicadores da influência de uma sociedade sobre a outra”

(Frank; 2017, P. 43).

O estudo da escultura como algo distinto do ornamento começou nos últimos anos do século 19 quando a maior parte da literatura seguia uma das duas abordagens, a etnológica, similar a de Franz boas ao considerar que o conhecimento do conteúdo de uma obra de arte é fundamental para sua compreensão e até para sua apreciação, e a noção estética, que acreditava que tal conhecimento era desnecessário para sua apreciação. Segundo Frank as duas escolas têm se aproximado gradualmente, antropólogos vem prestando atenção à história da arte, e os críticos de arte tem prestado mais atenção ao contexto cultural da arte africana “afinal, dificilmente seria possível separar a forma do conteúdo em sociedades nas quais o artista é um membro integrante da comunidade, não um indivíduo empenhado em expressar uma visão puramente pessoal.” (Página 45, 46)

Segundo Frank os antropólogos a princípio, tratavam as culturas apenas com um elemento religioso, mas com o tempo passaram anotar a divergência das proporções naturais reveladas nas peças. Um destes primeiros antropólogos foi Léo Frobenius que em 1896 escreveu sobre a arte dos povos não europeus sugerindo que estes possuíam o impulso de copiar formas naturais e que tais cópias transmitiam ideias e significado, ou seja, que seu conteúdo conferia significado a forma. Essas reações são culturalmente determinadas, por isso a forma tem aquele significado apenas para a sociedade a qual pertence.

“Mas foi somente entre 1904 e 1905 que a arte africana começou a produzir o impacto significativo” (Página 47.) Foi quando Derain comprou uma peça africana e  mostrou-a a Picasso e Matisse que também ficaram bastante impressionados com ela. A revolução da Arte do século XX estava em curso ali,

 O autor, então, passa a descrever o impacto da arte africana sobre os trabalhos de artistas europeus como: André Derain, Henri Matisse, Georges Braque, Pablo Picasso e Juan Gris. Ao final, ele alerta para o fato de que mesmo quando artistas e pesquisadores europeus e norte-americanos abordaram a arte africana com benevolência, ainda assim estavam imbuídos de pensamentos etnocêntricos que não levam em consideração os propósitos das comunidades e dos indivíduos africanos que produziram as obras. 

Por tanto, o trabalho de Willett, sobretudo neste capitulo aponta para para o fato de que, mesmo quando artistas e pesquisadores europeus e norte-americanos, tratam  a arte africana com afeição, isto não quer dizer que estejam livres de prejulgamentos etnocêntricos que, por sua vez, desconsideram os propósitos das comunidades e dos indivíduos africanos que produziram as obras, ou seja, o meio social em que a obra foi produzida.

A obra de Frank Willet nos ajuda a pensar como o preconceito estava presente no inicio da História da Arte, em relação à produção do continente africano, e como tal pensamento permaneceu mesmo durante o século 20, em confronto com estudos etnológicos que procuraram vencer tais amarras e libertar as amarras que prendiam o espirito criativo africano ao conceito de primitivo e usual.

Referência bibliográfica:

Fiorotti, Silas. A sofisticação da arte africana não é mero acidente. Revista A Pátria, 13/03/2021.  Disponível em: https://apatria.org/cultura/a-sofisticacao-da-arte-africana-nao-e-mero-acidente/

Willett, F. African Art. 3.ed. London: Thames & Hudson, 2003. [Edição brasileira: Edições Sesc / Imprensa Oficial, 2017.]

Bibliografia

Einstein, C. Negerplastik [Escultura negra]. Florianópolis: Edufsc, 2011 [1915];
Munanga, K. A dimensão estética na arte negro-africana tradicional. In: Página do MAC-USP, São Paulo, 07/6/2006.;

O’Neill, E.; Conduru, R. (orgs.). Carl Einstein e a arte da África. Rio de Janeiro: Eduerj, 2015.
Price, S. Arte primitiva em centros civilizados. Rio de Janeiro: Edufrj, 2000.

As bases do Imperialismo Global

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 09 jul 2021
Sem Comentários

The New Black Cemetery

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 07 abr 2021

Foto do poço de sondagem da pesquisa arqueológica no Cemitério dos Pretos Novos

Many years ago, in the African continent, millions of Africans were brought to other countries within the condition of slavery, from which came the origin of the African Diaspora.

Nearly 10 million of the African slaves were brought to the Americas. Of these 10 million, 6 million were brought to Brazil to labor in sugarcane fields, in the mines and on coffee plantations. Of the Africans who were brought approximately 60% were sent to the Southeast region. Many of these Africans were from the linguistic and cultural group known as the Bantu.

Upon disembarking from the slaveship in Valongo, in the city of Rio de Janeiro, the enslaved were inspected at the Customs, counted and landed in the direction of the slave markets in Valongo. Those who arrived dead, or died in the sale stalls, were taken to the  Black New Cemetery (Cemitério dos Pretos Novos).

In the Cemetery of the New Blacks, the bodies of the enslaved newcomers were never buried. They were left to the ground until they were burned and dismantled so that more bodies could fit. This deal shows that for Brazilian society at the time, slaves were “nothing” but bodies to be discarded in order to rot and smell, nonetheless for the African culture to which they belonged, being buried in the cemetery of the New Blacks meant a cut in their ancestral lineage that would prevent them from being resurrected in Africa.

Several travelers, among them Freireyss, scandalously described the Cemetery of the New Black and how those slaves were buried because there was no indication that the enslaved were decently buried.  It is estimated that from 1769 to 1830, the date of its extinction, about 60 thousand enslaved people were buried there, despite the space of a small block of 50 fathoms.

Imagem de funeral africano no Brasil

During 1824 to 1830, the Cemetery of the New Black buried around 6.000 bodies in such small area. In the Livro de Óbitos da Freguesia de Santa Rita there are death recording which may be found a list of respective ships, ethnics and ports of origin, age, and the marks of slave masters on their bodies. In 1830 the cemetery was closed because of the anti-slave trade law and its location was lost.

But, in January of 1996, a house located at 36 Pedro Ernesto Street, in Gamboa was surprised by a great discovery. During the works, the bones of the enslaved were found. the cemetery had been rediscovered. Since then, the family of Mr. Petrucio and Mercedes, owners of the property, along with several volunteer researchers have been striving to keep the memory of Africans buried there alive.

Recently, the team of archaeologists discovered the first complete bone there, a young, African, enslaved woman who was named Bakhita in honor of the Catholic saint who fought slavery in Africa.

Visão frontal da escavação que mostra Bakhita

In conclusion, the cemetery of the new blacks was and still is the indisputable proof of slavery and the way in which human beings treated people they believed to be inferior due to their condition of enslavement uprooted from the African continent.

(mais…)

Aspectos da Arte Africana

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 19 mar 2021
Sem Comentários

Meu Podcast

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 13 mar 2021
Sem Comentários

Vídeo aulas de História da África, africanidades e negritude

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 13 mar 2021

A cartografia da ÁFrica

Conheça as regiões da África

África, o berço da humanidade (História da África Antiga)

O homem nasceu na África porque o continente oferecia (e continua oferecendo) uma diversidade de ambientes propícios para a sobrevivência de primatas. Ao contrário de outras regiões do planeta, onde o…
Leia mais em: https://super.abril.com.br/historia/por-que-a-africa-foi-o-continente-ideal-para-gerar-a-humanidade/

O cemitério dos Pretos Novos_prof. Dr. Júlio César Medeiros, autor do livro à flor da terra

O cemitério dos Pretos Novos_prof. Dr. Júlio César Medeiros, autor do livro à flor da terra

“O cemitério destinava-se ao sepultamento dos pretos novos, isto é, dos escravos que morriam após a entrada dos navios na Baía de Guanabara ou imediatamente depois do desembarque, antes de serem vendidos. Ele funcionou de 1772 a 1830, no Valongo, faixa do litoral carioca que ia da Prainha à Gamboa.

Funcionara antes no Largo de Santa Rita, em plena cidade, próximo de onde também se localizava o mercado de escravos recém-chegados. O vice-rei, marquês do Lavradio, diante dos enormes inconvenientes da localização inicial, ordenou que mercado e cemitério fossem transferidos para o Valongo, área então localizada fora dos limites da cidade.

O Valongo entrou, então, para a história da cidade como um local de horrores. Nele, os escravos que sobreviviam à viagem transatlântica recebiam o passaporte para a senzala. Os que não sobreviviam tinham seus corpos submetidos a enterro degradante. Para todos, era o cenário tétrico do comércio de carne humana.”

Nazismo e fascismo, os pesadelos que não passam

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 05 nov 2020
Sem Comentários

Por: Prof. Dr. Júlio César Medeiros da Silva Pereira[1]

O mundo tem sido, nos últimos anos, aterrorizado pelo fantasma do nazismo e do fascismo. O movimento antifas, termo abreviado de antifascismo, que dá nome a um movimento político dedicado ao combate o fascismo é um sintoma de que permanece vivo, ainda que, de certa forma escondido, um movimento fascista, do contrário, não teríamos visto milhares de adesões ao movimento em vários grupos de redes sociais. Onde há fumaça a fogo.

O objetivo deste texto é o de tentar traças algumas mudanças e permanências entre o que teriam sido estes regimes totalitários e como e suas permanências, posto que, embora não percebido por uma grande parcela da população, se não existe de fato, ou seja, reconhecidamente legal, seus conceitos permanecem vivos, infelizmente, na sociedade[2]. De um lado, pessoas defendem que tais regimes não podem ser vistos anacronicamente, descontextualizados de sua época e tempo, de outro, muitos acreditam que as sim. Eles estão bem vivos e assombrando a atualidade. Para sair deste impasse, recorramos a História e vejamos analisemos o que eles foram e representaram,  seus ideários e propostas a fim de identificarmos seus vestígios a fim de comprovarmos, se que é possível a sua existência hoje.  Para tantos, iremos fazer uma reconstrução histórica do que foram estes movimentos em seu contexto e os indícios da sua permanência no tecido social de uma forma global, a fim de compreendermos os seus malefícios e a importância do conhecimento do passado para podermos superar e neutralizar suas ações.  

O mundo Pós 1ª Guerra Mundial

O fim da 1ª Guerra trouxe diversas mudanças para o mundo, principalmente para a Europa. Os altos custos da guerra levaram todas as potências europeias a uma grave crise econômica. Este fato  culminou com a ascensão dos EUA como a maior potência industrial, financeira e bélica do mundo.

Além disto, as mulheres ganharam as ruas. Como grande parte da população masculina europeia participou da guerra, as mulheres conquistaram um espaço no mercado de trabalho. Após a guerra, elas continuaram exercendo suas funções em lojas, fábricas e etc., porém com salários inferiores ao dos homens, desigualdade que se perpetua até os dias de hoje, em muitos setores.

A situação política na Europa também se complicou, visto que surgiram novas correntes políticas diferentes das democracias liberais que governavam a Europa antes da guerra. Nas décadas de 1920 e 1930, o mundo assistiria perplexo o surgimento de movimentos extremistas e autoritários como os  Fascismo e Nazismo.  

Também é importante lembrar que o fim da guerra marcou também o fim dos grandes impérios europeus como o Império Alemão, o Império Áustro-Húngaro e o Império Turco-Otomano. O fim destes impérios deram origem ao surgimento de diversos pequenos países e de conflitos armados em pequenas escalas na região dos Balcãs, em que minorias étnicas foram massacradas dando origem a uma forte migração populacional em direção aos países que gozavam de maior estabilidade.

Terminada a Primeira Guerra Mundial, os países envolvidos, tentando minorar a grave crise econômica,  iniciaram um processo de restauração numa tentativa de recuperação. Inglaterra e França recuperaram-se nos primeiros anos da década de 1920, contando com empréstimos concedidos por diversos países, principalmente
os Estados Unidos, que possuía interesses em impedir a escalada socialista provida pela URSS, a partir de 1917, que emprestou cerca de US$ 162 bilhões atuais[3]. Com isto, a economia norte americana se fortaleceu em detrimento dos países europeus, uma vez que grande parte deste capital emprestado era justamente para se comprar produtos americanos. Ao longo das décadas, a Bolsa de Nova Iorque superaria a de Londres e o estoque de ouro dos aliados fortaleceu o dólar elevando a moeda americana, mais tarde, ao mesmo nível do ouro.

Já a Alemanha passou por inúmeras dificuldades; era difícil reconstruir o país com as pesadas indenizações que deveriam pagar às nações vencedoras, conforme foi estabelecido no Tratado de Versalhes, mesmo tendo suas contas constantemente revisadas. Por ele, ingleses, franceses e americanos estabeleceram pesadas taxas sobre os alemães, em 28 de julho de 1919, dia da rendição alemã.

Baseado neste tratado, a Alemanha reconhecia ser a causadora do confronto; teria de devolver Alsácia Lorena aos franceses; entregar parte de seu território nacional dando origem a Polônia. No campo bélico, a Alemanha seria proibida de possuir uma marinha e ter uma aviação de guerra;  não teriam artilharia pesada; nem poderia promover o alistamento militar; seria também impedida de ter um exército com mais de 100 mil soldados e a Renânia, na fronteira da Alemanha com Bélgica e França, seria desmilitarizada permanentemente. Mas o golpe mais severo ainda estava por vir.

A indenização de guerra previa o pagamento de 20 bilhões de marcos-ouro, mas, pouco tempo depois, franceses e ingleses estavam exigindo mais de 200 bilhões de marcos-ouro dos alemães. Fato que agravou a crise econômica alemã dando combustível para o partido nazista pregar a desobediência em relação ao Tratado de Versalhes. No fim das contas, foram os Estados Unidos,  a nação que mais lucrou com o conflito, emprestavam dinheiro a diversos países, incluindo a Alemanha, para que ela pudesse recuperar sua economia e pagar suas dívidas.

Mas o Crack da Bolsa de Nova Iorque seria um fator fundamental que ajudaria aprofundar esta crise. A Crise de 1929, que ficou popularmente conhecida como a Grande depressão, constituía-se de crise de super produção, que reverberou mundialmente afetando os países periféricos e, principalmente os europeus que tentavam se reerguer após a guerra.  Tal crise gerou desemprego em massa; a falência de várias empresas; aumento da pobreza. Tal fato será o principal combustível para a ideologia nazista e fascista que acusará o capitalismo como umas das principais causas da forte crise econômica por que passava os europeus.

A crise do modelo de governo democrático e a queda do liberalismo

Foi neste cenário que a democracia começou a entrar em crise. Iniciou-se uma crescente descrença da população em relação a democracia como o melhor caminho para se superar a crise. Então, o poder dos governos democráticos em resolver os problemas que se apresentavam começou a ser posto em xeque. Surgiram movimentos que propunham alternativas ao regime democrático e que se opunham ferozmente ao Socialismo e ao Comunismo.

Para os membros desses movimentos, somente um líder enérgico seria capaz de tirar as nações da crise, ainda que, para isso, fosse necessário cercear algumas liberdades individuais. Eram movimentos  de cunho autoritário, com a expressão da vontade de um líder sobreposta à escolha dos cidadãos;  e nacionalistas, de modo que os interesses da nação ficavam acima dos indivíduos. Em países como a Itália e Alemanha, a crise econômica foi usada como elemento propulsor de discursos inflamados que apontavam a modernidade, a democracia e tanto o capitalismo quanto o comunismo como os culpados pela crise instaurada. Vejamos primeiro o caso da Itália.   

Não sem razão, Eric Hobsbawm chama este período como “Era da Catástrofe” (HOBSBAWM, 1997), período no qual, segundo ele, os sobreviventes do século XIX viram o colapso dos valores  e instituições de cunho liberal ruírem. A desconfiança em relação à ditatura se esvaziava enquanto a ideia de se dar super poderes a lideres em detrimento das liberdades individuais e de expressão tomava cada vez mais força na Europa do pós guerra.

Ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Itália, apesar de pertencer ao grupo das nações vencedoras, não teve tantas vantagens como as demais, diga-se Estados Unidos, França e Inglaterra. A situação interna do país se tornou caótica.  Dos despojos da guerra não lhes sobrou nada, pois  não entrara na partilha do território alemão a despeito de estar prevista a divisão com ela nos tratados de paz. A guerra também lhe trouxe pesadas baixas, foram mais de 600 mil mortos e 1 milhão de feridos. Após o conflito, os soldados egressos não encontraram trabalho nem ocupação. No campo econômico a inflação destruía o poder de compra dos italianos agravando a carestia e a fome. Diante de tantos problemas a população questionava a validade de guerra e, cada vez mais, mostrava-se insatisfeita com o governo vigente.

Em 1919 o movimento Fascio di Combattimento surge liderado pelo jornalista Benito Mussolini. O grupo era composto por ex-combatentes e desempregados que defendiam ideias nacionalistas, autoritárias e anticomunistas. Não demorou muito e Mussolini conquistou adeptos em toda a Itália, de modo que em 1921 foi formado o Partido Nacional Fascista.

Em 1922, militantes fascistas marcham até Roma, ocupam prédios públicos e estações de trem. Como resultado da Marcha sobre Roma, o rei convida Mussolini ao cargo de primeiro-ministro. Mussolini passa então a reunir poderes cada vez maiores até que, em 1928, o fascismo se torna uma ditadura comandada por ele. O seu sonho era do restaurar a antiga ordem, baseada na grandeza do império romano, e um ideal que, caso fosse expressa pela frase “A Itália vai voltar a ser grande”, não estaria errada, pois no cerne da questão, estava a ideia da restauração de de um passado imperial de glória. O termo fascismo deriva de fascio, mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do  povo.  Pelo mundo, Mussolini e os camisas verdes, como eram chamados os fascistas italianos, inspiraram governos: na Espanha, Franco; no Brasil, Getúlio Vargas, no seu Estado Novo e o Integralismo; e na Alemanha, Hitler. De fato, o vento autoritário foi tão forte que de 1918 a 1920 dezenas de Assembleias legislativas foram fechadas e durante o período entreguerras, os únicos países que mantiveram suas democracias funcionando ininterruptamente foram Grã-Bretanha, a Finlândia, o Estado livre Irlandês, a Suécia e a Suíça.

Na Alemanha, o fascismo assumiu sua forma extrema, o nazismo. Em 1918, o Imperador Guilherme II renuncia ao trono abrindo caminho para a proclamação da República na Alemanha. Um ano depois, revolucionários socialistas tentam tomar o poder, mas são derrotados e seus planos são frustrados. Tem Início a República de Weimar.

Em 1920 é Fundado do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (partido nazista). Estimulado pela Marcha sobre Roma, feita por Mussolini, Hitler incita os nazistas a ocupar a cidade de Munique. A tentativa fracassa e Hitler é preso. Na cadeia, Hitler inicia a escrita de sua obra Mein Kampf (minha luta), contendo as ideias racistas que disseminavam o mito ariano, xenófobas, antissemitas, anticomunistas e da necessidade de um espaço vital, ou seja um espaço natural para desenvolvimento total da nação alemã para além de suas fronteiras. Mais tarde,  o livro se tornaria a Bíblia do Nazismo, o livro de cabeceira da maioria dos alemães e formador da ideologia nazista.

Em 1932, O Partido Nazista ocupa mais de um terço no Parlamento alemão. Em 1934, Hitler torna-se presidente da república e dá início ao Terceiro Reich,  termo cunhado pela propaganda nazista, baseado no sonho de de fundação de um terceiro império alemão. O primeiro havia sido o Sacro-Império alemão, o segundo teria sido o Império Alemão e o terceiro seria este, o dos nazistas.  

Segundo Eric Hobsbawm, estas forças que mobilizaram os ideários fascistas e nazistas possuíam em comum as seguintes características que os uniam: todos eram autoritários e contra a subversão da velha ordem social, caçavam socialistas e comunistas;  todos eram hostis às instituições políticas liberais; todos além de serem reacionários anacrônicos também eram todos nacionalistas ao extremo.

Cabe lembrar as características comuns entre estes regimes totalitários que, grosso modo, baseava-se no(a): O poder estava concentrado nas mãos do Estado; Extinção das liberdades individuais e coletivas; Uma Forte repressão e controle sobre a vida pública e privada; Controle dos meios de comunicação a fim de usá-la para a propaganda política; perseguição aos comunistas e socialistas; caça aos homossexuais, judeus, ciganos e imigrantes.

O horror do holocausto

O antissemitismo nazista foi responsável por um dos maiores genocídios da História. O chamado holocausto refere-se ao extermínio de mais de 6 milhões de judeus nos campos de concentração nazistas. A perseguição aos judeus na Alemanha, na verdade havia iniciado em 1933, embora já houvesse sinal de que algo muito ruim estava por ocorrer com os judeus, desde a publicação do livro de Hitler, Main Kampf, em 1926, quando ele saiu da prisão. Agora, judeus também foram impedidos de ocupar cargos públicos e obrigados a usar uma estrela de Davi na roupa como identificação. Depois foram proibidos de se casarem com ditos “arianos”, como se autodenominavam os alemães, numa tentativa de unirem através do mito, a antigos antepassados e assim manifestar a sua “pureza” racial. A eugenia estava no auge e o mito de uma pureza racial parecia inabalável, afinal, cada vez, mais a ciência, de certo modo, caminhava neste sentido. Ela, que foi um movimento que acreditava piamente na perfectibilidade humana a partir da genética, a eugenia incentivou a “seleção da espécie“: o cruzamento entre indivíduos ditos “puros e superiores”, reverberando pelo mundo inclusive no Brasil[4].

Contudo, esta “pureza” de raça foi tão inventada quanto todos os outros mitos propalados pelos regimes totalitários. Até 1898, não havia um nome para ela, pois só então que foi cunhado o termo “nórdico” que, por sinal,  não se furtou em aceitar pesquisas eugênicas, que obviamente lhes eram favoráveis para embasar tal superioridade e, em muitos casos ditar este viés cientifico como moderno, ainda que nutrisse um forte desprezo à modernidade, algo contraditório, mas próprio de tais movimentos que separam apenas o que lhes seja útil, e onde os fins justificam os meios. Valores conservadores, propaganda de massa, ideologia de barbarismo irracionalista, dentro de um nacionalismo exacerbado deu tom ao horrores que estava prestes a ser descortinado diante dos olhos do mundo.

No auge da 2 Guerra Mundial, eles já estavam confinados em campos de concentração, onde eram submetidos a trabalhos forçados produzindo apetrechos para a guerra e sendo cobaias para testes científicos regados com requintes desumanos. Ali, com alimentação insuficiente e sem condições de higiene e saúde, morriam aos milhares no que Hitler havia denominado de Solução final, (do alemão Endlösung der Judenfrage), um plano nazista que tinha como meta o genocídio da população judaica nos territórios ocupados pelos alemães.   

Mas não apenas judeus estariam nestes campos de trabalhos e morte forçados, mas grupos minoritários considerados “indesejados”, como os eslavos, testemunhas de Jeová, poloneses, ciganos, negros, homossexuais, pessoas com necessidades específicas tanto físicas quanto mentais, foram perseguidas e exterminadas, mas apesar da perseguição aos judeus ser conhecida, o genocídio e suas proporções somente foi descoberto ao final da guerra, quando os exércitos aliados começaram a libertar os prisioneiros e se depararam com milhares de prisioneiros subnutridos e cadáveres abandonados ao ar livre.

De fato, a xenofobia foi um caráter marcante deste período. Acirrada pela forte crise econômica por que passou a Europa após a 1ª Guerra, milhões de pessoas migraram de um país para o outro em busca de melhores condições de vida. Cruzando fronteiras estrangeiras, singrando mares e todos os cantos, homens e mulheres deixavam os países periféricos em direção países que lhes dessem melhores condições de trabalho. Tal fato acirrou o “medo” do outro, na figura do estrangeiro, das minorias, dos sem pátria e sem território. Vistos como escórias e pessoas não gratas, poloneses, ciganos, armênios, curdos, eslavos e outras minorias étnicas foram tachadas como ameaças competitivas pelo pão escasso. Juntavam-se a um novo exército da classe trabalhadora disputando trabalho e quando ascendiam economicamente como os judeus, chegavam a ser os donos empresas e fábricas onde os próprios alemães trabalhavam, o que por fim retroalimentava o ódio contra seu povo e servia de justificação para que sofressem saques e roubos. O fim do século XIX introduzia a xenofobia de massa.

Mas não podemos esquecer um outro elemento tão marcante como esclarecedor, que faz lembrar os tempos presentes em que algumas igrejas evangélicas e católicas parecem apoiar discursos autoritários e/ou reacionários. Na Europa do entreguerras, a Igreja Católica Romana, a despeito de suas discordâncias com o totalitarismo em alguns pontos guardava uma estreita concordância. Ambos “nutriam um ódio comum pelo Iluminismo do século XVIII, pela Revolução Francesa e por tudo que derivava dela: democracia, liberalismo e, claro, mais marcadamente, o “comunismo ateu”[5].

E hoje?

É claro que não se pode, de forma alguma, tentar enquadrar o presente no passado, ou reviver tais fantasmas com as roupas do hoje. Mas existem indícios muito forte de que, pelo menos, no subterrâneo do tecido social vigente, existam ranhuras que deitam suas raízes nas mesmas ideias que foram propaladas no período entreguerras. Ideias como a do racismo, do nacionalismo, do antissemitismo e do anticomunismo estão presentes ainda hoje.

Uma releitura enviesada do passado, negacionista que nega o holocausto, rechaça os direitos das minorias étnicas e suas demandas são pontos que ligam o tempo presente a este passado não muito distante. Hoje, como ontem, não é difícil encontrar apoio para ideias que negam que a escravidão tenha sido maléfica, que acreditam num ideário cuja raiz recorre a um passado de glória que nunca existiu. A perseguição ao diferente, discrepante ou que não encaixa no jogo moral vigente, seja da ordem do gênero ou de classe é perseguido e vistos como os inimigos da nação.

Por tudo isto exposto, e guardadas as devidas proporções, não se pode negar que os indícios totalitários estão aí, ainda que inconscientemente. O discurso é sedutor e propõem medidas simplórias. Eleger um inimigo, eliminá-lo quando possível for, em nome da restauração da ordem vigente que é, logicamente excludente, guarda certa relação com os fatos históricos vivenciados na Europa do entreguerras.  

Este artigo não tem por objetivo afirmar a existência de regimes totalitários hoje, mas o de, através da História apontar as devidas semelhanças entre o agora e o que se foi, no sentido de alertar a cada um de nós sobre o perigo do retorno destes males sociais. Sobretudo porque, algo que não se pode negar e que a História demonstrou é que ambientes de forte crise social  e econômica é um campo fértil para o surgimento de lideranças autoritárias e regimes antidemocráticos.  Quando isto acontece, fantasmas reaparecem no imaginário transvertidos de ordem.  

Referências bibliográficas

Arendt, Hannah (2013) [1951]. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letra.

HABIB, Paula Arantes Botelho Briglia. Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato criou: raça, eugenia e nação. 2003. 175 p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/281539>. Acesso em: 3 ago. 2018.

HOBSBAWM, Eric (2015). A era dos impérios: 1875-1914. São Paulo: Paz e Terra.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremoso: o breve século XX, 1914-1991, 2ª edição. São Paulo; Companhia das Letras, 1995.

RICHARD, LioneI. A República de Weimar (1919-1933). São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Fontes online:

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/the-final-solution

https://www.rfi.fr/br/europa/20181112-como-primeira-guerra-mundial-arruinou-economia-da-europa


[1] Texto elaborado para as aulas de Historia Contemporânea II, ministradas na Univesidade Federal Fluminense, 2020.

[2] Veja matéria sobre o neonazismo https://www.politize.com.br/neonazismo-o-rosto-do-nazismo-na-atualidade/

[3] https://www.rfi.fr/br/europa/20181112-como-primeira-guerra-mundial-arruinou-economia-da-europa

[4] Sobre a eugenia no Brasil, veja o excelente trabalho de Paula Habib  https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548210412_156d47b6171e9a5e966d70ae2f48227b.pdf

[5] HOBSBAWM, Eric. Era dos extremoso: o breve século XX, 1914-1991, p.118.  

Translate »
Skip to content