Prof. Júlio César Medeiros

PROFESSOR DE HISTÓRIA

juliocesarpereira@id.uff.br

SOBRE

Júlio César Medeiros é Dr. em História da Ciência e da Saúde pela Fiocruz.  É professor de História Contemporânea com enfase em África, da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos e Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisa SANKOFA-UFF.

 

O mistério da estrela de Belém

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 24 dez 2022

Desde criança sempre fiquei intrigado com o céu e as suas estrelas.  Ficava horas por noite a olhar o brilho dos seres celestes refletindo no escuro céu azul. Pontos brancos refletindo ao longe.  Saber que estão a milhares de anos luz daqui, mais tarde, me deixou ainda mais confuso. Talvez tão intrigado quanto os cientistas hoje ao terem que explicar, a cada dezembro, o que foi que os magos virão no céu, no nascimento de Jesus. A famosa estrela da Belém.

O problema é que, cientificamente falando, não há prova de nenhuma de que tenha havido alguma  estrela cadente nesta época.

Também podemos descartar supernovas, pois  para serem vistas a olho nu, teriam que estar muito próximos, e além disto, elas deixa um vestígio que podemos detectar – mas os astrônomos não encontraram nada que datasse dessa época. Também não há outros relatos sobre isso, o que é estranho, já que muitas pessoas ficariam impressionadas com algo tão grande e brilhante no céu.

maior estrela ou planeta. Outras hipóteses referem-se às estrelas mais proeminentes em nosso céu noturno, como Vênus, Júpiter e Marte, ou Sirius (a estrela mais brilhante, na constelação do Cão Maior).

Alguns pesquisadores calcularam onde os Três Reis Magos iriam parar se os seguissem e nenhuma apontou para Israel. Por exemplo, Sirius levaria ao Polo Sul. Na verdade, se seguissem qualquer estrela, viva ou morta, provavelmente permaneceriam onde estavam. As estrelas nascem e se põem em nossos céus todos os dias, elas não param.

A resposta a este mistério, talvez seja que, o “magos” não seguiam um estrela, mas um conjunto de fenômenos no céu. Os “magos” provavelmente eram em parte astrônomos/astrólogos (os dois campos estavam intimamente relacionados há mais de 2.000 anos) e estavam interpretando o céu. Não por acaso eles eram babilônicos, a Babilônia possuía um avançado conhecimento avançadíssimo sobre as orbitas celestes e produziam mapas, calendários e representações celestes avançadíssimas. O fato de terem solicitado informações sobre os recém-nascidos quando chegaram à área sugere que talvez eles não tenham sido guiados ao destino final por um único corpo celeste.

Eles podem ter encontrado significado em certos arranjos de planetas e estrelas do qual Júpiter faria parte, pois  além de ser muito brilhante, também estava associado à realeza.

 A possibilidade mais astronomicamente plausível é que a Estrela de Belém seja resultado de uma conjunção – quando dois ou mais corpos celestes, como a Lua e um planeta, aparecem muito próximos em nosso céu, ou mesmo “se tocam” (do nosso ponto de vista). Linha de visão, uma vez que estão a milhares de quilômetros de distância no espaço). Esse tipo de evento pode durar dias ou semanas com pouca mudança de local. Se os Três Reis Magos seguirem uma conjunção, eles podem de fato terem sido guiados em uma direção particular. A Bíblia diz que eles viram o sinal do céu enquanto estavam em seu próprio país (Babilônia); quando eles deixaram Jerusalém para Belém, eles a viram novamente. Depois que encontraram Jesus, a estrela desapareceu.

O alinhamento com maior probabilidade de ter acontecido é a chamada conjunção tripla (quando aparece no céu três vezes em um curto período de tempo) entre Júpiter e Saturno – os dois maiores planetas do sistema solar. Isso é resultado de seu alinhamento com o Sol e a Terra – que em um ponto os ultrapassou, criando um movimento retrógrado pronunciado. Foi um evento raro (ou seja, impressionou os curiosos) e sabemos que aconteceu em dezembro do ano  6 d.C., segundo a matéria publicada na Tilt, de hoje, de onde retiro estes dados.

Seja como for, algumas coisas podemos trazer de lições sobre o evento.

1° Há indícios científicos de que este fenômeno tenha ocorrido;

2° Este fato atesta a avançada ciência babilônica;

3° Havia uma expectativa mundial (Pelo menos no mundo conhecido) pelo nascimento do Messias;

4° O próprio Israel não o estava aguardando, apesar de todos os sinais.

E hoje, depois de crescido, ainda fico olhando para o céu em dezembro e intrigado, passo o meu tempo escrevendo sobre isto … Vá entender.

Fonte:  Mistério de Natal: o que era a Estrela de Belém? Ciência tenta explicar… 24/12/2002. Marcelo Duarte – Tiltastrofalls

Foto de capa: @astrofalls

A 3ª é o fenômeno visto aqui no Brasil, registrado por  @alexsandromota805,

Conceição do Coité – BA

Nazismo e fascismo, os pesadelos que não passam

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 05 nov 2020
Sem Comentários

Por: Prof. Dr. Júlio César Medeiros da Silva Pereira[1]

O mundo tem sido, nos últimos anos, aterrorizado pelo fantasma do nazismo e do fascismo. O movimento antifas, termo abreviado de antifascismo, que dá nome a um movimento político dedicado ao combate o fascismo é um sintoma de que permanece vivo, ainda que, de certa forma escondido, um movimento fascista, do contrário, não teríamos visto milhares de adesões ao movimento em vários grupos de redes sociais. Onde há fumaça a fogo.

O objetivo deste texto é o de tentar traças algumas mudanças e permanências entre o que teriam sido estes regimes totalitários e como e suas permanências, posto que, embora não percebido por uma grande parcela da população, se não existe de fato, ou seja, reconhecidamente legal, seus conceitos permanecem vivos, infelizmente, na sociedade[2]. De um lado, pessoas defendem que tais regimes não podem ser vistos anacronicamente, descontextualizados de sua época e tempo, de outro, muitos acreditam que as sim. Eles estão bem vivos e assombrando a atualidade. Para sair deste impasse, recorramos a História e vejamos analisemos o que eles foram e representaram,  seus ideários e propostas a fim de identificarmos seus vestígios a fim de comprovarmos, se que é possível a sua existência hoje.  Para tantos, iremos fazer uma reconstrução histórica do que foram estes movimentos em seu contexto e os indícios da sua permanência no tecido social de uma forma global, a fim de compreendermos os seus malefícios e a importância do conhecimento do passado para podermos superar e neutralizar suas ações.  

O mundo Pós 1ª Guerra Mundial

O fim da 1ª Guerra trouxe diversas mudanças para o mundo, principalmente para a Europa. Os altos custos da guerra levaram todas as potências europeias a uma grave crise econômica. Este fato  culminou com a ascensão dos EUA como a maior potência industrial, financeira e bélica do mundo.

Além disto, as mulheres ganharam as ruas. Como grande parte da população masculina europeia participou da guerra, as mulheres conquistaram um espaço no mercado de trabalho. Após a guerra, elas continuaram exercendo suas funções em lojas, fábricas e etc., porém com salários inferiores ao dos homens, desigualdade que se perpetua até os dias de hoje, em muitos setores.

A situação política na Europa também se complicou, visto que surgiram novas correntes políticas diferentes das democracias liberais que governavam a Europa antes da guerra. Nas décadas de 1920 e 1930, o mundo assistiria perplexo o surgimento de movimentos extremistas e autoritários como os  Fascismo e Nazismo.  

Também é importante lembrar que o fim da guerra marcou também o fim dos grandes impérios europeus como o Império Alemão, o Império Áustro-Húngaro e o Império Turco-Otomano. O fim destes impérios deram origem ao surgimento de diversos pequenos países e de conflitos armados em pequenas escalas na região dos Balcãs, em que minorias étnicas foram massacradas dando origem a uma forte migração populacional em direção aos países que gozavam de maior estabilidade.

Terminada a Primeira Guerra Mundial, os países envolvidos, tentando minorar a grave crise econômica,  iniciaram um processo de restauração numa tentativa de recuperação. Inglaterra e França recuperaram-se nos primeiros anos da década de 1920, contando com empréstimos concedidos por diversos países, principalmente
os Estados Unidos, que possuía interesses em impedir a escalada socialista provida pela URSS, a partir de 1917, que emprestou cerca de US$ 162 bilhões atuais[3]. Com isto, a economia norte americana se fortaleceu em detrimento dos países europeus, uma vez que grande parte deste capital emprestado era justamente para se comprar produtos americanos. Ao longo das décadas, a Bolsa de Nova Iorque superaria a de Londres e o estoque de ouro dos aliados fortaleceu o dólar elevando a moeda americana, mais tarde, ao mesmo nível do ouro.

Já a Alemanha passou por inúmeras dificuldades; era difícil reconstruir o país com as pesadas indenizações que deveriam pagar às nações vencedoras, conforme foi estabelecido no Tratado de Versalhes, mesmo tendo suas contas constantemente revisadas. Por ele, ingleses, franceses e americanos estabeleceram pesadas taxas sobre os alemães, em 28 de julho de 1919, dia da rendição alemã.

Baseado neste tratado, a Alemanha reconhecia ser a causadora do confronto; teria de devolver Alsácia Lorena aos franceses; entregar parte de seu território nacional dando origem a Polônia. No campo bélico, a Alemanha seria proibida de possuir uma marinha e ter uma aviação de guerra;  não teriam artilharia pesada; nem poderia promover o alistamento militar; seria também impedida de ter um exército com mais de 100 mil soldados e a Renânia, na fronteira da Alemanha com Bélgica e França, seria desmilitarizada permanentemente. Mas o golpe mais severo ainda estava por vir.

A indenização de guerra previa o pagamento de 20 bilhões de marcos-ouro, mas, pouco tempo depois, franceses e ingleses estavam exigindo mais de 200 bilhões de marcos-ouro dos alemães. Fato que agravou a crise econômica alemã dando combustível para o partido nazista pregar a desobediência em relação ao Tratado de Versalhes. No fim das contas, foram os Estados Unidos,  a nação que mais lucrou com o conflito, emprestavam dinheiro a diversos países, incluindo a Alemanha, para que ela pudesse recuperar sua economia e pagar suas dívidas.

Mas o Crack da Bolsa de Nova Iorque seria um fator fundamental que ajudaria aprofundar esta crise. A Crise de 1929, que ficou popularmente conhecida como a Grande depressão, constituía-se de crise de super produção, que reverberou mundialmente afetando os países periféricos e, principalmente os europeus que tentavam se reerguer após a guerra.  Tal crise gerou desemprego em massa; a falência de várias empresas; aumento da pobreza. Tal fato será o principal combustível para a ideologia nazista e fascista que acusará o capitalismo como umas das principais causas da forte crise econômica por que passava os europeus.

A crise do modelo de governo democrático e a queda do liberalismo

Foi neste cenário que a democracia começou a entrar em crise. Iniciou-se uma crescente descrença da população em relação a democracia como o melhor caminho para se superar a crise. Então, o poder dos governos democráticos em resolver os problemas que se apresentavam começou a ser posto em xeque. Surgiram movimentos que propunham alternativas ao regime democrático e que se opunham ferozmente ao Socialismo e ao Comunismo.

Para os membros desses movimentos, somente um líder enérgico seria capaz de tirar as nações da crise, ainda que, para isso, fosse necessário cercear algumas liberdades individuais. Eram movimentos  de cunho autoritário, com a expressão da vontade de um líder sobreposta à escolha dos cidadãos;  e nacionalistas, de modo que os interesses da nação ficavam acima dos indivíduos. Em países como a Itália e Alemanha, a crise econômica foi usada como elemento propulsor de discursos inflamados que apontavam a modernidade, a democracia e tanto o capitalismo quanto o comunismo como os culpados pela crise instaurada. Vejamos primeiro o caso da Itália.   

Não sem razão, Eric Hobsbawm chama este período como “Era da Catástrofe” (HOBSBAWM, 1997), período no qual, segundo ele, os sobreviventes do século XIX viram o colapso dos valores  e instituições de cunho liberal ruírem. A desconfiança em relação à ditatura se esvaziava enquanto a ideia de se dar super poderes a lideres em detrimento das liberdades individuais e de expressão tomava cada vez mais força na Europa do pós guerra.

Ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Itália, apesar de pertencer ao grupo das nações vencedoras, não teve tantas vantagens como as demais, diga-se Estados Unidos, França e Inglaterra. A situação interna do país se tornou caótica.  Dos despojos da guerra não lhes sobrou nada, pois  não entrara na partilha do território alemão a despeito de estar prevista a divisão com ela nos tratados de paz. A guerra também lhe trouxe pesadas baixas, foram mais de 600 mil mortos e 1 milhão de feridos. Após o conflito, os soldados egressos não encontraram trabalho nem ocupação. No campo econômico a inflação destruía o poder de compra dos italianos agravando a carestia e a fome. Diante de tantos problemas a população questionava a validade de guerra e, cada vez mais, mostrava-se insatisfeita com o governo vigente.

Em 1919 o movimento Fascio di Combattimento surge liderado pelo jornalista Benito Mussolini. O grupo era composto por ex-combatentes e desempregados que defendiam ideias nacionalistas, autoritárias e anticomunistas. Não demorou muito e Mussolini conquistou adeptos em toda a Itália, de modo que em 1921 foi formado o Partido Nacional Fascista.

Em 1922, militantes fascistas marcham até Roma, ocupam prédios públicos e estações de trem. Como resultado da Marcha sobre Roma, o rei convida Mussolini ao cargo de primeiro-ministro. Mussolini passa então a reunir poderes cada vez maiores até que, em 1928, o fascismo se torna uma ditadura comandada por ele. O seu sonho era do restaurar a antiga ordem, baseada na grandeza do império romano, e um ideal que, caso fosse expressa pela frase “A Itália vai voltar a ser grande”, não estaria errada, pois no cerne da questão, estava a ideia da restauração de de um passado imperial de glória. O termo fascismo deriva de fascio, mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do  povo.  Pelo mundo, Mussolini e os camisas verdes, como eram chamados os fascistas italianos, inspiraram governos: na Espanha, Franco; no Brasil, Getúlio Vargas, no seu Estado Novo e o Integralismo; e na Alemanha, Hitler. De fato, o vento autoritário foi tão forte que de 1918 a 1920 dezenas de Assembleias legislativas foram fechadas e durante o período entreguerras, os únicos países que mantiveram suas democracias funcionando ininterruptamente foram Grã-Bretanha, a Finlândia, o Estado livre Irlandês, a Suécia e a Suíça.

Na Alemanha, o fascismo assumiu sua forma extrema, o nazismo. Em 1918, o Imperador Guilherme II renuncia ao trono abrindo caminho para a proclamação da República na Alemanha. Um ano depois, revolucionários socialistas tentam tomar o poder, mas são derrotados e seus planos são frustrados. Tem Início a República de Weimar.

Em 1920 é Fundado do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (partido nazista). Estimulado pela Marcha sobre Roma, feita por Mussolini, Hitler incita os nazistas a ocupar a cidade de Munique. A tentativa fracassa e Hitler é preso. Na cadeia, Hitler inicia a escrita de sua obra Mein Kampf (minha luta), contendo as ideias racistas que disseminavam o mito ariano, xenófobas, antissemitas, anticomunistas e da necessidade de um espaço vital, ou seja um espaço natural para desenvolvimento total da nação alemã para além de suas fronteiras. Mais tarde,  o livro se tornaria a Bíblia do Nazismo, o livro de cabeceira da maioria dos alemães e formador da ideologia nazista.

Em 1932, O Partido Nazista ocupa mais de um terço no Parlamento alemão. Em 1934, Hitler torna-se presidente da república e dá início ao Terceiro Reich,  termo cunhado pela propaganda nazista, baseado no sonho de de fundação de um terceiro império alemão. O primeiro havia sido o Sacro-Império alemão, o segundo teria sido o Império Alemão e o terceiro seria este, o dos nazistas.  

Segundo Eric Hobsbawm, estas forças que mobilizaram os ideários fascistas e nazistas possuíam em comum as seguintes características que os uniam: todos eram autoritários e contra a subversão da velha ordem social, caçavam socialistas e comunistas;  todos eram hostis às instituições políticas liberais; todos além de serem reacionários anacrônicos também eram todos nacionalistas ao extremo.

Cabe lembrar as características comuns entre estes regimes totalitários que, grosso modo, baseava-se no(a): O poder estava concentrado nas mãos do Estado; Extinção das liberdades individuais e coletivas; Uma Forte repressão e controle sobre a vida pública e privada; Controle dos meios de comunicação a fim de usá-la para a propaganda política; perseguição aos comunistas e socialistas; caça aos homossexuais, judeus, ciganos e imigrantes.

O horror do holocausto

O antissemitismo nazista foi responsável por um dos maiores genocídios da História. O chamado holocausto refere-se ao extermínio de mais de 6 milhões de judeus nos campos de concentração nazistas. A perseguição aos judeus na Alemanha, na verdade havia iniciado em 1933, embora já houvesse sinal de que algo muito ruim estava por ocorrer com os judeus, desde a publicação do livro de Hitler, Main Kampf, em 1926, quando ele saiu da prisão. Agora, judeus também foram impedidos de ocupar cargos públicos e obrigados a usar uma estrela de Davi na roupa como identificação. Depois foram proibidos de se casarem com ditos “arianos”, como se autodenominavam os alemães, numa tentativa de unirem através do mito, a antigos antepassados e assim manifestar a sua “pureza” racial. A eugenia estava no auge e o mito de uma pureza racial parecia inabalável, afinal, cada vez, mais a ciência, de certo modo, caminhava neste sentido. Ela, que foi um movimento que acreditava piamente na perfectibilidade humana a partir da genética, a eugenia incentivou a “seleção da espécie“: o cruzamento entre indivíduos ditos “puros e superiores”, reverberando pelo mundo inclusive no Brasil[4].

Contudo, esta “pureza” de raça foi tão inventada quanto todos os outros mitos propalados pelos regimes totalitários. Até 1898, não havia um nome para ela, pois só então que foi cunhado o termo “nórdico” que, por sinal,  não se furtou em aceitar pesquisas eugênicas, que obviamente lhes eram favoráveis para embasar tal superioridade e, em muitos casos ditar este viés cientifico como moderno, ainda que nutrisse um forte desprezo à modernidade, algo contraditório, mas próprio de tais movimentos que separam apenas o que lhes seja útil, e onde os fins justificam os meios. Valores conservadores, propaganda de massa, ideologia de barbarismo irracionalista, dentro de um nacionalismo exacerbado deu tom ao horrores que estava prestes a ser descortinado diante dos olhos do mundo.

No auge da 2 Guerra Mundial, eles já estavam confinados em campos de concentração, onde eram submetidos a trabalhos forçados produzindo apetrechos para a guerra e sendo cobaias para testes científicos regados com requintes desumanos. Ali, com alimentação insuficiente e sem condições de higiene e saúde, morriam aos milhares no que Hitler havia denominado de Solução final, (do alemão Endlösung der Judenfrage), um plano nazista que tinha como meta o genocídio da população judaica nos territórios ocupados pelos alemães.   

Mas não apenas judeus estariam nestes campos de trabalhos e morte forçados, mas grupos minoritários considerados “indesejados”, como os eslavos, testemunhas de Jeová, poloneses, ciganos, negros, homossexuais, pessoas com necessidades específicas tanto físicas quanto mentais, foram perseguidas e exterminadas, mas apesar da perseguição aos judeus ser conhecida, o genocídio e suas proporções somente foi descoberto ao final da guerra, quando os exércitos aliados começaram a libertar os prisioneiros e se depararam com milhares de prisioneiros subnutridos e cadáveres abandonados ao ar livre.

De fato, a xenofobia foi um caráter marcante deste período. Acirrada pela forte crise econômica por que passou a Europa após a 1ª Guerra, milhões de pessoas migraram de um país para o outro em busca de melhores condições de vida. Cruzando fronteiras estrangeiras, singrando mares e todos os cantos, homens e mulheres deixavam os países periféricos em direção países que lhes dessem melhores condições de trabalho. Tal fato acirrou o “medo” do outro, na figura do estrangeiro, das minorias, dos sem pátria e sem território. Vistos como escórias e pessoas não gratas, poloneses, ciganos, armênios, curdos, eslavos e outras minorias étnicas foram tachadas como ameaças competitivas pelo pão escasso. Juntavam-se a um novo exército da classe trabalhadora disputando trabalho e quando ascendiam economicamente como os judeus, chegavam a ser os donos empresas e fábricas onde os próprios alemães trabalhavam, o que por fim retroalimentava o ódio contra seu povo e servia de justificação para que sofressem saques e roubos. O fim do século XIX introduzia a xenofobia de massa.

Mas não podemos esquecer um outro elemento tão marcante como esclarecedor, que faz lembrar os tempos presentes em que algumas igrejas evangélicas e católicas parecem apoiar discursos autoritários e/ou reacionários. Na Europa do entreguerras, a Igreja Católica Romana, a despeito de suas discordâncias com o totalitarismo em alguns pontos guardava uma estreita concordância. Ambos “nutriam um ódio comum pelo Iluminismo do século XVIII, pela Revolução Francesa e por tudo que derivava dela: democracia, liberalismo e, claro, mais marcadamente, o “comunismo ateu”[5].

E hoje?

É claro que não se pode, de forma alguma, tentar enquadrar o presente no passado, ou reviver tais fantasmas com as roupas do hoje. Mas existem indícios muito forte de que, pelo menos, no subterrâneo do tecido social vigente, existam ranhuras que deitam suas raízes nas mesmas ideias que foram propaladas no período entreguerras. Ideias como a do racismo, do nacionalismo, do antissemitismo e do anticomunismo estão presentes ainda hoje.

Uma releitura enviesada do passado, negacionista que nega o holocausto, rechaça os direitos das minorias étnicas e suas demandas são pontos que ligam o tempo presente a este passado não muito distante. Hoje, como ontem, não é difícil encontrar apoio para ideias que negam que a escravidão tenha sido maléfica, que acreditam num ideário cuja raiz recorre a um passado de glória que nunca existiu. A perseguição ao diferente, discrepante ou que não encaixa no jogo moral vigente, seja da ordem do gênero ou de classe é perseguido e vistos como os inimigos da nação.

Por tudo isto exposto, e guardadas as devidas proporções, não se pode negar que os indícios totalitários estão aí, ainda que inconscientemente. O discurso é sedutor e propõem medidas simplórias. Eleger um inimigo, eliminá-lo quando possível for, em nome da restauração da ordem vigente que é, logicamente excludente, guarda certa relação com os fatos históricos vivenciados na Europa do entreguerras.  

Este artigo não tem por objetivo afirmar a existência de regimes totalitários hoje, mas o de, através da História apontar as devidas semelhanças entre o agora e o que se foi, no sentido de alertar a cada um de nós sobre o perigo do retorno destes males sociais. Sobretudo porque, algo que não se pode negar e que a História demonstrou é que ambientes de forte crise social  e econômica é um campo fértil para o surgimento de lideranças autoritárias e regimes antidemocráticos.  Quando isto acontece, fantasmas reaparecem no imaginário transvertidos de ordem.  

Referências bibliográficas

Arendt, Hannah (2013) [1951]. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letra.

HABIB, Paula Arantes Botelho Briglia. Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato criou: raça, eugenia e nação. 2003. 175 p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/281539>. Acesso em: 3 ago. 2018.

HOBSBAWM, Eric (2015). A era dos impérios: 1875-1914. São Paulo: Paz e Terra.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremoso: o breve século XX, 1914-1991, 2ª edição. São Paulo; Companhia das Letras, 1995.

RICHARD, LioneI. A República de Weimar (1919-1933). São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Fontes online:

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/the-final-solution

https://www.rfi.fr/br/europa/20181112-como-primeira-guerra-mundial-arruinou-economia-da-europa


[1] Texto elaborado para as aulas de Historia Contemporânea II, ministradas na Univesidade Federal Fluminense, 2020.

[2] Veja matéria sobre o neonazismo https://www.politize.com.br/neonazismo-o-rosto-do-nazismo-na-atualidade/

[3] https://www.rfi.fr/br/europa/20181112-como-primeira-guerra-mundial-arruinou-economia-da-europa

[4] Sobre a eugenia no Brasil, veja o excelente trabalho de Paula Habib  https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548210412_156d47b6171e9a5e966d70ae2f48227b.pdf

[5] HOBSBAWM, Eric. Era dos extremoso: o breve século XX, 1914-1991, p.118.  

Saúde da população negra. Vidas negras importam, a pandemia da Covid 19 do ponto de vista racial

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 07 jul 2020

Novo video em meu canal sobre o impacto da pandemia da Covid 19 sobre a saúde da população negra

A escravidão nos documentos paroquiais em Santo Antônio de Pádua, no Brasil Colônia

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 15 dez 2018

A escravidão nos documentos paroquiais em Santo Antônio de Pádua, no Brasil Colônia

(Projeto desenvolvido junto ao Desenvolvomento Acadêmico)

Apresentação

Este projeto se propõe a um estudo dos registros coevos à escravidão encontrados nos documentos paroquiais em Santo Antônio de Pádua

 

  1. Aprender acerca dos diversos tipos de registros paroquiais e a sua importância para o estudo da sociedade brasileira;
  2. Compreender como o negro é retratado em tais registros;
  3. Relacionar os principais documentos paroquiais ao período histórico estudado;
  4. identificar os principais registros sobre escravos nas documentações paroquiais

 

Entender como se fazia tais registros e o papel da igreja Católica como guardiã deste memória;

Ser capaz de produzir um texto final sobre tema

Apresentar a pesquisa na Semana de Desenvolvimento Acadêmico na UFF

 

 

Núcleo de Estudos e Pesquisas SANKOFA

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 15 dez 2018

Núcleo de Estudos e Pesquisas SANKOFA: Relações étnico raciais,
memória, cidadania e Direitos Humanos. (Certificado pelo CNPq)

Apresentação:

O grupo de pesquisa SANKOFA: Relações étnico raciais, memória, cidadania e Direitos Humanos deverá integrar profissionais de diferentes áreas e campos de atuação que desejarem compartilhar do nosso mesmo objetivo: estudar como vivem as comunidades afro-descentes a partir do viés histórico que tem como ponto de vista, o passado escravista, instaurado na América Portuguesa e Brasil Império.

Neste sentido, cabe ressaltar que, o que será valorizado será as experiências dos africanos e seus descendentes no Brasil nestes três últimos séculos e seus desdobramentos que culminam, nos dias de hoje, em uma sociedade extremamente desigual como a brasileira.

A memória é chave fundamental para o resgate deste passado que, passará ser estudado a partir de cada região, onde poderá ser feito estudo. Espera-se que o trabalho desenvolvido pelo SANKOFA possa ajudar a intervir no presente através de ações socioeducativas que visem promover os Direitos Humanos. Assim, poderemos de forma mais eficaz e visível contribuir não apenas para o resgate da memória dos povos escravizados como, de alguma forma ajudar a pensar e propor ações eficazes no combate à discriminação e o preconceito.

Com isto, espera-se que os estudos desenvolvidos áreas possam contribuir de forma eficaz para o resgate da cidadania e do respeito à dignidade humana, onde a Universidade se transforma através da pesquisa, um dos instrumentos capazes em minorar os males sociais através da promoção de estudos, pesquisas, debates e proposições de ação social, visando integrar-se definitivamente ao tecido social hodierno.

O Sankofa desenvolve pesquisas que possuem como eixo principal, os seguintes itens:

  • Levantamento de acervo bibliográfico da região ligada ao período escravista na região;
  • Identificação e mapeamento dos possíveis locais de memória encontrados em Santo Antônio de Pádua;
  • Coleta de dados referentes à produção cafeeira que ajudem a dimensionar o enriquecimento da região que, como se sabe, baseou-se fartamente no trabalho escravo;

Grupo de Pesquisa Certificado pelo CNPQ desde 2016

REUNIÂO EM 13/08/2021. às 20h

Tema a ser estudado: Saúde e Bem  viver

Inscrições clique no link abaixo

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