Prof. Júlio César Medeiros

PROFESSOR DE HISTÓRIA

juliocesarpereira@id.uff.br

SOBRE

Júlio César Medeiros é Dr. em História da Ciência e da Saúde pela Fiocruz.  É professor de História Contemporânea com enfase em África, da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos e Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisa SANKOFA-UFF.

 

O mistério da estrela de Belém

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 24 dez 2022

Desde criança sempre fiquei intrigado com o céu e as suas estrelas.  Ficava horas por noite a olhar o brilho dos seres celestes refletindo no escuro céu azul. Pontos brancos refletindo ao longe.  Saber que estão a milhares de anos luz daqui, mais tarde, me deixou ainda mais confuso. Talvez tão intrigado quanto os cientistas hoje ao terem que explicar, a cada dezembro, o que foi que os magos virão no céu, no nascimento de Jesus. A famosa estrela da Belém.

O problema é que, cientificamente falando, não há prova de nenhuma de que tenha havido alguma  estrela cadente nesta época.

Também podemos descartar supernovas, pois  para serem vistas a olho nu, teriam que estar muito próximos, e além disto, elas deixa um vestígio que podemos detectar – mas os astrônomos não encontraram nada que datasse dessa época. Também não há outros relatos sobre isso, o que é estranho, já que muitas pessoas ficariam impressionadas com algo tão grande e brilhante no céu.

maior estrela ou planeta. Outras hipóteses referem-se às estrelas mais proeminentes em nosso céu noturno, como Vênus, Júpiter e Marte, ou Sirius (a estrela mais brilhante, na constelação do Cão Maior).

Alguns pesquisadores calcularam onde os Três Reis Magos iriam parar se os seguissem e nenhuma apontou para Israel. Por exemplo, Sirius levaria ao Polo Sul. Na verdade, se seguissem qualquer estrela, viva ou morta, provavelmente permaneceriam onde estavam. As estrelas nascem e se põem em nossos céus todos os dias, elas não param.

A resposta a este mistério, talvez seja que, o “magos” não seguiam um estrela, mas um conjunto de fenômenos no céu. Os “magos” provavelmente eram em parte astrônomos/astrólogos (os dois campos estavam intimamente relacionados há mais de 2.000 anos) e estavam interpretando o céu. Não por acaso eles eram babilônicos, a Babilônia possuía um avançado conhecimento avançadíssimo sobre as orbitas celestes e produziam mapas, calendários e representações celestes avançadíssimas. O fato de terem solicitado informações sobre os recém-nascidos quando chegaram à área sugere que talvez eles não tenham sido guiados ao destino final por um único corpo celeste.

Eles podem ter encontrado significado em certos arranjos de planetas e estrelas do qual Júpiter faria parte, pois  além de ser muito brilhante, também estava associado à realeza.

 A possibilidade mais astronomicamente plausível é que a Estrela de Belém seja resultado de uma conjunção – quando dois ou mais corpos celestes, como a Lua e um planeta, aparecem muito próximos em nosso céu, ou mesmo “se tocam” (do nosso ponto de vista). Linha de visão, uma vez que estão a milhares de quilômetros de distância no espaço). Esse tipo de evento pode durar dias ou semanas com pouca mudança de local. Se os Três Reis Magos seguirem uma conjunção, eles podem de fato terem sido guiados em uma direção particular. A Bíblia diz que eles viram o sinal do céu enquanto estavam em seu próprio país (Babilônia); quando eles deixaram Jerusalém para Belém, eles a viram novamente. Depois que encontraram Jesus, a estrela desapareceu.

O alinhamento com maior probabilidade de ter acontecido é a chamada conjunção tripla (quando aparece no céu três vezes em um curto período de tempo) entre Júpiter e Saturno – os dois maiores planetas do sistema solar. Isso é resultado de seu alinhamento com o Sol e a Terra – que em um ponto os ultrapassou, criando um movimento retrógrado pronunciado. Foi um evento raro (ou seja, impressionou os curiosos) e sabemos que aconteceu em dezembro do ano  6 d.C., segundo a matéria publicada na Tilt, de hoje, de onde retiro estes dados.

Seja como for, algumas coisas podemos trazer de lições sobre o evento.

1° Há indícios científicos de que este fenômeno tenha ocorrido;

2° Este fato atesta a avançada ciência babilônica;

3° Havia uma expectativa mundial (Pelo menos no mundo conhecido) pelo nascimento do Messias;

4° O próprio Israel não o estava aguardando, apesar de todos os sinais.

E hoje, depois de crescido, ainda fico olhando para o céu em dezembro e intrigado, passo o meu tempo escrevendo sobre isto … Vá entender.

Fonte:  Mistério de Natal: o que era a Estrela de Belém? Ciência tenta explicar… 24/12/2002. Marcelo Duarte – Tiltastrofalls

Foto de capa: @astrofalls

A 3ª é o fenômeno visto aqui no Brasil, registrado por  @alexsandromota805,

Conceição do Coité – BA

The New Black Cemetery

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 07 abr 2021

Foto do poço de sondagem da pesquisa arqueológica no Cemitério dos Pretos Novos

Many years ago, in the African continent, millions of Africans were brought to other countries within the condition of slavery, from which came the origin of the African Diaspora.

Nearly 10 million of the African slaves were brought to the Americas. Of these 10 million, 6 million were brought to Brazil to labor in sugarcane fields, in the mines and on coffee plantations. Of the Africans who were brought approximately 60% were sent to the Southeast region. Many of these Africans were from the linguistic and cultural group known as the Bantu.

Upon disembarking from the slaveship in Valongo, in the city of Rio de Janeiro, the enslaved were inspected at the Customs, counted and landed in the direction of the slave markets in Valongo. Those who arrived dead, or died in the sale stalls, were taken to the  Black New Cemetery (Cemitério dos Pretos Novos).

In the Cemetery of the New Blacks, the bodies of the enslaved newcomers were never buried. They were left to the ground until they were burned and dismantled so that more bodies could fit. This deal shows that for Brazilian society at the time, slaves were “nothing” but bodies to be discarded in order to rot and smell, nonetheless for the African culture to which they belonged, being buried in the cemetery of the New Blacks meant a cut in their ancestral lineage that would prevent them from being resurrected in Africa.

Several travelers, among them Freireyss, scandalously described the Cemetery of the New Black and how those slaves were buried because there was no indication that the enslaved were decently buried.  It is estimated that from 1769 to 1830, the date of its extinction, about 60 thousand enslaved people were buried there, despite the space of a small block of 50 fathoms.

Imagem de funeral africano no Brasil

During 1824 to 1830, the Cemetery of the New Black buried around 6.000 bodies in such small area. In the Livro de Óbitos da Freguesia de Santa Rita there are death recording which may be found a list of respective ships, ethnics and ports of origin, age, and the marks of slave masters on their bodies. In 1830 the cemetery was closed because of the anti-slave trade law and its location was lost.

But, in January of 1996, a house located at 36 Pedro Ernesto Street, in Gamboa was surprised by a great discovery. During the works, the bones of the enslaved were found. the cemetery had been rediscovered. Since then, the family of Mr. Petrucio and Mercedes, owners of the property, along with several volunteer researchers have been striving to keep the memory of Africans buried there alive.

Recently, the team of archaeologists discovered the first complete bone there, a young, African, enslaved woman who was named Bakhita in honor of the Catholic saint who fought slavery in Africa.

Visão frontal da escavação que mostra Bakhita

In conclusion, the cemetery of the new blacks was and still is the indisputable proof of slavery and the way in which human beings treated people they believed to be inferior due to their condition of enslavement uprooted from the African continent.

(mais…)

Meu Podcast

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 13 mar 2021
Sem Comentários

A revolução Americana, muda tudo, mas não muda nada!

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 12 mar 2021

As origens do método Científico moderno enquanto as  abordagens possíveis do objeto.

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 22 mar 2019

 

Por: Júlio César Medeiros da S. Pereira[1]

Durante muito tempo, o desenvolvimento do método científico ficou focado, sobretudo, no campo das ciências naturais tais como:  astronomia, biologia e Física. Contudo, durante a segunda metade do século XIX, as ciências sociais começaram a arrogar para si mesmas, o status de ciência em pé de igualdade com os demais campos de saberes.

Naquele momento, a visão ontológica do realismo, que baseia-se no  pressuposto de que o mundo físico é real começou a ser discutido e a ganhar cada vez mais espaço. Tal visão acreditava que o mundo que percebemos é externo a nós mesmos, e existe independentemente de nosso pensamento.

A visão epistemológica do positivismo ganhava força ao propor que era possível adquirirmos conhecimento sobre a real natureza do mundo através da observação e da experimentação. Esta visão realística, positivista era principalmente aplicada aos fenômenos naturais. Mas com o desenvolvimento das ciências sociais, impulsionada pelo motor do Imperialismo, começa-se a se propor que uma visão mais realística também  deveria ser aplicada a fenômenos sociais e psicológicos. Nascia o objetivismo o qual pressupunha que determinados fenômenos psicológicos e sociais como inteligência e coesão social, são propriedades externas, independentes e que existem separadas de nossa representação mental. E por isto podem ser mensuradas de forma concreta, ou objetiva.

No outro extremo de análise,  o construtivismo contrapunha-se ao objetivismo ao propor que  a natureza dos fenômenos sociais não é externa ao nosso pensamento. Isso significa que a realidade não é independente nem externa. Longe disto, a realidade é considerada antes de tudo, uma construção mental que depende do observador e do contexto do seu objeto. Assim, sentimentos como ódio, felicidade ou feminilidade não são externas ao observador, nem muito menos imutáveis, mas são inerentes à perspectiva de observador, o meio na qual existem e não podem ser objetivamente definidas. A cultura seria o instrumento capaz de perceber e dotar de  significado a tais propriedades. Cada uma delas depende da cultura na qual estão inseridas, do grupo social que o observador faz parte, e só podem ser entendidas dentro do seu tempo  histórico específico e, mais, elas afetam o observador talvez do mesmo modo que são produzidas.

Dito isto, pode-se inferir daí que a nossa realidade psicológica e social é construída, subjetiva, indefinida, e que, portanto seria difícil obtermos algum tipo conhecimento sobre ela. Para resolver esta equação, surgiram algumas posições epistemológicas que tentavam analisar a posição ontológica do construtivismo: a hermenêutica, fenomenologia e a verstehen (compreensão), a estas visões chamamos de interpretativíssimo. Essas visões interpretativistas presumem que a experiência de um pesquisador ou a observação de um fenômeno social podem ser muito diferentes de como as pessoas que estão envolvidas no fenômeno social o percebem, por isto, o pesquisador deveria se focam em compreender  o fenômeno do ponto de vista das pessoas que estão envolvidas naquela situação. Como elas diferem levemente entre si, precisamos analisar com mais vagar cada uma em separado para que possamos perceber a dinâmica de cada uma e o seu uso metodológico.

A “hermenêutica” tem o seu termo derivado da teologia e refere-se à forma correta de se interpretar as escrituras retirando-se o sentido do texto e levando e conta o contexto no qual ele está inserido. Já a hermenêutica, agora aplicada às Ciências Sociais, procura explicar fenômenos sociais interpretando os comportamentos dos indivíduos dentro do contexto social no qual estão inseridos. Em outras palavras, o Pesquisador precisa levar em consideração a visão de mundo do observado e procurar e entender que suas ações.

Já a Fenomenologia parte do pressuposto de que as pessoas não são objetos inertes, elas interagem com o mundo redor, pensam, sentem e percebem-se. Em contrapartida, elas esta dinâmica influencia suas ações e altera as suas percepções. Por isto,  para que possamos compreender suas ações, é necessário que investiguemos o significado que elas aplicam aos fenômenos que elas experimentam. Em última análise seria investigar o mundo da perspectiva delas e não do observador. É preciso que o pesquisador se dispa de suas visões e parâmetros para poder alcançar tais experiências do ponto de vista do observado.

Verstehen que significa no alemão “compreensão” é mais associada a Max Weber. Verstehen refere-se ao entendimento empático de fenômenos sociais. Segundo o sociólogo alemão, o observador  precisa assumir a perspectiva dos seu observado para então poderem interpretar como eles veem o mundo. Para Weber, somente  desta forma o pesquisador, então,  poderia tentar explicar as suas ações dos homens dentro de seu meio social.

 

Para Annemarie z. Scholten há alguns problemas nestas  visões construtivistas interpretativistas[2]. Segundo ela, há um problema de “interpretação estratificada”. Ou seja, em primeiro momento, o pesquisador interpreta as interpretações dos objetos, depois, ele interpreta as constatações em relação a uma abordagem ou a uma teoria. Com cada camada adicional de interpretação há mais chances de equívocos. Um segundo problema seria o fato de que fica muito difícil se comparar os dados obtidos, pois não existem parâmetros uma vez que cada objeto só pode ser interpretado dentro de cada cultura específica. Por exemplo, no caso da felicidade, como compará-la? Se a felicidade é subjetiva e significa coisas diferentes em culturas diferentes, simplesmente não podemos compará-las. Não existe, neste caso, a possibilidade de se criar teorias gerais ou explicações universais que se apliquem a variados grupos sociais e em  períodos de tempo particulares.

Um terceiro problema é a diferença na estrutura de referência. Se a estrutura de referência do pesquisador é muito diferente, pode ser difícil para o pesquisador tomar o ponto de vista do objeto. Isso torna difícil de descobrir quais os aspectos relevantes do contexto social. A visão construtivista-interpretativista é normalmente associada à abordagem qualitativa da ciência.

Isso implica em dizer que as observações são feitas através de entrevistas não muito estruturadas ou observação participativa, nas quais o pesquisador se torna parte de um grupo para observá-lo. Os dados são obtidos da pesquisa. Os dados são analisados qualitativamente por interpretação de texto ou material gravado. Em contraste, a visão objetivista-positivista está associada com métodos de pesquisa quantitativos. Observações são coletadas, que podem ser contadas ou mensuradas, para que os dados possam ser agregados sobre muitos objetos de pesquisa.

A intenção é que os objetos representem um grupo muito maior, possivelmente apoiando uma explicação universal. E os dados são analisados utilizando técnicas estatísticas quantitativas. Apesar de uma abordagem qualitativa ser normalmente associada com uma visão construtivista da ciência e uma abordagem quantitativa com uma visão objetivista, não há motivo para nos limitarmos somente a um método qualitativo ou quantitativo. É o que  Scholten assevera e eu concordo. Ambas abordagens têm suas vantagens e desvantagens.

Para algumas questões de pesquisa, uma abordagem qualitativa é melhor. Em outros casos, uma abordagem quantitativa é mais apropriada. Na verdade, uma abordagem de método misto, onde ambos métodos são usados para complementar o outro está constantemente ganhando popularidade.

Recentemente, eu mesmo pude realizar junto aos alunos do curso de Educação do Campo, pudemos fazer uma pesquisa de cunho quantitativa-qualitativa em que mesclamos questionário de pesquisa sobre condições de saúde e textos e trabalhos sobre a história e vida dos quilombolas em Cruzeirinho de cima[3]. o trabalho demonstrou que é possível mesclar diferentes tipos de métodos, sem cair nas armadilhas extremistas do positivismo, tão já ultrapassado, ao menos nas ciências sociais e um certo construtivismo interpretativo que nos impeça de fazer uma análise mais coerente com a realidade.

 

 

 

Bibliografia

 SCHOLTEN, Annemarie Zand. Quantitative Methods. Coursera.org, Jan. 2018 / Mai. 2018. 

Referências

[1] Júlio César Medeiros da S. Pereira é Dr. Em História da Ciência e da Saúde pela Fiocruz e professor Adjunto de História Contemporânea da UFF. Também atua como pesquisador no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos.

[2] https://ctsflavio.files.wordpress.com/2016/02/a-m-scholten-origins.pdf

[3] http://www.sankofa.periodikos.com.br/article/5c7edc480e8825a030016ca8

 

Você pode baixar este artigo clicando em:

As origens do Método Ciêntifico Moderno e suas abordagens

As origens do Método Científico: A ciência do período Clássico à Idade Média

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 19 jan 2019

 

Por: Júlio César Medeiros da Silva Pereira

Os primeiros pensadores a buscarem uma explicação natural para os diversos fenômenos da natureza ao invés de se apoiarem nas explicações de cunho religiosos ou divinas  foram os filósofos da Grécia antiga como Thales de Mileto (624 a.C. a 546 a.C.), Pitágoras ( 570 a.C. 495 a.C.) e Demócrito (460 a.C. a 370 a.C.). Mas o primeiro a realmente pensar neste tipo de conhecimento que procura se afastar dos motivos religiosos, ou em como se obter o verdadeiro conhecimento sobre um determinado fenômeno foram, na verdade Platão (428/427 a.C. a 348/347 a.C.) e Aristóteles (‎322 a.C.‎ a ‎384 a.C.) há mais de 2300 anos.

Para Platão, discípulo de um outro filosofo grego chamado Sócrates, o mundo exterior, bem como tudo o que existia nele eram  apenas reflexos imperfeitos ou sombras de formas ideais, ou seja, o mundo era a cópia do mundo das ideias[1]. Essas formas ideais são frequentemente retratadas como lançando sombras em uma parede, por isto, pode se dizer que  Platão era um realista filosófico.

O mundo das formas, segundo ele, existia independentemente do pensamento humano. Essas formas não eram apenas conceitos abstratos em nossa mente, eles realmente existiam, mas separadamente do mundo físico, por isto não poderíamos apreender a verdadeira natureza da realidade através da experiência sensorial, pois tal conhecimento sobre as formas ideais só poderiam ser obtidas através do raciocínio. Ele acreditava, diferentemente dos sofistas, para os quais não existia a verdade absoluta e sim a verdade relativa, que algumas coisas poderiam até sofrer mudança, inclusive deixar de existir, mas que a ideia sobre ela nunca mudaria, ou seja, o que mudava era forma, não a ideia. As ideias sobre algo permaneciam sempre as mesmas.

Por exemplo, um “carro”. A ideia sobre carro é sempre  a mesma, mas o que muda é a forma, que, segundo ele é imperfeita e perene, e que pode ser mudada porque está no mundo físico, mas a ideia, ou porque não dizer: o conceito, será sempre o mesmo. Platão é, portanto, referido como um realista.

Aristóteles, seu discípulo, também era um realista. Para ele, embora essa realidade existisse independente do pensamento humano ela era o próprio mundo físico. Não há plano separado de existência onde formas abstratas vivem. Aristóteles também discordou de seu mestre sobre como podemos obter conhecimento sobre a verdade e a natureza das coisas.

Por isto, diz se que era um empirista, ou seja, alguém que acreditava que podemos ter uma experiencia sensorial precisa da realidade.

Este é um debate que iria se estender durante muito tempo, pois segundo Aristóteles, a realidade é perceptível através dos nossos sentidos e a observação seria o meio pelo qual poderíamos chegar ao conhecimento. Para tanto, o raciocínio deveria ser o instrumento pelo qual se poderia entender  e explicar natureza e, por isto, para alguns, ao pensar assim, estaria ele desenvolvendo a gênese da lógica perfeita, baseada no silogismo.

O silogismo criado por Aristóteles consiste em um termo filosófico para designação de conclusões deduzidas de premissas e que levam ao conhecimento cumulativo a partir de conclusão obtida. Por exemplo: Todos os humanos são mortais, todos os gregos são humanos, logo, todos os gregos são mortais. Ora, se as duas premissas são verdadeiras então a conclusão é necessariamente verdade e nos concede a base para formularmos um novo silogismo: todos os gregos são mortais, logo, todos os gregos são humanos.

Uma outra diferença entre Aristóteles e Platão é que aquele acreditava que  as premissas fundamentais podem ser apuradas pela observação direta e verificação dos padrões ou regularidades de fenômenos no mundo. Infelizmente, ele não sabia que algumas de suas próprias observações eram seletivas demais, levando a premissas fundamentais que sabemos agora serem simplesmente erradas.

Mas Aristóteles também estava limitado ao seu tempo e cometeu erros em suas próprias premissas e portanto, em alguns silogismos que criou, pois quando se parte de uma premissa falsa, a sua conclusão também estará fada ao fracasso. Por exemplo, baseado em sua própria observação, asseverou erroneamente que os homens têm mais dentes que as mulheres e que os insetos têm quatro patas. Com certeza, não observou todos os insetos, e nem verificou a boca de todos os homens e mulheres, suas observações eram imprecisas o levou à conclusões igualmente errôneas. Mas com isto também pudemos aprender que uma premissa falsa nos levará, consequentemente a uma conclusão errada.

Por outro lado, Aristóteles nos dá um exemplo extremante importante para a construção do saber científico ao nos mostrar que a observação dos fenômenos e acontecimentos devem ser precisos, metódicos e procurar ser os mais meticulosos possíveis, pois do contrário, todo o restante redundará em erro, por se basear em premissas falsas.

Contudo, as contribuições de Platão e Aristóteles foram enormes para o desenvolvimento da ciência e suas influências foram sentidas por quase 2000 anos. Só no fim do século XVI é que, graças a novas formas de análise do mundo e dos fenômenos naturais é que os pesquisadores se deram conta de que tanto Platão, quanto Aristóteles, falharam em alguns pontos, mas suas contribuições permaneceram muito importantes para o desenvolvimento da ciência.

Ptolomeu (100 d.C. a 160 d.C.), foi um cientista grego que apoiou-se nas   ideias de Aristóteles para criar um  sistema geométrico-numérico, de acordo com as tabelas de observações babilônicas, para assim descrever os movimentos do céu colocando a terra no centro do universo com os planetas, em orbita circular em sua volta, incluindo o sol. Este modelo ptolomaico, de órbita circular, era o que melhor explicava o afastamento dos astros nos céus e permitiu uma maior precisão nas previsões de tempos e estações.

Na virada no século X, o físico e matemático árabe Ibn al-Hasan, conhecido também pela forma latinizada Alhazen, (965 a.C. a 1040 a.C.) se tornou o  pioneiro da óptica, ao seguir os passos de Ptolomeu e explicar  o fenômeno dos corpos celestes no horizonte[2]. Ele escreveu a obra  O Livro de  Óptica (em árabe: Kitāb al-Manāẓir (كتاب المناظر)), publicado no início do século XI, e propôs uma nova teoria sobre a visão revolucionária para a época, que foi um passo importante para a compreensão do processo visual que embora seja diferente hoje em dia, influenciaria, mais tarde a Johannes Kepler (1571-1630) o qual propusera uma nova teoria da visão que, em tese, ainda é usada hoje em dia.

Ibn al-Hasan contribui para o método científico também ao propor que  uma hipótese devia ser testada por experimentos, seguindo procedimentos sistemáticos e que poderiam ser capazes de serem reproduzidos, e isto, mais de 1000 anos antes de Descartes, considerado por muitos como o preconizador do método científico moderno.

Ao lado de Ibn al-Hasan, outros árabes tais como Al Biruni, e Ibn Sina, começaram a usar uma sistemática observação e experimentação, enfatizando a observação imparcial e não apenas raciocínio lógico. Este grupo de pensadores árabes nos ajudam a pensar em uma ciência fora de um ponto de vista eurocêntrico moderno que nos conduz ao erro de imaginarmos que a ciência se deu e se desenvolveu graças aos pensadores europeus e que portanto, eram homens inteligentes, metódicos e, logo, científicos, relegando o resto do mundo ao obscurantismo e sem nenhuma contribuição para o campo das ciências. Na verdade, por se tratar de um saber cumulativo, a ciência se desenvolve com a contribuição de todos os homens nos mais diferentes lugares e circunstâncias e não em uma determinada parte deste ou daquele hemisfério.

O segundo ponto que desmistifica uma história eurocêntrica e moderna da ciência é se pensar que durante a Idade Média não se produziu saber cientifico, um erro, pois todos estes pensadores e filósofos viveram na Idade Média, cunhada erroneamente por alguns de Idade das Trevas que, quando na verdade foi um período de florescimento da ciência.  Mas isto, já é outra história.

 

 

 

Referência bibliográfica:

Https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/ideias-de-platao-as-coisas-mudam-mas-seus-modelos-sao-eternos.htm_acesado em 19 de janeiro de 2019.

MARTINS, Roberto de Andrade. A Óptica de Ibn al-Haytham – 1.000 anos de luz. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Consultado em 19 de janeiro de 2019.

 

 

[1] Fonte: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/ideias-de-platao-as-coisas-mudam-mas-seus-modelos-sao-eternos.htm_acesado em 19 de janeiro de 2019.

[2] MARTINS, Roberto de Andrade. A Óptica de Ibn al-Haytham – 1.000 anos de luz. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Consultado em 19 de janeiro de 2019.

 

Você pode baixar este artigo, clicando em:

Download

 

Videos no Youtube (História+)

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 21 dez 2018
Sem Comentários

Videos e documentários produzidos no Youtube

 

Entenda o Conflito entre Os Estados Unidos e o Irã. Veja neste breve Resumo
Documentário sobre os cuidados com a Doença falciforme em Paraty, pelos aluno do Curso Interdisciplinar em Educação do Campo, da UFF/INFES.

Documentario produzido pelos alunos do curso de Licenciatura Especial em Educação do Campo, da UFF, campus Santo Antônio de Pádua, como trabalho final do Tempo Comunidade 18.2, sob a coordenação do Prof. Júlio César Medeiros.

Pesquisa de Investigação Histórica na Região Noroeste (Pádua) à procura das marcas deixadas pelo passado escravista, realizada pelos alunos bolsistas do Projeto Acadêmico da UFF e o Núcleo de Estudo Sankofa. (1º Semestre de 2016)

rof. Dr. Júlio César Medeiros fala sobre a obra de Sobonfu Somé, afrocentricidade e identidade afro-brasileira (Pensando Com a História)

Prof. Dr. Júlio César Medeiros apresenta um episódio no História + sobre o que são privilégios. A aplicação do jogo dos privilégios em sua turma de Oficina de Direitos Humanos e Cidadania no INFES, UFF de Santo Antônio de Pádua trará profundas reflexões sobre as condições dos privilégios em nossa sociedade

Núcleo de Estudos e Pesquisas SANKOFA

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 15 dez 2018

Núcleo de Estudos e Pesquisas SANKOFA: Relações étnico raciais,
memória, cidadania e Direitos Humanos. (Certificado pelo CNPq)

Apresentação:

O grupo de pesquisa SANKOFA: Relações étnico raciais, memória, cidadania e Direitos Humanos deverá integrar profissionais de diferentes áreas e campos de atuação que desejarem compartilhar do nosso mesmo objetivo: estudar como vivem as comunidades afro-descentes a partir do viés histórico que tem como ponto de vista, o passado escravista, instaurado na América Portuguesa e Brasil Império.

Neste sentido, cabe ressaltar que, o que será valorizado será as experiências dos africanos e seus descendentes no Brasil nestes três últimos séculos e seus desdobramentos que culminam, nos dias de hoje, em uma sociedade extremamente desigual como a brasileira.

A memória é chave fundamental para o resgate deste passado que, passará ser estudado a partir de cada região, onde poderá ser feito estudo. Espera-se que o trabalho desenvolvido pelo SANKOFA possa ajudar a intervir no presente através de ações socioeducativas que visem promover os Direitos Humanos. Assim, poderemos de forma mais eficaz e visível contribuir não apenas para o resgate da memória dos povos escravizados como, de alguma forma ajudar a pensar e propor ações eficazes no combate à discriminação e o preconceito.

Com isto, espera-se que os estudos desenvolvidos áreas possam contribuir de forma eficaz para o resgate da cidadania e do respeito à dignidade humana, onde a Universidade se transforma através da pesquisa, um dos instrumentos capazes em minorar os males sociais através da promoção de estudos, pesquisas, debates e proposições de ação social, visando integrar-se definitivamente ao tecido social hodierno.

O Sankofa desenvolve pesquisas que possuem como eixo principal, os seguintes itens:

  • Levantamento de acervo bibliográfico da região ligada ao período escravista na região;
  • Identificação e mapeamento dos possíveis locais de memória encontrados em Santo Antônio de Pádua;
  • Coleta de dados referentes à produção cafeeira que ajudem a dimensionar o enriquecimento da região que, como se sabe, baseou-se fartamente no trabalho escravo;

Grupo de Pesquisa Certificado pelo CNPQ desde 2016

REUNIÂO EM 13/08/2021. às 20h

Tema a ser estudado: Saúde e Bem  viver

Inscrições clique no link abaixo

Inscrição no Grupo de Estudo Sankofa


Conheça a nossa Revista Eletrônica e tenha acesso as nossas publicações:

http://app.periodikos.com.br/journal/sankofa

Visite nosso Instagram

https://www.instagram.com/nucleodepesquisasankofa/

Facebook

https://www.facebook.com/sancofa/

Translate »
Skip to content