Prof. Júlio César Medeiros

PROFESSOR DE HISTÓRIA

juliocesarpereira@id.uff.br

SOBRE

Júlio César Medeiros é Dr. em História da Ciência e da Saúde pela Fiocruz.  É professor de História Contemporânea com enfase em África, da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos e Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisa SANKOFA-UFF.

 

Projeto de extensão: “Saúde e Adoecimento das populações Quilombolas e Afro-descendentes (ênfase em Doença falciforme)”

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 17 set 2019

Cartilha on line, produzida pelos alunos visando esclarecer sobre a doença falciforme e a população afrodescendente

Cartilha produzida pelos alunos do projeto de extensão Saude e adoeciemento das populações quillobolas e afrodescendentes (enfasze em doença Falciforme)

Documentário “Doença Falciforme e um problema nosso” produzido pelo Curso de Educação do Campo da UFF

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 19 jan 2019

Nosso documentário sobre Doeça falciforme, ela  é uma das doenças de maior prevalência entre os afro-descendentes, mas ainda existe muita falta de conhecimento sobre ela. Saiba mais clicando no vídeo

Curso de Educação do Campo em Pádua: para além dos campi da UFF | Universidade Federal Fluminense

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 03 jan 2019

De projetos premiados à participação ativa na comunidade local, o curso Licenciatura Interdisciplinar de Educação de Campo, criado em 2015 no campus de Santo Antônio de Pádua (RJ), já conta com

Fonte: Curso de Educação do Campo em Pádua: para além dos campi da UFF | Universidade Federal Fluminense

Matéria completa em:

http://www.uff.br/?q=noticias/02-01-2019/curso-de-educacao-do-campo-em-padua-para-alem-dos-campi-da-uff

 

Curso de Educação do Campo em Santo Antônio de Pádua rompre as fronteiras e se expande em contato com a comunidade do entorno

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 03 jan 2019

De projetos premiados à participação ativa na comunidade local, o curso Licenciatura Interdisciplinar de Educação de Campo, criado em 2015 no campus de Santo Antônio de Pádua (RJ), já conta com algumas vitórias na sua trajetória. Com afinidade com os movimentos sociais, o curso forma professores atuantes em escolas de campo, engajados com as comunidades caiçaras, ribeirinhas, quilombolas, sem teto e indígenas, por exemplo. Além de pesquisas, esse projeto inovador, que vem acumulando alguns prêmios, alia intervenção pedagógica com o objetivo de influenciar nas relações sociais da região com ensinamentos que proporcionem a sustentabilidade do meio ambiente.

veja a matéria completa aqui no site da UFF

http://www.uff.br/?q=noticias/02-01-2019/curso-de-educacao-do-campo-em-padua-para-alem-dos-campi-da-uff

Videos no Youtube (História+)

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 21 dez 2018
Sem Comentários

Videos e documentários produzidos no Youtube

 

Entenda o Conflito entre Os Estados Unidos e o Irã. Veja neste breve Resumo
Documentário sobre os cuidados com a Doença falciforme em Paraty, pelos aluno do Curso Interdisciplinar em Educação do Campo, da UFF/INFES.

Documentario produzido pelos alunos do curso de Licenciatura Especial em Educação do Campo, da UFF, campus Santo Antônio de Pádua, como trabalho final do Tempo Comunidade 18.2, sob a coordenação do Prof. Júlio César Medeiros.

Pesquisa de Investigação Histórica na Região Noroeste (Pádua) à procura das marcas deixadas pelo passado escravista, realizada pelos alunos bolsistas do Projeto Acadêmico da UFF e o Núcleo de Estudo Sankofa. (1º Semestre de 2016)

rof. Dr. Júlio César Medeiros fala sobre a obra de Sobonfu Somé, afrocentricidade e identidade afro-brasileira (Pensando Com a História)

Prof. Dr. Júlio César Medeiros apresenta um episódio no História + sobre o que são privilégios. A aplicação do jogo dos privilégios em sua turma de Oficina de Direitos Humanos e Cidadania no INFES, UFF de Santo Antônio de Pádua trará profundas reflexões sobre as condições dos privilégios em nossa sociedade

Núcleo de Estudos e Pesquisas SANKOFA

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 15 dez 2018

Núcleo de Estudos e Pesquisas SANKOFA: Relações étnico raciais,
memória, cidadania e Direitos Humanos. (Certificado pelo CNPq)

Apresentação:

O grupo de pesquisa SANKOFA: Relações étnico raciais, memória, cidadania e Direitos Humanos deverá integrar profissionais de diferentes áreas e campos de atuação que desejarem compartilhar do nosso mesmo objetivo: estudar como vivem as comunidades afro-descentes a partir do viés histórico que tem como ponto de vista, o passado escravista, instaurado na América Portuguesa e Brasil Império.

Neste sentido, cabe ressaltar que, o que será valorizado será as experiências dos africanos e seus descendentes no Brasil nestes três últimos séculos e seus desdobramentos que culminam, nos dias de hoje, em uma sociedade extremamente desigual como a brasileira.

A memória é chave fundamental para o resgate deste passado que, passará ser estudado a partir de cada região, onde poderá ser feito estudo. Espera-se que o trabalho desenvolvido pelo SANKOFA possa ajudar a intervir no presente através de ações socioeducativas que visem promover os Direitos Humanos. Assim, poderemos de forma mais eficaz e visível contribuir não apenas para o resgate da memória dos povos escravizados como, de alguma forma ajudar a pensar e propor ações eficazes no combate à discriminação e o preconceito.

Com isto, espera-se que os estudos desenvolvidos áreas possam contribuir de forma eficaz para o resgate da cidadania e do respeito à dignidade humana, onde a Universidade se transforma através da pesquisa, um dos instrumentos capazes em minorar os males sociais através da promoção de estudos, pesquisas, debates e proposições de ação social, visando integrar-se definitivamente ao tecido social hodierno.

O Sankofa desenvolve pesquisas que possuem como eixo principal, os seguintes itens:

  • Levantamento de acervo bibliográfico da região ligada ao período escravista na região;
  • Identificação e mapeamento dos possíveis locais de memória encontrados em Santo Antônio de Pádua;
  • Coleta de dados referentes à produção cafeeira que ajudem a dimensionar o enriquecimento da região que, como se sabe, baseou-se fartamente no trabalho escravo;

Grupo de Pesquisa Certificado pelo CNPQ desde 2016

REUNIÂO EM 13/08/2021. às 20h

Tema a ser estudado: Saúde e Bem  viver

Inscrições clique no link abaixo

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Saúde e adoecimento de Populações remanescentes e afrodescendentes no Rio de Janeiro

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 15 dez 2018

Saúde   e   adoecimento   de   Populações   remanescentes   e afrodescendentes no Rio de Janeiro

 (Desenvolvido junto ao Curso de Educação do Campo (UFF-INFEs)

Apresentação:

Sabe-se que os quilombos fazem parte de um passado de luta e resistência do nosso povo afrodescendente, no Brasil. Porém, o desfecho destes movimentos, assim como a escravidão não foi em nada favorável para os remanescentes destes povos escravizados. Ainda hoje, tais populações são expostas cotidianamente à exclusão, desigualdades e racismo institucionalizado. Contudo, embora tais comunidades de remanescentes quilombolas, ainda lutem por políticas inclusivas para suas populações, o acesso à saúde ainda é uma questão difícil de se tornar uma prática efetiva.

A pesquisa ora apresentada visa levantar dados relativos aos principais fatores de saúde e adoecimento das comunidades remanescentes de afrodescendentes no Rio de Janeiro, em seu perímetro urbano, a partir de um visão histórico-cultural capaz de demonstrar a situação de fragilidade social em que se encontram os remanescentes quilombolas, bem como suas estratégias de sobrevivência relacionada as suas práticas e saberes passados de geração a geração.

 

Objetivo Geral:

Verificar os principais fatores de adoecimento das populações remanescentes e afrodescendentes.

 

Objetivos secundários

  1. Levantar dados relativos aos principais fatores de saúde e adoecimento das comunidades afro-remanescentes no Rio de Janeiro, em seu ambiente natural;
  2. Analisar os dados obtidos no sentido de se verificar a vulnerabilidade social destas populações;
  3. Apontar as saídas ou possíveis sugestões para o enfrentamento de tais questões;

 

 

Metodologia:

Em um primeiro momento, os alunos estudarão de forma geral os principais conceitos aplicados as populações de remanescentes no Brasil, no tocante à história, dificuldades, luta e estratégias de sobrevivência; em um segundo momento, os alunos farão um trabalho dirigido, na comunidade e acompanhado do professor orientador a fim de colherem os dados relativos aos fatores de adoecimento; por fim, já na Unidade, deverão analisar e apresentar os dados obtidos.

 

Hipóteses:

  1. O regime em escravidão privou os que viviam em cativeiro de condições de saúde favoráveis, o que nos faz supor que seus descendentes, mesmo depois de mais 100 anos, ainda vivam em condições precárias relacionadas ao tratamento de suas doenças e a manutenção da vida;
  2. É provável que ainda se encontre resquícios de suas práticas culturais relacionadas à saúde, uma vez que o acesso as políticas públicas, no Brasil, ainda é um fator de conflito para as classes menos favorecidas socialmente.

 

 

 

130 anos de Abolição e daí?

Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 14 dez 2018
Sem Comentários

O Brasil completa hoje 133 anos de abolição. Nesta data, a Princesa Isabel assinava a chamada Lei Áurea que extinguia a escravidão no Brasil, no entanto, na prática pouca coisa mudou em relação aos milhares de escravizados trazidos de África e seus descendentes em relação ao racismo, ao preconceito e à cidadania plena.

Ainda precisamos estudar com afinco tudo do que estava envolvido por traz daquele documento oficial que colocava fim a escravidão que, se por um lado não representou mudanças positivas para os milhares de afrodescendentes e africanos no Brasil, por outro custou caro ao Império que amargaria um golpe no ano seguinte, dado pelos militares ao proclamarem a República, uma vez que tal ação motivou uma grande insatisfação por parte da maioria dos fazendeiros do Vale do Paraíba e fazendeiros do Nordeste que ficaram insatisfeitos com a princesa que, de uma caneta só extinguia a famigerada escravidão.

Algumas reflexões devem ser feitas ao olharmos para trás e, talvez a acuidade histórica seja necessária para que analisemos o ocorrido sem os mantos da paixão, nem o pessimismo que tem tomada conta de setores mais radicais de diversos movimentos e grupos que insistem em apontar os erros da Abolição. É claro que este espaço é muito pequeno e o que me proponho a fazer aqui é apenas uma proposta, por isto me perdoe se eu parecer simples de mais em minha analise, é que um blog não nos permite o espaço e a voz desejados. Vamos a ela:

  1. O Brasil foi o último país a decretar o fim da escravidão.

E isto não é uma informação simples, pense, a disputa política colocada no século XIX que tomava conta dos jornais colocava o embate entre os abolicionista que, grosso modo, em 1879, possui um grupo de parlamentares como uma resposta à crescente onda de agitações e manifestações sociais pelo fim da escravidão. No Parlamento formaram-se duas tendências: uma moderada, que defendia o fim da escravidão por meio de leis legais cujos defensores foram Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Jerônimo Sodré e, a outra mais radical, porque defendia a ideia de rebeliões e agitações sociais. O fato é que nenhuma previa medidas de inclusão dos negros na sociedade. Na verdade, não era esta a questão colocada e sim o fato de se colocar um ponto final no sistema odioso o qual o governo,  ha 17 anos, tentava cozinhar em banho-maria, com o intuito de não desagradar os grandes fazendeiros e latifundiários. Logo, naquele momento se fez o melhor que acreditavam estar fazendo, embora, os intelectuais tivessem a percepção de que era pouco, tratava-se apenas de um ponta pé inicial para o fim da dos males provocados por 300 anos de regime escravista.

Os 17 anos de luta do movimento gerou suas três leis abolicionistas:

Lei do Ventre Livre (Lei Rio Branco),

de 28 de setembro de 1871. Elaborada e aprovada pelo gabinete conservador do Visconde do Rio Branco. De acordo com essa lei, os filhos de escravos nascidos a partir da data de sua aprovação eram considerados livres. No entanto, ela mantinha o direito dos senhores ao trabalho dessas crianças até os 21 anos. Na prática, significou que a escravidão destas crianças, pois se não eram no papel era por ato, pois tais crianças, nascidas após esta data continuavam nas fazendas, com o senhor, logo também viviam como escravos.

Lei dos Sexagenários (Lei Barão de Cotegipe), de 28 de setembro de 1885. Foi elaborada pelo gabinete liberal de José Saraiva e promulgada pelo gabinete conservador do Barão de Cotegipe. Essa lei tornava livres os escravos com mais de 60 anos, depois de três anos de trabalho, e libertava imediatamente os que tivessem mais de 65. Na verdade, a lei favorecia os fazendeiros, pois eles se livravam dos poucos escravos que chegavam a essa idade e já não tinham mais condições de trabalhar.

 

Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Foi elaborada pelo gabinete conservador de João Alfred e sancionada pela princesa Isabel, durante a ausência do imperador Pedro II, que se encontrava em viagem pela Europa. A lei determinou a libertação imediata dos escravos, que na época calculava-se em torno de 700 mil.

2. Não atingiu a todos os negros.

Muitos escravizados já haviam fugido ou conquistado a sua liberdade, assim, estudos recentes apontam que muitos dos escravos já estavam alforriados quando a lei foi promulgada. A lei já nasceu tarde, só não diria morta porque forçou, por força da lei, o fim de um regime esgarçado a um limite e insuportável. Há registros na imprensa da época da intensa participação de populares, numa rede de solidariedade à causa da abolição: no Ceará, jangadeiros negavam-se a transportar escravos para dificultar os negócios dos traficantes, mesmo que esses lhes oferecessem altos preços; militares recusavam-se a perseguir escravos fugidos; ferroviários escondiam negros nos trens ajudando-os nas fugas mascates ajudavam na distribuição dos panfletos a favor da abolição. Alguns grupos, como os caifazes, de São Paulo, liderados por Antônio Bento, chegavam a infiltrar-se nas senzalas para organizar a fuga dos escravos.

Por outro, lado, a noticia da abolição não chegou em todos os lugares com a mesma força que na capital, em muitos lugares nos rincões do sertão, escravos continuaram trabalhando da mesma forma até que de fato a lei se fizesse valer. Sem ter para onde ir, onde morar e onde comer e trabalhar, não foram poucos os que permaneceram nas fazendas em que foram cativos perpetuando os laços escravistas.

3. A Abolição não foi um presente

De fato, o regime escravista perdia a sua legitimidade dado a articulação de setores civis, escravizados e intelectuais negros. Ao lado disto, senhores e escravos negociam o pagamento de salários, autonomia e liberdade. A situação da escravidão era mesmo insustentável e, desta forma, o Estado precisava se antecipar e o fez.

parecia um presente da Princesa Isabel”

O Império se apresentou como doador de benesses se colocando no jogo de aparência ao lado dos escravos, isto é verdade, no entanto, não se pode esquecer que estávamos vivendo na monarquia e, em tal regime, todas as “bondades” vêm do Trono, por tanto, era natural que a Abolição fosse vendida assim, quando na verdade foi fruto de luta, muita fuga, muita morte e muito debate que logo foram minimizados e colocados em segundo plano para que a princesa pudesse assumir a cena e colher os louros do seu ato de “bondade”. Podemos até criticá-la e o fazemos, só não nos esqueçamos de contextualizar a sua ação dentro dos quadros das antigas monarquias

 

Ex escravizados, trabalhando na lavoura após a abolição

4. Não há generosos na História

Não há generosidade na história, e a princesa Isabel não foi uma figura caridosa que pensava nos escravos, mas também não podemos criticar a lei pelo fato de que não havia as condições necessárias para inclusão do negro na sociedade, pensar assim chega a ser até ingênuo, pois não observa o intrincado jogo político que estava colocado no segundo quartel do século XIX.

O problema é muito mais profundo e é de ordem estrutural. Nem ela, nem a sociedade estava atenta à questão da liberdade do escravizado. Na verdade, nunca se pensou no negro neste país. A nossa sociedade foi fundada e estruturada no racismos como elemento fundamental para a manutenção do status quo. Sendo assim, não era um problema para elite agrária a questão social dos escravos; pelo contrário, a importação de mão de obra imigrante estava sendo colocada como a solução não apenas para a nova forma de exploração capitalista, mas o projeto de branqueamento da nação. O negro era suportado, mas não querido em sua terra, por isto, não houve nenhum pensamento nesta perspectiva.

Contudo, criticar a lei me parece muito raso, quando sabemos que leis no Brasil, em geral, leis não pegam ou não funcionam como deveriam, só para citar um exemplo; quantas pessoas você conhece que foram presas por racismo? acredito que nenhum ou muito pouco diante da quantidade de crimes que são cometidos diariamente, porém, a lei Caó (Lei 7.716/1989) existe desde de 1989. Diríamos que a lei não é boa? que não significou um avanço? é claro que não, o problema não é a lei e sim a sua implementação.

Conclusão

De fato não temos muito o que comemorar hoje, nosso povo negro ainda é discriminado e vive de forma sub-humana, mas atacar a abolição não ajuda muito, pelo contrário, ela deve ser um marco para reivindicações urgentes. Fazê-la valer está na pauta da hora, negá-la só enfraquece a nossa luta e diminui a nossa história.

(mais…)

O Brasil completa hoje 133 anos de abolição. Nesta data, a Princesa Isabel assinava a chamada Lei Áurea que extinguia a escravidão no Brasil, no entanto, na prática pouca coisa mudou em relação aos milhares de escravizados trazidos de África e seus descendentes em relação ao racismo, ao preconceito e à cidadania plena.

Ainda precisamos estudar com afinco tudo do que estava envolvido por traz daquele documento oficial que colocava fim a escravidão que, se por um lado não representou mudanças positivas para os milhares de afrodescendentes e africanos no Brasil, por outro custou caro ao Império que amargaria um golpe no ano seguinte, dado pelos militares ao proclamarem a República, uma vez que tal ação motivou uma grande insatisfação por parte da maioria dos fazendeiros do Vale do Paraíba e fazendeiros do Nordeste que ficaram insatisfeitos com a princesa que, de uma caneta só extinguia a famigerada escravidão.

Algumas reflexões devem ser feitas ao olharmos para trás e, talvez a acuidade histórica seja necessária para que analisemos o ocorrido sem os mantos da paixão, nem o pessimismo que tem tomada conta de setores mais radicais de diversos movimentos e grupos que insistem em apontar os erros da Abolição. É claro que este espaço é muito pequeno e o que me proponho a fazer aqui é apenas uma proposta, por isto me perdoe se eu parecer simples de mais em minha analise, é que um blog não nos permite o espaço e a voz desejados. Vamos a ela:

  1. O Brasil foi o último país a decretar o fim da escravidão.

E isto não é uma informação simples, pense, a disputa política colocada no século XIX que tomava conta dos jornais colocava o embate entre os abolicionista que, grosso modo, em 1879, possui um grupo de parlamentares como uma resposta à crescente onda de agitações e manifestações sociais pelo fim da escravidão. No Parlamento formaram-se duas tendências: uma moderada, que defendia o fim da escravidão por meio de leis legais cujos defensores foram Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Jerônimo Sodré e, a outra mais radical, porque defendia a ideia de rebeliões e agitações sociais. O fato é que nenhuma previa medidas de inclusão dos negros na sociedade. Na verdade, não era esta a questão colocada e sim o fato de se colocar um ponto final no sistema odioso o qual o governo,  ha 17 anos, tentava cozinhar em banho-maria, com o intuito de não desagradar os grandes fazendeiros e latifundiários. Logo, naquele momento se fez o melhor que acreditavam estar fazendo, embora, os intelectuais tivessem a percepção de que era pouco, tratava-se apenas de um ponta pé inicial para o fim da dos males provocados por 300 anos de regime escravista.

Os 17 anos de luta do movimento gerou suas três leis abolicionistas:

Lei do Ventre Livre (Lei Rio Branco),

de 28 de setembro de 1871. Elaborada e aprovada pelo gabinete conservador do Visconde do Rio Branco. De acordo com essa lei, os filhos de escravos nascidos a partir da data de sua aprovação eram considerados livres. No entanto, ela mantinha o direito dos senhores ao trabalho dessas crianças até os 21 anos. Na prática, significou que a escravidão destas crianças, pois se não eram no papel era por ato, pois tais crianças, nascidas após esta data continuavam nas fazendas, com o senhor, logo também viviam como escravos.

Lei dos Sexagenários (Lei Barão de Cotegipe), de 28 de setembro de 1885. Foi elaborada pelo gabinete liberal de José Saraiva e promulgada pelo gabinete conservador do Barão de Cotegipe. Essa lei tornava livres os escravos com mais de 60 anos, depois de três anos de trabalho, e libertava imediatamente os que tivessem mais de 65. Na verdade, a lei favorecia os fazendeiros, pois eles se livravam dos poucos escravos que chegavam a essa idade e já não tinham mais condições de trabalhar.

 

Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Foi elaborada pelo gabinete conservador de João Alfred e sancionada pela princesa Isabel, durante a ausência do imperador Pedro II, que se encontrava em viagem pela Europa. A lei determinou a libertação imediata dos escravos, que na época calculava-se em torno de 700 mil.

2. Não atingiu a todos os negros.

Muitos escravizados já haviam fugido ou conquistado a sua liberdade, assim, estudos recentes apontam que muitos dos escravos já estavam alforriados quando a lei foi promulgada. A lei já nasceu tarde, só não diria morta porque forçou, por força da lei, o fim de um regime esgarçado a um limite e insuportável. Há registros na imprensa da época da intensa participação de populares, numa rede de solidariedade à causa da abolição: no Ceará, jangadeiros negavam-se a transportar escravos para dificultar os negócios dos traficantes, mesmo que esses lhes oferecessem altos preços; militares recusavam-se a perseguir escravos fugidos; ferroviários escondiam negros nos trens ajudando-os nas fugas mascates ajudavam na distribuição dos panfletos a favor da abolição. Alguns grupos, como os caifazes, de São Paulo, liderados por Antônio Bento, chegavam a infiltrar-se nas senzalas para organizar a fuga dos escravos.

Por outro, lado, a noticia da abolição não chegou em todos os lugares com a mesma força que na capital, em muitos lugares nos rincões do sertão, escravos continuaram trabalhando da mesma forma até que de fato a lei se fizesse valer. Sem ter para onde ir, onde morar e onde comer e trabalhar, não foram poucos os que permaneceram nas fazendas em que foram cativos perpetuando os laços escravistas.

3. A Abolição não foi um presente

De fato, o regime escravista perdia a sua legitimidade dado a articulação de setores civis, escravizados e intelectuais negros. Ao lado disto, senhores e escravos negociam o pagamento de salários, autonomia e liberdade. A situação da escravidão era mesmo insustentável e, desta forma, o Estado precisava se antecipar e o fez.

parecia um presente da Princesa Isabel”

O Império se apresentou como doador de benesses se colocando no jogo de aparência ao lado dos escravos, isto é verdade, no entanto, não se pode esquecer que estávamos vivendo na monarquia e, em tal regime, todas as “bondades” vêm do Trono, por tanto, era natural que a Abolição fosse vendida assim, quando na verdade foi fruto de luta, muita fuga, muita morte e muito debate que logo foram minimizados e colocados em segundo plano para que a princesa pudesse assumir a cena e colher os louros do seu ato de “bondade”. Podemos até criticá-la e o fazemos, só não nos esqueçamos de contextualizar a sua ação dentro dos quadros das antigas monarquias

 

Ex escravizados, trabalhando na lavoura após a abolição

4. Não há generosos na História

Não há generosidade na história, e a princesa Isabel não foi uma figura caridosa que pensava nos escravos, mas também não podemos criticar a lei pelo fato de que não havia as condições necessárias para inclusão do negro na sociedade, pensar assim chega a ser até ingênuo, pois não observa o intrincado jogo político que estava colocado no segundo quartel do século XIX.

O problema é muito mais profundo e é de ordem estrutural. Nem ela, nem a sociedade estava atenta à questão da liberdade do escravizado. Na verdade, nunca se pensou no negro neste país. A nossa sociedade foi fundada e estruturada no racismos como elemento fundamental para a manutenção do status quo. Sendo assim, não era um problema para elite agrária a questão social dos escravos; pelo contrário, a importação de mão de obra imigrante estava sendo colocada como a solução não apenas para a nova forma de exploração capitalista, mas o projeto de branqueamento da nação. O negro era suportado, mas não querido em sua terra, por isto, não houve nenhum pensamento nesta perspectiva.

Contudo, criticar a lei me parece muito raso, quando sabemos que leis no Brasil, em geral, leis não pegam ou não funcionam como deveriam, só para citar um exemplo; quantas pessoas você conhece que foram presas por racismo? acredito que nenhum ou muito pouco diante da quantidade de crimes que são cometidos diariamente, porém, a lei Caó (Lei 7.716/1989) existe desde de 1989. Diríamos que a lei não é boa? que não significou um avanço? é claro que não, o problema não é a lei e sim a sua implementação.

Conclusão

De fato não temos muito o que comemorar hoje, nosso povo negro ainda é discriminado e vive de forma sub-humana, mas atacar a abolição não ajuda muito, pelo contrário, ela deve ser um marco para reivindicações urgentes. Fazê-la valer está na pauta da hora, negá-la só enfraquece a nossa luta e diminui a nossa história.

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