Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 29 abr 2025
O Cemitério dos Pretos Novos, localizado na atual Rua Pedro Ernesto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, representa um dos capítulos mais dolorosos — e, por muito tempo, esquecidos — da história brasileira. Entre 1769 e 1830, o local serviu como destino final de milhares de africanos escravizados que morriam logo após o desembarque. Este artigo baseia-se em diversas fontes históricas, arqueológicas e acadêmicas, com destaque para a obra À Flor da Terra: o Cemitério dos Pretos Novos no Rio de Janeiro (PEREIRA, 2014), referência fundamental para o entendimento deste sítio histórico.
Antes da instalação do cemitério, a área da atual Gamboa era um espaço de transição entre o núcleo urbano do Rio colonial e o mar. Conforme destaca Pereira (2014), tratava-se de um trecho arenoso, sem edificações de relevo, usado como passagem para tropas e atividades de pesca. A região estava além dos limites formais da cidade até meados do século XVIII.
Com a transferência do mercado de escravos para a região do Valongo em 1774, ordenada pelo Marquês do Lavradio, o cenário mudou radicalmente. Trapiches, galpões e armazéns surgiram para atender ao tráfico negreiro. Entre essas estruturas improvisadas, surgiu também o cemitério destinado aos “pretos novos” — os africanos recém-desembarcados que não resistiam às condições desumanas da travessia e da quarentena (PEREIRA, 2014).
O Porto do Valongo tornou-se o principal ponto de entrada de africanos escravizados nas Américas. Estima-se que milhões de pessoas passaram por ali. Conforme registra Pereira (2014), o volume de africanos era tão intenso que gerava um fluxo contínuo de corpos para o cemitério, com alta mortalidade entre crianças e adolescentes.
A expressão “pretos novos” aparece reiteradamente nos registros paroquiais analisados, marcando o estatuto mercantil dos indivíduos antes mesmo de serem vendidos. O local, de intensa atividade comercial, refletia a brutalidade da escravidão em sua forma mais crua.
Em 1769, o Vice-Rei do Brasil autorizou oficialmente a criação do Cemitério dos Pretos Novos. Segundo Pereira (2014), o local não foi concebido como um campo-santo tradicional, mas como um espaço de descarte rápido de cadáveres, sem túmulos individualizados, sem rituais cristãos, sem dignidade.
Corpos eram atirados em valas rasas ou queimados para dar lugar a novas remessas de mortos. A ausência de cerimônias revela o grau extremo de desumanização a que eram submetidos aqueles seres humanos (PEREIRA, 2014).
De acordo com os levantamentos de Pereira (2014), entre 1824 e 1830, 6.122 sepultamentos foram registrados, número seguramente inferior ao real. Os restos encontrados no sítio arqueológico indicam uma predominância de crianças, adolescentes e jovens adultos, o que expõe a vulnerabilidade dos recém-chegados.
As condições do cemitério eram brutais: corpos deixados expostos, enterrados superficialmente ou queimados. As chuvas frequentemente desenterravam ossos, gerando escândalo público e problemas sanitários. Esse tratamento cruel contrastava com os princípios religiosos professados pela sociedade colonial (PEREIRA, 2014).
Em 1830, o cemitério foi desativado. As causas foram diversas: o incômodo sanitário, a pressão dos moradores e as novas exigências diplomáticas internacionais, com a assinatura do tratado anti-tráfico entre Brasil e Inglaterra (PEREIRA, 2014).
Logo após seu fechamento, a região foi objeto de intensos aterros, obras e mudanças urbanísticas. A área passou a abrigar trapiches, armazéns e posteriormente prédios residenciais. Durante o Segundo Reinado, com a construção do Cais da Imperatriz, as últimas lembranças visíveis do antigo cemitério foram soterradas sob novas camadas de modernização urbana.
Pereira (2014) ressalta que esse processo de transformação física foi acompanhado de uma transformação simbólica: a tentativa deliberada de apagar a memória da escravidão do espaço público carioca.
A rua onde se situava o cemitério passou a ser conhecida como Rua do Cemitério. Posteriormente, em 1853, foi rebatizada como Rua da Harmonia — uma escolha não inocente, conforme observa Pereira (2014), já que buscava dissociar a área de sua história traumática.
Em 1946, já no século XX, a rua recebeu o nome de Rua Pedro Ernesto, homenagem ao ex-prefeito do Rio de Janeiro. Cada mudança toponímica contribuiu para ocultar ainda mais a memória do Cemitério dos Pretos Novos, reforçando a invisibilidade histórica dos africanos ali sepultados.
O antigo cemitério permaneceu esquecido até 1996, quando obras particulares revelaram a presença de ossadas humanas durante reformas em uma residência da Rua Pedro Ernesto. A descoberta levou à criação do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), que, como destaca Pereira (2014), cumpre hoje um papel fundamental na preservação da memória e na valorização da história afro-brasileira.
O IPN abriga o Memorial dos Pretos Novos, um espaço de educação, pesquisa e memória. Desde então, o sítio passou a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana e contribuiu para a candidatura bem-sucedida do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial da Humanidade, reconhecido pela UNESCO.
A reemergência do Cemitério dos Pretos Novos marca não apenas a redescoberta de um sítio arqueológico, mas a possibilidade de o Brasil encarar seu passado com a coragem necessária para construir um futuro mais justo.
As pesquisas sobre o Cemitério dos Pretos Novos continuam a avançar. A análise minuciosa dos registros da Freguesia de Santa Rita, cruzada com achados arqueológicos recentes e novas leituras demográficas, tem revelado tendências inéditas sobre o perfil etário, a frequência de navios negreiros por período e a organização espacial das valas comuns.
Dados preliminares apontam uma predominância ainda maior de crianças e adolescentes entre os sepultados, especialmente entre os anos de 1812 e 1818, o que reforça o caráter genocida do tráfico em sua fase terminal. Estes elementos estão sendo sistematizados e serão apresentados em uma próxima publicação acadêmica.
Essa nova etapa da pesquisa reafirma um compromisso que não é apenas historiográfico, mas ético: dar nome, corpo e voz àqueles que, no silêncio da terra, esperam ser lembrados.
O Cemitério dos Pretos Novos é símbolo do sofrimento, da desumanização e também da resistência dos povos africanos trazidos à força para o Brasil. Sua história nos lembra que as raízes do Brasil moderno estão profundamente entrelaçadas com a dor da escravidão, mas também com a força e a perseverança dos que sobreviveram.
A redescoberta desse local, e o trabalho de preservação liderado por instituições como o IPN e por pesquisadores como Júlio César Medeiros da Silva Pereira, oferecem uma oportunidade histórica de memória, reconhecimento e transformação.
A história, como a flor que brota da terra marcada pela dor, segue viva — e deve ser contada.
PEREIRA, Júlio César Medeiros da Silva. À flor da terra: o Cemitério dos Pretos Novos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 2014.
LOPES, Nei. O Rio Negro: memória e identidade. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.
FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como Projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil no Rio de Janeiro (1790-1840). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
GUEDES, Roberto. Pretos Novos: arqueologia histórica e memória da escravidão no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPHAN, 2011.
UNESCO. Cais do Valongo – Patrimônio Mundial. Paris: UNESCO, 2017.
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 22 fev 2025
Hoje foi ao ar, no canal da @oficialmangueira no YouTube, a entrevista em que compartilho a emoção de ver meu livro À Flor da Terra: O Cemitério dos Pretos Novos ganhar vida no enredo do Carnaval 2025! 🎭✨
O Cemitério dos Pretos Novos é mais do que um registro de dor — é um território sagrado da memória africana no Brasil. Ali, onde tantos corpos foram sepultados sem voz, a cultura Banto resiste em cada fragmento, revelando histórias de luta, espiritualidade e ancestralidade. Transformar essa história em samba é dar voz ao que ficou à flor da terra, permitindo que a Sapucaí se torne palco de uma profunda reflexão sobre memória e resistência.
Meu sincero agradecimento à Mangueira, que mais uma vez mostra seu compromisso com as histórias invisibilizadas, e ao talentoso carnavalesco @sidney_franca , cuja sensibilidade e criatividade trouxeram essa narrativa à luz e deu vida a um enrredo fantástico que homenageia a cultura banto de forma magistral.
Confira a entrevista completa no YouTube pelo link a baixo:
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 11 dez 2024
O Bloco Carnavalesco Filhos de Gandhi apresenta, com orgulho, como temática para o carnaval de 2025 a emblemática Revolta dos Malês, um marco indelével da resistência negra no Brasil, que ecoa até os dias de hoje. O desfile deste ano não se limita a celebrar a história de luta e bravura dos africanos muçulmanos que se insurgiram contra a opressão escravista; é um tributo à memória daqueles que, com coragem e fé, desafiaram o sistema que os aprisionava.
Em um ritmo pulsa que vibra nas batidas da nossa ancestralidade, o enredo traça paralelos entre luta pela liberdade, pela preservação cultural e espiritual da época e os desafios que o próprio bloco, bem como o nosso povo preto tem enfrentado em uma sociedade cada vez mais injusta. Cada passo dado na avenida reverberará a luta contínua pela dignidade e pelo reconhecimento, enquanto a história se entrelaça com o presente, nos lembrando que, o apagamento histórico social não passará incólume diante da nossa manifestação cultural.
Através dessa escolha temática, o Bloco Filhos de Gandhi reafirma seu compromisso em manter viva a chama da herança afro-brasileira, um fogo que brilha intensamente em meio às intempéries e obstáculos que as organizações que defendem a cultura popular, especialmente a de nosso povo negro, enfrentam. Em cada canto, em cada sorriso, se revela a força de um legado que se recusa a ser silenciado, um eco de resistência que se levanta contra o esquecimento, prometendo que a luta por justiça e liberdade nunca cessará.
Neste carnaval, ao desfilarem, os integrantes do Bloco Filhos de Gandhi não apenas celebram um passado glorioso, mas também escrevem novas páginas na história, relembrando que a resistência é uma herança que transcende gerações e que o legado dos Malês vive nas veias de cada um que se levanta, unindo-se em um só grito de liberdade e esperança.
Fundado em meio ao contexto cultural da Pequena África, o Bloco Afoxé Filhos de Gandhi possui uma trajetória marcada pela resistência e preservação da memória ancestrálica, o que o torna um guardião das tradições africanas em território carioca. O enredo de 2025 busca homenagear a Revolta dos Malês, revisitando a história de africanos muçulmanos, originários de sociedades islâmicas da África Ocidental, que foram trazidos ao Brasil pelo infame comércio do tráfico negreiro. Esses homens e mulheres, conhecidos por sua profunda fé e organização social, mantinham práticas religiosas, como a leitura do Alcorão e o uso do árabe como idioma de resistência, que se tornaram centrais para a organização da insurreição.
A escolha desse tema para o desfile de 2025 reflete a própria história do Bloco Afoxé Filhos de Gandhi, que, tal como os Malês, luta pela preservação de sua identidade cultural em meio a adversidades. Assim como os Malês enfrentaram o apagamento de suas práticas culturais e religiosas sob o jugo da escravidão, o bloco Afoxé Filhos de Gandhi inspirado no Ijexá Filhos de Gandhy, bloco carnavalesco criado em Salvador, dois anos antes e que se apresentava tocando o ijexá, e entoando na língua iorubá, iniciou sua organização em torno de componentes que moravam afastados do perímetro urbano, provenientes das camadas mais pobres e subalternizadas da população. Seus integrantes moravam majoritariamente em bairros afastados da área central da cidade, sobtudo, oriundos das camadas populares mais pobres e marginalizadas da população carioca que, enfrentaram sucessivos processo de apagamento histórico, tal como os escravizados Malês, com garra e resistência.
A Revolta dos Malês, um levante minuciosamente planejado e inspirado pos escravizados islâmicos, demonstrou o poder de uma comunidade organizada em torno de sua identidade cultural e espiritual. “malês” que no idioma Iorubá significa muçulmano, contava com cerca de 600 africanos escravizados, cujos lideres Ahuna; Dassalu; Gustar; Pacífico Licutan; Sule ou Nicobé; Manoel Calafete (escravizado liberto); Elesbão do Carmo e Luís Sanim; haviam combinado para que a revolta se desse no final do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos que marcava “Lailat al-Qadr”, a festa da Noite da Glória — ocasião que entrou para a história como o dia da revelação do Corão a para Muhammad (Maomé), o profeta do islamismo.
Organizados em torno de seus ideais de liberdade, irrompeu na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835, como um clamor audacioso contra a opressão escravagista, tragicamente frustrado quando a trama de seus protagonistas foi denunciada, fazendo desmoronar todo um plano cuidadosamente elaborado. Esses valentes escravizados urbanos, que desfrutavam de uma relativa liberdade de locomoção, sonharam com um futuro onde poderiam resgatar e preservar sua dignidade e identidade.
O espírito islâmico permeava a revolta, manifestando-se nos abadás brancos que adornavam os corpos dos revoltosos, um traje emblemático da tradição muçulmana. Muitos deles traziam consigo amuletos que continham passagens do Alcorão escritas em árabe, objetos que acreditavam conferir-lhes proteção contra os horrores da repressão. Assim, cada elemento da vestimenta e cada amuleto carregavam a esperança de um renascimento cultural e espiritual.
As ruas de Salvador se tornaram o palco de intensos combates, que ecoaram por horas a fio, onde a bravura e a determinação desses africanos se confrontaram com a brutalidade das forças opressoras. O trágico resultado levou à morte de 70 homens e mulheres que lutavam por suas vidas e liberdade, além de nove integrantes das forças que se opuseram a eles. A batalha final ocorreu em um local marcado pela história, conhecido como Água de Meninos, onde muitos, encurralados, buscaram a salvação nas águas do mar, apenas para encontrarem a morte em suas profundezas.
A Revolta dos Malês, mesmo em seu trágico fracasso, é um testemunho da coragem e do anseio por liberdade, uma chama que ainda ressoa nas almas de todos aqueles que lutam contra a opressão e pela dignidade.
As punições desferidas contra os envolvidos na Revolta dos Malês foram implacáveis, estendendo-se até mesmo aos libertos que, de alguma forma, não participaram da insurreição. Os castigos foram severos e implacáveis: prisão, açoites, deportação e execução tornaram-se o trágico destino dos revoltosos. Quatro deles, Jorge da Cruz Barbosa (Ajahi), Pedro, Gonçalo e Joaquim, foram condenados à morte e executados por fuzilamento, símbolos da coragem que se ergueu contra a opressão, mas que encontrou na brutalidade do sistema escravista, sua cruel punição. Jamais o poder instituído deixaria passar em branco, os pretos africanos e crioulos que ousavam sonhar com a tão desejada liberdade.
Esse levante ousado, embora tenha sido reprimido, contribuiu para intensificar a repressão sobre a população de escravizados e libertos em Salvador, gerando um clima de medo e desconfiança. Uma lei aprovada naquele ano determinava que todos os africanos e descendentes suspeitos de envolvimento em revoltas seriam deportados de volta ao continente africano. Estatísticas revelaram que milhares de negros foram enviados de volta à África, uma ação que revelava o desespero dos senhores de escravos diante da possibilidade de uma revolução que ecoasse os ecos da Revolução Haitiana.
Imbuídos deste mesmo espirito de luta, o Bloco Afoxé Filhos de Gandhi se ergue anualmente, dançando nas ruas da Pequena África, onde a memória ancestral pulsa com força. Em meio a adversidades, reafirma seu compromisso com a herança cultural e entoa um poderoso canto de liberdade. O enredo de 2025, ao lembrar a coragem indomável dos Malês, exalta a importância da transmissão cultural e da organização do povo preto, como faróis de resistência que iluminam o caminho em tempos de incertezas.
Como os Malês, que mantiveram viva sua fé e identidade em meio à opressão, o bloco reverencia, com seus atabaques e tamborins, a ancestralidade africana e suas diversas manifestações. Ele resiste ao apagamento cultural, enfrentando o peso do tempo e os desafios econômicos, transformando cada nota musical em um ato de afirmação.
O desfile de 2025 promete ser uma celebração da resiliência cultural, um hino à bravura. Tal como os Malês enfrentaram a repressão colonial com coragem e união, o bloco, em sua trajetória pelas vibrantes ruas do Rio de Janeiro, carrega o legado de resistência, desafiando a invisibilidade social e os obstáculos estruturais que tentam silenciá-lo.
Em cada batida de tambor e em cada marcação do surdo tocado, em cada canto entoado, o bloco será a voz dos Malês revividos, cuja memória jamais será esquecida e, em seu ritmo imponente, lembrando todos os agentes do apagamento histórico sofrido pelo povo negro, que o Haiti ainda é logo ali. O povo preto, agora se organiza, se levanta e luta. Salta o canto na avenida e reafirma o seu lugar de direito na sociedade e na história.
Autor: Júlio César Medeiros da Silva Pereira
Prof. Dr. em História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense e pesquisa dos do instituto de Memória e Pesquisa Pretos Novos.
Membro do Comitê Cientifico do Cais do Valongo
Membro do Comitê Consultivo do Memorial Mãos Negras (Jardim Botânico)
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 24 Maio 2023
Na segunda aula do curso de extensão “A saga dos pretos novos”, mergulharemos profundamente na análise do tráfico atlântico de escravos, focando especificamente nas experiências e nas condições enfrentadas por homens e mulheres nesse contexto histórico. Abordaremos a temática sob a ótica da desigualdade de gênero, destacando as distintas realidades vivenciadas por cada um dos sexos durante essa terrível época.
O tráfico atlântico de escravos foi um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade, no qual milhões de indivíduos foram capturados em terras africanas e submetidos a um destino de exploração, violência e sofrimento. No entanto, é importante compreender que homens e mulheres enfrentaram diferentes experiências dentro desse terrível sistema.
Durante a aula, exploraremos como os homens escravizados eram frequentemente selecionados e tratados de maneira distinta das mulheres. Enquanto os homens eram vistos como força de trabalho braçal, destinados principalmente a trabalhos pesados nas plantações, as mulheres eram frequentemente exploradas também para o trabalho doméstico e sexual. Examinaremos as condições vivenciadas por ambos os sexos, destacando as formas de violência, as doenças, a falta de higiene e os impactos psicológicos decorrentes desse sistema desumano.
Além disso, discutiremos as estratégias de resistência adotadas por homens e mulheres escravizados. Veremos como, apesar das adversidades, esses indivíduos encontraram maneiras de preservar suas culturas, recriar formas de sociabilidade e resistir às opressões impostas. Abordaremos também as diferentes percepções de masculinidade e feminilidade dentro desse contexto, e como essas noções influenciaram a experiência de homens e mulheres escravizados.
Nesta aula, convidamos você a refletir sobre as diferenças de gênero no tráfico atlântico de escravos, reconhecendo a necessidade de uma análise mais aprofundada das experiências vividas por homens e mulheres. Ao compreendermos as nuances dessas realidades, poderemos construir uma visão mais completa e sensível do passado, contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária no presente.
Esperamos que você se junte a nós nessa jornada de conhecimento e reflexão, na qual iremos desvendar as complexidades da saga dos pretos novos e promover o resgate histórico de vozes silenciadas por tanto tempo. Prepare-se para uma aula enriquecedora e provocativa, que certamente ampliará sua compreensão sobre o tráfico atlântico de escravos e suas repercussões.
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 21 out 2021
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“Se a humanidade teve origem em África, é possível que também ali tenha surgido a arte.”
Frank Willet, Arte Africana, 2017.
Frank Willett (1925 – 2006), estudioso da considerado pela crítica especializada mundial autor da melhor introdução geral à arte africana. Desde que lançou a sua obra: Arte Africana, em 1971, seu trabalho tem contribuído de forma singular para com estudo da arte deste continente antes tão mal compreendido. Nela, Willett utiliza uma linguagem acessível, desconstruindo velhos estereótipos e estimulando-nos na busca pelo aprofundamento do conhecimento de África através da produção artística.
Neste breve artigo, farei um breve resumo da obra, para aqueles que quiserem conhecer mais o trabalho deixando minhas impressões e comentários, que poderão ser uteis aqueles de alguma forma, como algum tipo de apontamento. Fica claro que, nossa contribuição é ainda muito modesta perto do tamanho da obra e não se propõe a esgotar o tema, muito menos se coloca como uma análise exaustiva de um livro tão profundo quanto denso, um feito que demandaria uma pesquisa mais aprofundada e devidamente apresentada em círculos acadêmicos voltados para esta discussão.
Pelo contrário, este texto se coloca apenas como breve introdução, deixada aos meus alunos e colegas que, como eu, amam o continente africano e tudo o que ele produz. Espero que seja de algum proveito. Sendo assim, vamos as minhas observações.
Artefato africano, sem identificação do autor, em exposição no Museu Afro Brasil, em São Paulo
Neste texto, iremos analisar apenas o capítulo 2, por entender que seria aquele que melhor sintetizaria a forma como educadores e professores de História da África poderiam aproveitar suas contribuições acrescentando as suas aulas, uma visão inovadora e crucial para quebrar os preconceitos ainda existente em sala de aula em torno da arte produzida pelos africanos e as suas contribuições para o mundo.
Para produzir estas impressões, não apenas estudei o trabalho de Willet, quanto busquei me aprofundar no assunto, pesquisando e buscando informações com especialistas como o professor …. cuja agradável conversa, nos rendeu um podcast, que também está disponível nas plataformas digitais bem como neste meu site.
O trabalho de Willett não apenas esclarece os contextos ecológicos e sociais da criação estética africana como também faz leituras altamente precisas de sua linguagem, suas estruturas seus estilos. De uma parte, mostra-nos, por exemplo, a relação entre floresta, tipos de madeira, sociedade sedentária e produção escultórica.
Capa da obra
No capítulo 2, intitulado “O desenvolvimento do estudo da arte africana”, aqui analisado, Willett apresenta uma crítica aos diversos estudos que abordavam a arte africana de acordo com a perspectiva eurocêntrica que reproduzia, ainda, uma noção de arte “primitiva”, se contrapondo a diversas descobertas no campo da arqueologia. Nesta seção, o autor demonstra, brilhantemente, que a sofisticação presente na arte africana não se trata-se de um esmero acidental, nem se encontra desconectada das ideias e práticas das populações africanas contemporâneas como sugeriram diversos pesquisadores europeus.
Na página 40, por exemplo, o autor discute o termo primitivo, o qual segundo ele, o termo “arte primitiva” tal como ficou conhecido é um legado dos antropólogos do século 19 que viam a Europa da época como ápice da evolução social, por isto, o mais correto seria dizer correto seria dizer arte africana tradicional ou arte tradicional africana segundo ele o termo primitivo refere-se a uma definição etnocêntrica que, não cabe em nossos dias tendo em vista que já carrega em si, uma hierarquia que coloca a produção africana em escala de inferiorização e preconceito.
Segundo ele, a forma mais antiga de arte que conhecemos é a rupestre não plástica ou seja pinturas entalhadas em superfícies de pedras lisas, as quais ainda, no início do século 20, tenham parecido menos importantes que a escultura, embora os avanços mais estimulantes na arte africana contemporânea ainda encontram-se na pintura e nas artes gráficas, e não na escultura.
A partir da página 40 ele começa a traçar o desenvolvimento da história da Arte Africana. Ele ressalta que a primeira descoberta das pinturas rupestres da idade da pedra, na Europa, foi feita em Altamira no ano de 1878, mas não foi senão na primeira década do século 20 que sua antiguidade foi amplamente reconhecida. Um dos primeiros autores foi Gottfried Semper, que escreveu o livro o Estilo nas artes técnicas e tectônicas, ou estética prática que surgiu no início dos anos 1860. Arquiteto, Semper estava interessado principalmente nas formas arquitetônicas sua premissa era de que uma vez que a primeira necessidade do ser humano era proteção para si e para a sua fogueira ele passou a trançar gramíneas para protegê-las do vento.
Semper passou a desenvolver a ideia de que o homem teria desenvolvido a técnica do entrelaçamento produzido um padrão que o levou ao desenvolvimento das técnicas e dá de tecelagem. Essa linha de raciocínio que se baseava na ideia da busca deliberada de padrões foi convertida pelos discípulos de Semper em um sistema determinista e materialista usado para explicar todas as formas artísticas não ocidentais.
Willett acredita, e eu concordo, que este pensamento seja frágil demais, pois, segundo o que ele mesmo diz, Semper e seus seguidores não possuíam dados que sustentassem a esta hipótese. Seguindo neste desenvolvimento da Arte Africana construída por Willet, ele nos apresenta em seguida Max Schmidt, etnólogo que publicou seus estudos indígenas no Brasil central em 1905 nos quais demonstrou como os motivos desenvolvidos nas técnicas de entrelaçamento foram aplicados na decoração das cerâmicas. No entanto, segundo Willett, Schmidt, claramente, montou os dados para adaptá-los à hipótese de Semper, ao invés de construir hipóteses que se adequassem aos dados. Smith ignorou por exemplo os motivos espirais e as linhas ondulantes que, embora geométricos, dificilmente teriam sido produzidos através do entrelaçamento em linha reta. Esse teria sido que podemos chamar de uma fase marxista da história da arte africana.
Segundo Willett, esses primeiros estudos estavam preocupados exclusivamente nos ofícios. Willhen Worringer, historiador e teórico da arte alemã, publicou um estudo teórico filosófico em 1908 em que rejeitou essa base tecnológica de origem da arte. Para Worringer toda a arte era basicamente uma expressão da volição, embora, muitas vezes, esta pudesse modificada pelo seu propósito. Ele era um evolucionista e estava convicto de que as primeiras formas artísticas de formas geométricas que conduziram de modo lógico inevitável ao naturalismo, portanto ele rejeitava que as pinturas figurativas rupestres do sul da França fossem obras de arte, e repudiava “os feitos artísticos” dos africanos nativos “e da maioria dos povos primitivos”, excetuando-se apenas aqueles que exerciam dons ornamentais
O estudo do ornamento tomou uma nova direção com os trabalhos do antropólogo Franz Boas que publicou a obra “um estudo sobre a arte decorativa dos índios da Costa Norte do pacífico da América do Norte”, publicado em 1897 e mais tarde incluído em seu livro “arte primitiva” de 1927. Nunca é de mais lembrar, embora o autor não cite, Franz Boas vai alterar não apenas o curso da História da Arte Africana, como vida de um outro jovem sociólogo em visita aos Estados Unidos, Gilberto Freyre.
Nessa obra, Boas demoliu a teoria da degeneração; sua obra se referia mais ao ornamento do que às culturas. Boas acreditava que a arte não poderia existir antes que o artista desenvolvesse perícia suficiente para dominar o seu material e assinalava também que, embora a forma, assimetria e o ritmo, no conjunto, tenham um efeito estético em si mesmo, a forma também poderia transmitir sentidos, o quê acrescentaria um valor emocional acentuando-se o efeito.
Sensacional, e inovador para época, pois o africano poderia ser visto agora como uma pessoa, pois apenas pessoas são capazes de transmitir a emoção, possuem alma, algo impensado dentro da lógica determinista e evolucionista vigente no século anterior.
Boas dividia a arte em duas categorias: arte representativa, hoje conhecida como representacional; e simbolismo, anteriormente conhecida como geométrica. Para ele, na arte representativa: forma e conteúdo são igualmente importantes, enquanto na arte simbólica o conteúdo é muito mais importante que a forma.
Tais estudos levaram à conclusão importantíssima, a de que a mesma forma pode transmitir distintos significados em diferentes sociedades,
ou seja, forma e conteúdo não podem ser considerados separadamente em estudos de desenvolvimento ao longo do tempo.
Mas um outro clássico, de maior alcance do que os já citados, por situar os problemas da arte e da decoração no contexto mais amplo da cultura material, foi o trabalho do antropólogo R. U. Sayce. Em seu livro Artes e ofícios primitivos ele, de maneira ampla e critica, baseado em estudos anteriores, fez menções cautelosas sobretudo à convergência de desenhos para os clientes de fontes totalmente distintas.
Como característica geral desse primeiro momento, além de podemos citar o forte apelo marxista é o de concordarmos com o fato de que as técnicas de tecelagem, seja em esteiras ou cestos, tendem a produzir motivos de caráter geométricos, o que podemos chamar de “tecnomorfos”, ou seja, a forma que derivada da técnica. Portanto é provável que qualquer sociedade tenha desenvolvido seus próprios “tecnomorfos”, ou seja, as diversas manifestações de tecnologia em uma dada sociedade.
“como existe uma forte possibilidade que tais motivos tenham uma origem independente dentro da sociedade, são inadequados como indicadores da influência de uma sociedade sobre a outra”
(Frank; 2017, P. 43).
O estudo da escultura como algo distinto do ornamento começou nos últimos anos do século 19 quando a maior parte da literatura seguia uma das duas abordagens, a etnológica, similar a de Franz boas ao considerar que o conhecimento do conteúdo de uma obra de arte é fundamental para sua compreensão e até para sua apreciação, e a noção estética, que acreditava que tal conhecimento era desnecessário para sua apreciação. Segundo Frank as duas escolas têm se aproximado gradualmente, antropólogos vem prestando atenção à história da arte, e os críticos de arte tem prestado mais atenção ao contexto cultural da arte africana “afinal, dificilmente seria possível separar a forma do conteúdo em sociedades nas quais o artista é um membro integrante da comunidade, não um indivíduo empenhado em expressar uma visão puramente pessoal.” (Página 45, 46)
Segundo Frank os antropólogos a princípio, tratavam as culturas apenas com um elemento religioso, mas com o tempo passaram anotar a divergência das proporções naturais reveladas nas peças. Um destes primeiros antropólogos foi Léo Frobenius que em 1896 escreveu sobre a arte dos povos não europeus sugerindo que estes possuíam o impulso de copiar formas naturais e que tais cópias transmitiam ideias e significado, ou seja, que seu conteúdo conferia significado a forma. Essas reações são culturalmente determinadas, por isso a forma tem aquele significado apenas para a sociedade a qual pertence.
“Mas foi somente entre 1904 e 1905 que a arte africana começou a produzir o impacto significativo” (Página 47.) Foi quando Derain comprou uma peça africana e mostrou-a a Picasso e Matisse que também ficaram bastante impressionados com ela. A revolução da Arte do século XX estava em curso ali,
O autor, então, passa a descrever o impacto da arte africana sobre os trabalhos de artistas europeus como: André Derain, Henri Matisse, Georges Braque, Pablo Picasso e Juan Gris. Ao final, ele alerta para o fato de que mesmo quando artistas e pesquisadores europeus e norte-americanos abordaram a arte africana com benevolência, ainda assim estavam imbuídos de pensamentos etnocêntricos que não levam em consideração os propósitos das comunidades e dos indivíduos africanos que produziram as obras.
Por tanto, o trabalho de Willett, sobretudo neste capitulo aponta para para o fato de que, mesmo quando artistas e pesquisadores europeus e norte-americanos, tratam a arte africana com afeição, isto não quer dizer que estejam livres de prejulgamentos etnocêntricos que, por sua vez, desconsideram os propósitos das comunidades e dos indivíduos africanos que produziram as obras, ou seja, o meio social em que a obra foi produzida.
A obra de Frank Willet nos ajuda a pensar como o preconceito estava presente no inicio da História da Arte, em relação à produção do continente africano, e como tal pensamento permaneceu mesmo durante o século 20, em confronto com estudos etnológicos que procuraram vencer tais amarras e libertar as amarras que prendiam o espirito criativo africano ao conceito de primitivo e usual.
Fiorotti, Silas. A sofisticação da arte africana não é mero acidente. Revista A Pátria, 13/03/2021. Disponível em: https://apatria.org/cultura/a-sofisticacao-da-arte-africana-nao-e-mero-acidente/
Willett, F. African Art. 3.ed. London: Thames & Hudson, 2003. [Edição brasileira: Edições Sesc / Imprensa Oficial, 2017.]
Einstein, C. Negerplastik
[Escultura negra]. Florianópolis: Edufsc, 2011 [1915];
Munanga, K. A dimensão estética na arte negro-africana
tradicional. In: Página do MAC-USP, São Paulo, 07/6/2006.;
O’Neill, E.; Conduru, R. (orgs.). Carl Einstein e a arte da África. Rio de Janeiro: Eduerj, 2015.
Price, S. Arte primitiva em centros civilizados. Rio de Janeiro: Edufrj, 2000.
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 09 jul 2021
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Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 13 Maio 2021
Veja como foi a minha entrevista no Programa Encontro com a Fátima Bernardes
Fonte: Encontro com Fátima Bernardes | Professor resgata história sobre reis e cultura africana | Globoplay
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 07 abr 2021
Many years ago, in the African continent, millions of Africans were brought to other countries within the condition of slavery, from which came the origin of the African Diaspora.
Nearly 10 million of the African slaves were brought to the Americas. Of these 10 million, 6 million were brought to Brazil to labor in sugarcane fields, in the mines and on coffee plantations. Of the Africans who were brought approximately 60% were sent to the Southeast region. Many of these Africans were from the linguistic and cultural group known as the Bantu.
Upon disembarking from the slaveship in Valongo, in the city of Rio de Janeiro, the enslaved were inspected at the Customs, counted and landed in the direction of the slave markets in Valongo. Those who arrived dead, or died in the sale stalls, were taken to the Black New Cemetery (Cemitério dos Pretos Novos).
In the Cemetery of the New Blacks, the bodies of the enslaved newcomers were never buried. They were left to the ground until they were burned and dismantled so that more bodies could fit. This deal shows that for Brazilian society at the time, slaves were “nothing” but bodies to be discarded in order to rot and smell, nonetheless for the African culture to which they belonged, being buried in the cemetery of the New Blacks meant a cut in their ancestral lineage that would prevent them from being resurrected in Africa.
Several travelers, among them Freireyss, scandalously described the Cemetery of the New Black and how those slaves were buried because there was no indication that the enslaved were decently buried. It is estimated that from 1769 to 1830, the date of its extinction, about 60 thousand enslaved people were buried there, despite the space of a small block of 50 fathoms.
During 1824 to 1830, the Cemetery of the New Black buried around 6.000 bodies in such small area. In the Livro de Óbitos da Freguesia de Santa Rita there are death recording which may be found a list of respective ships, ethnics and ports of origin, age, and the marks of slave masters on their bodies. In 1830 the cemetery was closed because of the anti-slave trade law and its location was lost.
But, in January of 1996, a house located at 36 Pedro Ernesto Street, in Gamboa was surprised by a great discovery. During the works, the bones of the enslaved were found. the cemetery had been rediscovered. Since then, the family of Mr. Petrucio and Mercedes, owners of the property, along with several volunteer researchers have been striving to keep the memory of Africans buried there alive.
Recently, the team of archaeologists discovered the first complete bone there, a young, African, enslaved woman who was named Bakhita in honor of the Catholic saint who fought slavery in Africa.
In conclusion, the cemetery of the new blacks was and still is the indisputable proof of slavery and the way in which human beings treated people they believed to be inferior due to their condition of enslavement uprooted from the African continent.
(mais…)Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 13 mar 2021
“O cemitério destinava-se ao sepultamento dos pretos novos, isto é, dos escravos que morriam após a entrada dos navios na Baía de Guanabara ou imediatamente depois do desembarque, antes de serem vendidos. Ele funcionou de 1772 a 1830, no Valongo, faixa do litoral carioca que ia da Prainha à Gamboa.
Funcionara antes no Largo de Santa Rita, em plena cidade, próximo de onde também se localizava o mercado de escravos recém-chegados. O vice-rei, marquês do Lavradio, diante dos enormes inconvenientes da localização inicial, ordenou que mercado e cemitério fossem transferidos para o Valongo, área então localizada fora dos limites da cidade.
O Valongo entrou, então, para a história da cidade como um local de horrores. Nele, os escravos que sobreviviam à viagem transatlântica recebiam o passaporte para a senzala. Os que não sobreviviam tinham seus corpos submetidos a enterro degradante. Para todos, era o cenário tétrico do comércio de carne humana.”
Postado por MEDEIROS DA SILVA PEREIRA em 07 jul 2020
Novo video em meu canal sobre o impacto da pandemia da Covid 19 sobre a saúde da população negra