Capítulo: A personagem dramática em Pirandello: L’umorismo cupo
Ano: 2006
Tipo de publicação: Artigo em revista acadêmica nacional com revisão por pares
Revista: Arte em Revista – Revista de arte e cultura
Resumo:
O artigo analisa a concepção dramatúrgica de Luigi Pirandello a partir da noção de humorismo sombrio (l’umorismo cupo), discutindo como o autor subverte os princípios do teatro naturalista ao transformar a personagem em inventora de si mesma. Para Pirandello, a arte não é imitação da realidade, mas criação subjetiva. Ele desmonta os mecanismos da representação teatral tradicional, revelando os processos construtivos da cena e propondo uma nova poética baseada na fantasia e na introspecção.
A autora analisa o prefácio de Seis personagens à procura de um autor (1921), no qual Pirandello apresenta a fantasia como uma “empregadinha zombeteira vestida de luto”, imagem que sintetiza o tom de seriedade e ironia de sua dramaturgia. O humor pirandelliano não visa o riso fácil, mas a inquietação existencial, revelando contradições e angústias humanas. O texto dramatúrgico se constrói como campo de tensão entre lógica emocional e absurdos poéticos.
A personagem do “Homem da flor na boca” ilustra essa lógica do humor sombrio. Ele tenta se convencer de que a vida é tola e vã, projetando na morte uma figura quase afetuosa. O riso provocado por suas falas — como a ideia absurda de casas correndo para fugir do terremoto — logo se transforma em amargura, à medida que a metáfora revela a iminência da morte. Esse humor melancólico e paradoxal é característico da poética pirandelliana, cuja profundidade reside na capacidade de inquietar e emocionar ao mesmo tempo.






