Capítulo: Algumas considerações sobre a arte de “interpretar” um texto teatral;
Ano: 2006;
Livro: Metodologias de Pesquisa em Artes Cênicas;
Editora: 7Letras / ABRACE — Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas;
Resumo:
A afirmação, já banalizada em nossos dias, de que o texto teatral deve ser visto enquanto uma obra em processo, traz questões epistemológicas importantes que precisam ser sistematizadas por quem estuda o fenômeno teatral. Essa mudança de perspectiva propõe abandonar o paradigma da obra fechada, em favor do texto como obra aberta. Umberto Eco, em Obra Aberta, defende que a ambiguidade é característica essencial da arte, e que uma obra de arte deve provocar a imaginação e inteligência de seus leitores ou espectadores, não podendo exigir fidelidade a uma interpretação única.
Essa ideia revolucionária está ligada à efervescência cultural e ideológica de sua época, que exigia a superação de limites e exclusões. A arte, portanto, deveria apresentar sempre algo novo e ambíguo, e o artista de vanguarda não podia esperar submissão ou passividade de seu público. A autora destaca ainda que, na prática, muitos intérpretes ainda resistem à alteridade do texto — evitando seu enfrentamento direto — e cita Gerald Thomas para exemplificar essa fuga, em que o texto é tratado como um obstáculo ou “coisa estranha”.
Conclui-se que, ao partir da própria estrutura textual e dos elementos fornecidos pelo texto em função de seu leitor-modelo, pode-se avaliar criticamente interpretações desviantes. Essa abordagem permite, inclusive, refletir sobre o quadro cultural atual e a qualidade das leituras realizadas ao longo do tempo. Assim, o trabalho interpretativo pode contribuir para a valorização do teatro como prática reflexiva e histórica, e para a transformação do panorama cultural em que ele se insere.






