Capítulo: Marta Abba: Uma Atriz Pirandelliana;
Ano: 2008;
Tipo de publicação: Artigo em revista acadêmica;
Revista: Serafino – Cadernos de Pós-graduação do Programa de Língua e Literatura Italiana (FFLCH/USP);
Resumo:
Numa entrevista concedida em janeiro de 1929, Luigi Pirandello declarou que Marta Abba, sua fiel intérprete, o acompanhava com devoção e inteligência, renunciando a uma carreira própria para seguir suas criaturas ficcionais. No entanto, as cartas trocadas entre ambos revelam uma relação mais complexa. A dramaturgia pirandelliana se alimenta da personalidade densa e contraditória da atriz, cujos traços – como instabilidade, insegurança e audácia – foram transpostos para personagens femininas de sua obra.
Marta Abba aparece assim como uma figura enigmática, camaleônica, que vive em constante busca de si mesma. Pirandello a observa e a reconstrói, projetando nela um ideal de mulher que é ao mesmo tempo material e espiritual. Nas palavras do próprio autor, Marta carregava dores que não eram do corpo, mas da vida intensa e das múltiplas possibilidades de ser que habitavam nela — e que ele, como dramaturgo e “médico”, pretendia curar e traduzir em suas personagens.
A relação entre os dois ultrapassa o vínculo artístico e se converte numa troca simbólica e emocional que inspira um novo arquétipo feminino no teatro de Pirandello. Marta se torna o modelo de uma personagem marcada pela dúvida, força, fragilidade e complexidade. Essa presença molda parte significativa da galeria de figuras femininas pirandellianas e redefine a maneira como se compreende a construção cênica do feminino em sua dramaturgia.
