Capítulo: O confronto entre ator e personagem em Pirandello;
Ano: 2010;
Revista: Contexto – Revista semestral do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Espírito Santo;
Resumo:
A poética de Pirandello se ancora no desejo de “desaparição” do ator, na ideia de que o intérprete deve ser capaz de se sobrepor em “transparência” ao personagem dramático – concepção não muito distante das teorias do teatro naturalista do final do século XIX, mas que, como veremos, traz uma nada desprezível mudança de perspectiva aos pressupostos da escola naturalista quanto à função do intérprete e sua relação com a personagem.
Como produtor de realidades mais “reais” do que aquelas fabricadas pelo mundo cotidiano, o teatro, visto enquanto um procedimento mágico, não possui nenhuma garantia de sobrevivência. Se, ao final de seu percurso artístico, Pirandello não via mais o teatro como uma arte impossível, ele a vivencia como uma arte frágil e demasiadamente suscetível ao seu tempo, isto é, às formas de produção e de organização práticas de sua época e às características da própria sociedade, pois o teatro não é só a invenção da cena, ele só existe em confronto com sua realidade material.
Em 1976, na Gazzetta del Popolo, a atriz ainda se recorda das palavras do Maestro: “Pirandello me assegurava que a arte de nós, atores, também sobrevive à morte. Mas isto eu não entendia, porque somos apenas o fantasma que fala e que vive numa apresentação. Mas uma vez ele me escreveu, em uma daquelas famosas cartas: ‘O meu teatro só pode existir na luz de seu nome e depois se apagará com você’”. O teatro de Pirandello não se apagou com o desaparecimento da atriz, mas o dramaturgo conseguiu unir de maneira indelével sua escritura dramatúrgica ao nome da intérprete. Hoje, podemos dizer que a obra tardia de Pirandello ainda respira a matéria efêmera de sua arte.






