Capítulo: O Teatro Autobiográfico do Último Pirandello;
Ano: 2010;
Revista: :Estúdio – Artistas sobre outras obras;
Instituição: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa / Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes;
Resumo:
Muito já se disse sobre a obra teatral de Luigi Pirandello (1867–1936), mas pouco se explorou sua última fase dramatúrgica, especialmente as peças escritas para a atriz Marta Abba (1900–1988), principal intérprete e musa inspiradora dessa etapa. A autora defende que a dramaturgia tardia de Pirandello constitui um campo ainda pouco conhecido no Brasil, encoberto por leituras centradas em suas primeiras obras e marcada por metáforas pessoais e arquétipos recorrentes. Tais elementos transformam sua escrita numa constante tentativa de autorjustificação existencial.
Martha Ribeiro argumenta que a presença da atriz Marta Abba foi central não apenas como intérprete, mas como figura geradora de uma dramaturgia específica — viva, orgânica e profundamente ligada ao corpo do ator. Para Pirandello, a voz, os gestos, o ritmo e a fisicalidade da atriz aperfeiçoavam e completavam a palavra escrita. Em um contexto teatral italiano ainda preso à centralidade do texto literário, o autor aparece como figura revolucionária ao afirmar o ator como coautor do drama.
A relação entre Pirandello e Abba, tanto dramatúrgica quanto epistolar, cristalizou-se como um legado simbólico. Embora Marta Abba não tenha recebido em vida o reconhecimento que desejava na Itália, seu nome ficou para sempre associado à fase final da produção pirandelliana. O teatro do autor siciliano não se apagou com a ausência da atriz, mas permanece atravessado por sua presença efêmera, cuja arte continua a pulsar nas palavras que ajudou a encarnar.






