Capítulo: O gesto político e estético nas emoções: o que o teatro pode nos dizer ou ensinar sobre a pandemia?
Ano: 2023;
Livro: Da Cena Contemporânea, Org. André Luiz Antunes Netto Carreira, Armindo Jorge De Carvalho Bião, Walter Lima Torres Neto;
Resumo:
Pirandello sempre buscou em seu teatro a perspectiva da reflexão, da consciência do personagem sobre seu estado de personagem e, ampliando essa percepção para o sentimento do humano, impõe sua crítica a uma sociedade desdobrada em máscaras, que age não por vontade própria, mas por “reflexos de sentimentos”. Como muito acertadamente analisou Leonardo Sciascia a respeito da “sicilianidade” em Pirandello:
“Os sentimentos de honra, de respeitabilidade, de inveja, de vingança, são realmente vividos como reflexos formalísticos de sentimentos mais do que propriamente sentimentos” (1968, p. 20).
Esses “reflexos formalísticos de sentimentos”, característica do homem siciliano, seriam, para o crítico, a engrenagem interna do personagem pirandelliano e, estrategicamente, fundamentariam a leitura crítica de uma realidade racional na obra pirandelliana, tão em alta nos anos sessenta.
No entanto, seu teatro não pode ser considerado apenas pelo viés da reflexão. Tal perspectiva é redutora do sentido e da significação estética de sua obra, pois, além de não penetrar no que há de mais profundo em sua poética, elimina aquilo que existe de mais significativo no autor: sua dupla natureza.
Pirandello, em sua dramaturgia — e principalmente através de seus personagens “extravagantes” — nos apresenta, ao mesmo tempo, uma “roupagem” dialetal, que responde a essa perspectiva de realismo racional, mas também nos lança num jogo de significação metafísico, uma porção irracional, inconsciente, que desagrega a realidade, perscrutando o inefável.
Todavia, ao longo dos anos sessenta, o Pirandello mais enigmático, inexplicável pela via da razão, irá corresponder e alimentar uma perspectiva crítica que tenderá a avançar sobre o panorama dos estudos pirandellianos, consolidando-se definitivamente nos anos oitenta. A modalidade de leitura que, pouco a pouco, se impõe nos estudos pirandellianos é a da exploração da parte “subterrânea” de seu teatro, em consonância com as experiências cênicas realizadas pelo encenador Massimo Castri (RIBEIRO, 2010).






