Entender o texto é importante: repensando a tradução nos cursos de Latim

Existem melhores maneiras de facilitar e avaliar o entendimento de um texto do que ficar sentado em círculo lendo um inglês trôpego

Dani Bostick | 11 de setembro | Medium
Tradução Beethoven Alvarez | 11 de dezembro

Certa vez, herdei um grupo de estudantes que alegaram que só conseguiram sobreviver ao Latim I e II por causa do EcceRomaniTranslations.com. Eu fui cética a princípio, mas logo percebi que isso não era um exagero. Com muitas escolas adotando iniciativas de tecnologia 1:1 ou políticas Bring Your Own Device [Traga Seu Aparelho], os alunos têm acesso a recursos que podem rapidamente se tornar uma muleta. Antes da Internet, uma preparação mais preguiçosa de uma tradução para a aula consistia em ir à biblioteca, encontrar a edição correta do Loeb e ler o texto em inglês. Agora, os alunos podem “preparar” uma passagem imprimindo uma tradução em inglês ou simplesmente pegando a tradução no celular durante a aula.

Integridade acadêmica à parte, tarefas e avaliações de tradução podem ainda ser problemáticas. Mesmo que os alunos preparem uma tradução sozinhos, na sala de aula em que o foco principal é produzir uma versão em inglês de um texto em latim, os alunos se concentram mais no inglês do que no latim. Alguns alunos até recorrem à memorização de traduções para o inglês como preparação para os exames. O resultado é que os alunos têm um envolvimento muito pouco significativo com textos em latim e não desenvolvem habilidades de leitura.

Como você pode identificar se esse é um problema na sua sala de aula?

  • Os alunos conseguem obter ótimas notas nas traduções de textos que conhecem, mas não conseguem se sair bem com um texto que nunca viram?
  • Qual a porcentagem do tempo de aula e da quantidade de exercícios de casa que os alunos passam escrevendo traduções para o inglês e lendo-as em voz alta?
  • Quando os alunos têm dificuldade para entender, eles fazem perguntas sobre o texto, ou pedem para você repetir uma tradução em inglês ou esclarecer o significado de uma frase?
  • Como os alunos se preparam para os exames?
  • Os alunos estão lendo um latim que é muito difícil baseado no nível e experiência deles?
  • Como seus alunos veem o objetivo da tradução na sua sala de aula?


A professora Emily Wilson, cuja tradução da Odisseia foi considerada um “marco cultural”, fez uma ponderação sobre o assunto, observando que estudantes de todos os níveis nas salas de aula de Línguas Clássicas “usam a ‘tradução’ de uma maneira instrumental, como se quisessem resolver um quebra-cabeça do texto sem se dar conta do que o próprio texto está querendo dizer por si mesmo — o que é honestamente um completo desperdício do tempo de todos.”

Um bom primeiro passo é incentivar os alunos a não escreverem traduções enquanto ainda estão tentando entender o texto. Para esse fim, os alunos podem fazer anotações sobre sintaxe, ordem das palavras, estilo e outros elementos para que possam ler o texto independentemente. Segundo, banir a pergunta “O que _______ significa?” Em vez disso, trabalhe com os alunos para identificar o que está causando confusão, para que eles se acostumem a se concentrar no texto em latim.

Embora essa estratégia ajude a mudar o foco para o latim, ela ainda trata o texto como um quebra-cabeça, em vez de uma obra literária com a qual os alunos poderiam se envolver mais. A introdução de uma variedade maior de atividades e avaliações na sala de aula pode ajudar a melhorar o entendimento dos textos, fornecer informações corretas sobre o progresso do aluno e facilitar um envolvimento mais profundo e significativo com os textos.

Se a tradução tem sido a principal maneira de os alunos demonstrarem sua capacidade de entender o texto, aqui estão algumas alternativas:

1. Legendas para imagens. Os alunos podem desenhar ou encontrar imagens na Internet e escerever legendas para essas imagens usando o latim do texto que estão trabalhando. Recebi tarefas com legendas compostas inteiramente por memes e vinhetas.

2. Filmes com legendas. Os alunos podem criar um filme mudo com base no texto e criar legendas usando as palavras do autor latino estudado. Os filmes e as imagens com legendas podem ser apresentados e compartilhados em sala de aula como um recurso de revisão.

3. Caça ao tesouro. Forneça aos alunos uma lista de frases do texto para que eles encontrem e registrem. Existem muitas variações nessa tarefa. Os alunos podem estar em grupos e encenar essas passagens, ou você pode dividir a turma e pedir para um grupo identifique a passagem encenada no texto, numa espécie de jogo de adivinhação.

4. Correspondência de imagens. Forneça imagens e peça aos alunos que identifiquem a seção de texto a que correspondem.

5. Resumos simplificados. Em vez de pedir uma tradução, peça aos alunos que forneçam um resumo do texto em latim simplificado. O Gradus ad Parnassum é uma ótima ferramenta para ajudar os alunos a desenvolver seu vocabulário, para que possam resumir textos usando vocabulário diferente, em vez de apenas simplificar a sintaxe.

6. Conversas sobre o texto em latim. Depois que os alunos tiverem um resumo simplificado, faça perguntas sobre o texto em latim. Usar exercícios de completar as frases pode ajudar a tornar essa atividade menos difícil, se seus alunos não estiverem acostumados a se comunicar em latim.

7. Composições curtas em latim. Peça aos alunos para que escrevam pequenas composições usando o latim do texto como apoio. Os alunos também podem simplesmente resumir o texto em inglês e escrever latim — com palavras simples e pequenas frases — essa versão.

8.Substituições no texto. Os alunos podem demonstrar uma compreensão da sintaxe e da morfologia substituindo elementos do texto (por exemplo, verbos, objetos diretos, infinitivos em orações subordinadas). As instruções devem ser específicas para que os alunos saibam o que substituir.

9. Redação em latim “no estilo de”. Os alunos escrevem um pequeno trecho sobre uma assunto moderno no estilo de um autor antigo. Os professores podem fornecer frases modelo e exemplos de apoio.

Essas estratégias podem ajudar os alunos a desenvolver uma maior compreensão do texto e fluência de leitura de maneira mais eficaz do que o exercício de escrever uma tradução e compartilhá-la na aula ou em um exame. Contudo, ainda há um lugar para tradução na sala de aula de latim. Na segunda parte desta série, examinarei maneiras de tornar a tradução uma parte intencional e significativa do currículo.

Dani Bostick é professora de Latim no ensino médio e muito ocasionalmente de grego antigo na Virgínia, onde vive com o marido, filhos e os cachorros, que se parecem mais fantoches. Publicou on-line muitas coletâneas de lemas em latim, tem uma forte presença no Twitter como ativista em favor de sobreviventes de violência sexual e está disponível para trocar mensagens, bater um papo ou provocar agitação.

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