Ricardo Basbaum

cursos

materiais de apoio dos cursos

Arte conceitual, conceitualismo, arte pós-conceitual: derivações e atualizações (Pós-Graduação 2019_1)

Seria importante assimilar a “condição conceitual da arte contemporânea” como ponto de partida: a obra não apenas se percebe como parte de um circuito ou sistema de arte, em constante agenciamento performativo, como, ainda, se consolida como objeto plenamente autônomo, ao expandir a voracidade auto-reflexiva (própria do que chamamos arte) em direção ao seu núcleo de sentido, exteriorizante, em permanente questionamento de sua condição ou natureza enquanto obra de arte. Por um lado, se reconhece que, com a arte conceitual, decorrem possibilidades que tornam a ação artística objeto de um formalismo meramente proposicional, em grande parte anódino ou esquemático, às vezes mecânico. Por outro, também se instauram aí as condições para que o território da arte seja fortemente lançado para fora de si mesmo, em direção à uma tripla (pelo menos) problematização: do objeto (a obra), de seu campo (o circuito e suas institucionalidades) e de seu agente produtor (o/a artista, como sujeito individual ou coletivo). A partir de tal inflexão, se notam certas mutações, já longamente em curso, efetivamente indutoras de uma condição contemporânea da arte – ou seja, aquela que reinvindica incessantes atualizações enquanto constrói, mira e dispara o gesto de ação poética como problema, corte, intervenção, atravessamento, toque e contato: (1) abandona-se a especificidade dos meios; (2) assume-se uma prática além do olhar, tanto em direção à expansão sensorial (corpo), quanto em uma mobilização do invisível (ideia, teoria, conceito, diagrama); (3) abre-se de modo contundente às urgências do estar vivo, na medida em que as poéticas produzem “formas de vida”; (4) arrisca-se para além dos limites do que se articula como hábito ou automatismo; (5) abre terreno de relfexão em torno da “produção de si como artista”, a partir das “técnicas de si”, da construção da múltipla imagem do artista; (6) abre-se uma condição participativa, na medida em que se impõe ação de es/xpectação enquanto ativação e efetivação da obra; (7) o reconhecimento das camadas discursivas, em intricada relação com o “campo plástico”, indica a possibilidade de outras epistemologias coordenarem os núcleos de produção de sentido da obra, seja de modo auto-reflexivo, seja em suas redes de contaminação afetiva e de distribuição. A direção destes apontamentos será aquela em que os embates que envolvem a natureza da obra de arte se constituem no campo político, ao envolver dissenso, produção de diferença, formação de comunidade e ação instituinte.

Blocos de discussão:

1- arte conceitual, conceitualismo, pós-conceitualismo e depois

problematização dos termos em seus registros históricos; novos problemas, novos contornos para o objeto de arte; a natureza da obra de arte; o performativo; interemeios, interdisciplinar, transdisciplinar, extradisciplinar; relações entre sensação e conceito; relações entre arte e texto; o artista como intelectual; nova imagem do intelectual;

2- além da materialidade, além da invisibilidade

o esforço de materialização do sistema/circuito de arte; redes, teias, rizoma; ideia, teoria, künstlertheorie, conceito, diagrama; materialidade do discurso; texto como obra;

3- a produção de si como artista em um mundo (terminal?) neoliberal-global: arte, institucionalidade, mediações, comunidades

a hermenêuntica do artista; o artista, o ativista, o militante; o artista conceitual e o empreendedor neoliberal; as novas condições do trabalho; a condição participativa da arte contemporânea e a produção da experiência de es/xpectação; o gesto curatorial; experimentalismo; crítica institucional; arte enquanto prática instituinte; arte e agência; diversidade epistemológica; descolonização; a construção do lugar específico;

4- conceitualismo, sensorialidade, comunicação, compartilhamento

neconcretismo e o imediato; linha orgânica, corpo e política; campo afetivo, campo pático; biopolítica; campo da comunicação, contaminação, distribuição, compartilhamento; afetos de massa; teorias de mediação;

5- seminários

Bibliografia Geral

Bloco 1
arte conceitual, conceitualismo, pós-conceitualismo e depois

aula 3/4

BAILEY, Robert. “Introduction: A Theory of Conceptualism”, in SMITH, Terry. One and Five Ideas: On Conceptual Art and Conceptualism. Ed. Robert Bailey Durham and London, 2017 Duke University Press, 2017.

BUCHLOCH, Benjamin H. D.. “Conceptual Art 1962-1969: From the Aesthetic of Administration to the Critique of Institutions”, October, Vol. 55. (Winter, 1990), pp. 105-143.

FLYNT, Henry. “Essay: Concept Art”, in http://www.henryflynt.org/aesthetics/conart.html

KOSUTH, Joseph. “Arte depois da filosofia”, in FERREIRA, Glória, COTRIM, Cecília. (Orgs.), Escritos de artistas: anos 60/70, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006.

MEYER, Ursula. “Introduction”, in Conceptual Art. New York, Dutton, 1972.

RED CONCEPTUALISMOS DEL SUR. “Quiénes somos, dónde estamos, qué queremos”. Plus_6, Octubre_2009_Concepción_VIII región_Chile.

SHANKEN, Edward A. “Art in the Information Age: Technology and Conceptual Art”. LEONARDO, Vol. 35, No. 4, pp. 433–438, 2002.

SMITH, Terry. “Art and Art and Language”, in One and Five Ideas: On Conceptual Art and Conceptualism. Ed. Robert Bailey Durham and London, 2017 Duke University Press, 2017.

aula 10/4

ALLIEZ, Éric. “Desfazer/Refazer a condição pós-conceitual”. Revista Poiésis, n 27, p. 55-71, Julho de 2016.

CAMNITZER, Luis, FARVER, Jane e WEISS, Rachel. “Foreword”, in Global conceptualism: points of origin 1950s-1980s, Nova York, Queens Museum of Art, 1999.

KOTZ, Liz. “Text and Image: Rereading Conceptual Art” in Words to be looked at: language in the 1960s art. Cambridge, MIT Press, 2007.

MORAIS, Fabio. “Palavras para serem vistas: a linguagem na arte dos anos 1960”. ¿Hay en portugués?, nº6, Florianópolis, par(ent)esis, 2016. http://www.plataformaparentesis.com/site/hay_en_portugues/

OSBORNE, Peter. “The postconceptual condition or the cultural logic of high capitalism today”. Radical Philosophy, 184, mar/apr 2014.

OSBORNE, Peter. “Arte contemporânea é arte pós-conceitual”. Revista Poiésis, n 27, p. 39-54, Julho de 2016.

RAMÍREZ, Mari Carmen. “Táticas para viver da adversidade. O conceitualismo na América Latina”. Arte & Ensaios. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais EBA, UFRJ, ano XIV, número 15, 2007.

SIEGELAUB, Seth e PROJANSKY, Robert. Contrato de Cessão e Transferência de Obras de Arte com Reserva de Direitos. 1971. Florianopolis, par(ent)esis, São Paulo, Ikrek, 2016. http://www.plataformaparentesis.com/site/publicacoes/contrato.php

aula 17/04

BRITO, Ronaldo. “O Moderno e o Contemporâneo (o novo e o outro novo)”, in Arte Brasileira Contemporânea – Caderno de Textos 1, Funarte, Rio de Janeiro, 1980. Republicado in BASBAUM, Ricardo. (Org.) Arte Contemporânea Brasileira – texturas, dicções, ficções, estratégias. Rio de Janeiro, Contra Capa, 2001.

BUCHLOCH, Benjamin H. D.. “Benjamin Buchloh Replies to Joseph Kosuth and Seth Siegelaub”. October, Vol. 57 (Summer, 1991), pp. 158-161.

FREITAS, Artur. “A autonomia social da arte no caso brasileiro: os limites históricos de um conceito”. ArtCultura, Uberlândia, v.7, n.11, p. 197-211, jul-dez 2005.

KOSUTH, Joseph e SIEGELAUB, Seth. “Joseph Kosuth and Seth Siegelaub Reply to Benjamin Buchloh on Conceptual Art”. October, Vol. 57 (Summer, 1991), pp. 152-157.

KRAUSS, Rosalind. “Notes on the Index: Seventies Art in America”. October, Vol. 3 (Spring, 1977), pp. 68-81

KRAUSS, Rosalind. “Notes on the Index: Seventies Art in America. Part 2”. October, Vol. 4 (Autumn, 1977), pp. 58-67.

Bloco 2
além da materialidade, além da invisibilidade
aula 24/4

ALLIEZ, Éric. “Towards a Diagrammatic Critique of Aesthetics” in Assis, Paulo de e Giudici, Paolo (Eds.). The DarkPrecursor: Deleuze and Artistic Research – Volume II: The Dark Precursor in Image, Space, and Politics. Leuven, Leuven University Press, 2017.

BARRY, Robert. “October 12, 1969 – Conversation with the Editor”, in MEYER, Ursula. Conceptual Art, New York, Dutton, 1972.

BURNHAM, Jack. “Systems Esthetics”, Artforum, September, 1968.

MUSSO, Pierre. “A Filosofia da Rede”, in PARENTE, André (Ed.), Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre, Sulina, 2004.

MUSSO, Pierre. “Final Note: Examining the Network Concept”, in GARCIA, José Luís. Pierre Musso and the Network Society – From Saint-Simonianism to the Internet. Springer, 2016.

PARENTE, André. “Rede e subjetividade na filosofia francesa contemporânea”. RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.101-105, jan.-jun., 2007.

ROQUE, Tatiana. “Sobre a noção de diagrama: matemática, semiótica e as lutas minoritárias”. Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência – 1º quadrimestre de 2015 – Vol. 8 – nº 1 – pp.84-104.

aula 8/5

GALLOWAY, Alexander R. “Love of the Middle”, in GALLOWAY, Alexander R., THACKER, Eugene and WARK, McKenzie. Excommunication: three inquiries in media and mediation. Chicago, University of Chicago Press, 2014.

GIL, José. “Prefácio”, in A imagem nua e as pequenas percepções – estética e metafenomenologia, Lisboa, Relógio D’Água, 1996.

GIL, José. “Abrir o Corpo”, in ROLNIK, Suely e Diserens, CORINNE (Orgs.). Lygia Clark, da obra ao acontecimento: Somos o molde, a você cabe o sopro. Nantes, Musée de Beaux-Arts de Nantes, 2005, São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2006.

MASSUMI, Brian. “The autonomy of affect”, in Parables for the Virtual – Movement, Affect, Sensation. Durham/London, Duke University Press, 2002.

NEGARESTANI, Reza. “Where is the Concept? (localization, ramification, navigation)”. Transcription of a lecture given at Goldsmiths, University of London, 2013.

THACKER, Eugene. “Systems Biology: Parallel CorpoRealities”, in Biomedia. University of Minnesota Press, 2004.

Bloco 3
a produção de si como artista em um mundo (terminal?) neoliberal-global: arte, institucionalidade, mediações, comunidades

aula 29/5

ADAMS, Gavin. “Coletivos de arte e a ocupação Prestes Maia em São Paulo”. [2006] ARQUIVO DE EMERGÊNCIA: http://www.desarquivo.org

ADAMS, Gavin. “Art Collectives and the Prestes Maia Occupation in São Paulo (plus post-script)”. [2007] ARQUIVO DE EMERGÊNCIA: http://www.desarquivo.org

ALLIEZ, Éric, e LAZZARATO, Maurizio. “Subjectivation and war: Marx and Foucault”, in ALLIEZ, Éric, OSBORNE, Peter e RUSSEL, Eric-John (Eds.). Capitalism: concept, idea, image. Londres, CRMEP, 2019.

CRESPO, Nuno. “Ser pontual num encontro que só pode falhar. Notas sobre a contemporaneidade do artista”. Revista Poiésis, n 76, p. 21-38, Julho de 2016.

KESTER, Grant H.. “Colaboração, Arte e Subculturas”. Caderno Sesc_Videobrasil 2: Arte Mobilidade Sustentabilidade. São Paulo, Edições Sesc-SP e Associação Cultural Videobrasil, 2006.

LAZZARATO, Maurizio. Marcel Duchamp e a recusa ao trabalho. São Paulo, Scortecci, 2017.

OLIVEIRA NETO, Sebastião. Situação Prestes Maia: o processo de colaboração entre artistas, coletivos artísticos e o Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC). Ocupação Prestes Maia / São Paulo (2003-2007). Dissertação de Mestrado. USP, Programa de Pós-Graduação Interunidades, Estética e História da Arte (PGEHA), 2012.

STOTT, Tim. “Uma entrevista com Grant H. Kester”. Revista Poiésis, n. 23, p. 75-84, Julho de 2014.

WILSON, Mick. “Autonomy, Agonism, and Activist Art: An Interview with Grant Kester”. Art Journal, Fall 2007.

Bloco 4
conceitualismo, sensorialidade, comunicação, compartilhamento, epistemologias
aulas 5/6 e 12/6

ARAEEN, Rasheed. “Modernity, Modernism, and Africa’s Place in the History of Art of Our Age”. Third Text, Londres, 19:4, 411-417, 2005.

CLEMENS, Justin. “After After Finitude: An Afterword”, in BRITS, Baylee, GIBSON, Prudence e IRELAND, Amy (Eds.). Aesthetics After Finitude. Melbourne, re.press, 2016.

DEMOS, T.J.. “Politics of Sustainability: Contemporary Art and Ecology”. Introduction to Radical Nature, Catálogo. Londres, Barbican, 2009.

DEMOS, T.J.. “Art after nature”, Artforum, April 2012.

DESCOLA, Philippe. “O Avesso do Visível: Ontologia e Iconologia”. Arte & Ensaios, Revista do PPGAV/EBA/UFRJ, n. 31, junho 2016.

ENWEZOR, Okwi. “Where, What, Who, When: A Few Notes on ‘African’ Conceptualism”, in CAMNITZER, Luis, FARVER, Jane e WEISS, Rachel. “Foreword”, in Global conceptualism: points of origin 1950s-1980s. Nova York, Queens Museum of Art, 1999.

MALIK, Suhail. “Reason to Destroy Contemporary Art”, in COX, Christopher, JASKEY, Jenny e MALIK, Suhail. Realism Materialism Art. Berlim, Sternberg Press, 2015.

OGUIBE, Olu, THOMPSON, Bridget, UGIOMOH, Frank e EKPO, Denis. “An Answer to Rashid Araween’s Open Letter”. Third Text, London, 19:4, 419-426, 2005.

PARISI, Luciana. “Instrumental Reason, Algorithmic Capitalism, and the Incomputable”, in PASQUINELLI, Matteo. (Ed.). Alleys of Your Mind: Augmented Intelligence and Its Traumas. Lüneburg, meson press, s/d.

SILVA, Denise Ferreira da. “Reading Art as Confrontation”. e-flux journal #65, SUPERCOMMUNITY, May-August, 2015.

SILVA, Denise Ferreira da. “1 (vida) ÷ 0 (negritude) = ∞ − ∞ ou ∞ / ∞: sobre a matéria além da equação de valor”. Cadernos Oficina Imaginação Política, 2017.

WILLIAMS-WYNN, Christopher. “From a Postconceptual to an Aporetic Conception of the Contemporary – Everywhen: The Eternal Present in Indigenous Art from Australia”. Third Text – Critical Perspectives on Contemporary Art and Culture, July 2016.

Copyright ©2017 - STI - Todos os direitos reservados

Skip to content