Ricardo Basbaum

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Conceitualismo, pós-conceitualismo e formas de vida (Pós-Graduação 2021/1)

Muito da força das vertentes conceitualistas (em sua derivação e expansão a partir das matrizes conceituais) decorre da investigação de uma dimensão além do sensorial, explorando as camadas de construção da experiência (considerando a centralidade da proposição artística) que se dão, por exemplo, em território “não-retiniano” (Marcel Duchamp) e “não-coclear” (Seth Kim-Cohen): a partir destas referências, a obra de arte seria concebida principalmente a partir de sua dimensão estético-epistemológica, seja em sua dimensão propositivo-discursiva, seja na mobilização de exercícios variados de metamodelização (Guattari) – em geral, a requerer a disponibilidade performativa de agentes ativadores para tornar efetiva a recepção do trabalho. Afinal, haveria como prescindir da interface com o humano, seguindo desdobramentos autônomos? Há que se reconhecer a importância dos eixos de investigação referentes à obra de arte, em seu investimento nas relações com a linguagem, com a produção de conceitos, na configuração de estados de emergência e em atenção com as regiões de mediação e contato.

Iremos buscar, a partir de tais eixos, a convergência dos interesses de produção da obra com questões referentes à produção de formas de vida, ou seja, perceber como se entrelaçam as relações entre os estados viventes (além do orgânico), suas formas e modalidades, e a concepção do “estatuto da obra de arte”, em seus múltiplos caminhos, a partir de um esforço, individual-coletivo, de intervenção em um estado de coisas. As aproximações entre arte e biologia se dariam nos limites de exterioridade de ambos os campos, na região do transdisciplinar, em que o pensamento que problematiza e desnaturaliza a “vida” se torna central para o campo contemporâneo.

Este curso irá articular questões chave de um conceitualismo sensorial com problemas do campo da biologia, de modo a fazer com que a produção da obra e a proposição de formas de vida se tangenciem, a partir de certos eixos, trazidos como pontos de produção de problemas – que, afinal, excedem ambos os campos mas os atravessam, enquanto regiões limite da produção de pensamento. A partir de tal dinâmica, estariam configuradas as linhas de encontro da ação política frente as urgências da atualidade, onde o trabalho de arte é ao mesmo tempo intrusão poética e produção de subjetividade coletiva.

Serão discutidos, de modo aberto, entre outros, os seguintes temas: (1) autopoiese, auto-organização, auto-clausura estrutural, conceitualismo; (2) organismo, ambiente, redes, fluxos e mediações; (3) contágio, contaminação, comunicação, transmissão, afeto; (4) emergência, metamodelização, orgânico, inorgânico, origem da vida; (5) forma humana, inumana, trans-humana, não-naturalismos, próteses, dispositivos; (6) corporalidade, automatismos, sensorialidade.

roteiro do curso

Bloco 1: arte, biologia, informação

aulas 24/3, 31/3 e 7/4

FLUSSER, Vilém. “Arte Viva, in Ficções Filosóficas. São Paulo, EdUSP, 1998.

MEGLHIORATTI, Fernanda Aparecida; EL-HANI, Charbel Niño; CALDEIRA, Ana Maria de Andrade. “O conceito de organismo em uma abordagem hierárquica e sistêmica da biologia”. Revista da Biologia, IB-USP, (2012) 9(2): 7-11.

MELTZER, Eve. Systems We Have Loved: Conceptual Art, Affect, and the Antihumanist Turn. Chicago, University of Chicago Press, 2013. Introdução “Antepartum” e Capítulo 1 “The Dream of the Information World”.

NORVELL, Patricia; ALBERRO, Alexander (Eds.). “Robert Barry, May 30, 1969”, in Recording conceptual art : early interviews with Barry, Huebler, Kaltenbach, LeWitt, Morris, Oppenheim, Siegelaub, Smithson, and Weiner. Berkeley and Los Angeles, University of California Press, 2001.

aulas 14/4 e 21/4

CUSICANQUI, Silvia Rivera. “Un mundo ch’ixi es posible. Memoria, mercado y colonialismo”, in Un mundo ch’ixi es posible. Ensayos desde un presente en crisis. Buenos Aires: Tinta Limón, 2018.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. “Cascatas de Modernidade” in Modernização dos Sentidos. São Paulo, Editora 34, 1998.

RASCH, William; WOLFE, Cary. (Eds.) Observing complexity: systems theory and postmodernity. Minneapolis, University of Minnesota, 2000. Capítulos 6 e 7: “Theory of a Different Order: A Conversation with Katherine Hayles and Niklas Luhmann”; “Making the Cut: The Interplay of Narrative and System, or What Systems Theory Can’t See.

Bloco 2: o que é vida? vivo/não-vivo

aulas 28/4 e 5/5

ALABI, Letícia Paola; SANTOS, Charles Morphy D.. “Elementos para uma filosofia universal da biologia: vida e a origem da ordem”. Amazônia – Revista de Educação em Ciências e Matemática, v.11 (22) Jan-Jun 2015. p.34-45.

FORTERRE, Patrick. “Looking for the most ‘primitive’ organism(s) on Earth today : the state of the art”. Planet. Space Sci., Vol. 43, nºs 1/2, pp. 167-177, 1995.

FORTERRE, Patrick. “Looking for LUCA (the Last Universal Common Ancestor)”. http://www-archbac.u-psud.fr/Meetings/LesTreilles/LesTreilles_e.html

MURPHY, Michael P.; O’NEILL, Luke A. J.. (Orgs.) O que é vida?” 50 anos depois. Especulações sobre o futuro da biologia. São Paulo, Fundação Editora da UNESP, 1997.

PAGLEN, Trevor. “Friends of Space, How Are You All? Have You Eaten Yet? Or, Why Talk to Aliens Even if We Can’t”. London, Afterall Journal 32, 2013.

RUIZ-MIRAZO, Kepa; PERETÓ, Juli; MORENO, Alvaro. “A Universal definition of life: Autonomy and Open-Ended Evolution”, in Origins of Life and Evolution of the Biosphere, 34: 323–346, Kluwer Academic Publishers, 2004.

SAGAN, Carl; SAGAN, Linda Salzman; DRAKE, Frank. “A Message from Earth”. Science, Vol. 175.

Bloco 3: biologia, vida, conceito

aulas 12/5 e 19/5

COCCIA, Emanuel. A Vida das Plantas. Florianópolis, Cultura e Bárbarie, 2018.

NARBY, Jeremy. A Serpente Cósmica: o DNA e as origens do saber. Rio de Janeiro, Dantes, 2018.

NEGARESTANI, Reza. O trabalho do inumano. Coleção Trama, Zazie Edições, 2020.

REED, Patricia. “Synthesis and Constructive Alienation”. Beirut, HomeWorks7, Nov 2013.

REED, Patricia. “What is Care at Planetary Dimensions?. Berlim, Floating University, 2019.

Bloco 4: formas de vida descoloniais

aulas 26/5 e 2/6

ALTMAYER, Guilherme. “Notas para uma curadoria transviada”. Poiésis, Niterói, v. 21, n. 35, p. 17-34, jan./jun. 2020.

BERNARDINO-COSTA, Joaze. GROSFOGUEL, Ramón. “Decolonialidade e perspectiva negra”. Revista Sociedade e Estado. v. 31, n. 1, Janeiro/Abril 2016.

BORGES, Fabiane M.. “Ancestrofuturismo – Cosmogonia Livre – Rituais Faça Você Mesmo (DIY)”.

BRAIDOTTI, Rosi. “Diferença, Diversidade e Subjetividade Nômade”. labrys, estudos feministas, número 1-2, julho/ dezembro 2002.

ESBELL, Jaider. “Makunaima, o meu avô em mim!”. Iluminuras, Porto Alegre, v. 19, n. 46, p. 11-39, jan/jul, 2018.

ESBELL, Jaider. “Ver em camadas o cruzamento dos mundos” (entrevista) IHU On-Line, Nº 527, Ano XVIII, 27/8/2018.

ESBELL, Jaider. “Autodecolonizacão – Uma Pesquisa Pessoal no Além Coletivo”. Disponível em http://www.jaideresbell.com.br/site/2020/08/09/auto-decolonizacao-uma-pesquisa-pessoal-no-alem-coletivo/

FIDELIS, Gaudêncio. “O Museu do Desvio”. Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira. Rio de Janeiro, EAV Parque Lage, 2018.

GONZALEZ, Lélia. “A Categoria Político-Cultural de Amefricanidade”. Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82.

GUATTARI, Félix. “Heterogênese”, in Caosmose – um novo paradigma estético. Rio de Janeiro, Editora 34, 1992.

LUGONES, María. “Rumo a um feminismo descolonial”. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 320, setembro-dezembro/2014.

MALDONADO-TORRES, Nelson. “A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império e colonialidade”. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008: 71-114.

PENNELL, Summer M.. “Queer Transgressive Cultural Capital”, in RODRIGUEZ, Nelson M.; MARTINO, Wayne J.; INGREY, Jennifer C.; BROCKENBROUGH, Edward. (Eds). Critical Concepts in Queer Studies and Education. Nova York, Palgrave Macmillan, 2016.

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